O epidemiologista Pedro Hallal, reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e coordenador da pesquisa sobre prevalência de coronavírus no Rio Grande do Sul, manifestou extrema contrariedade com a decisão do governo do Estado de autorizar a volta dos jogos do Gauchão. Para Hallal, a medida também não respeita as orientações científicas:
— (A volta do Gauchão) é uma péssima decisão, uma decisão não embasada pelos princípios científicos. Retomar os jogos de futebol com a curva na ascendente, que é o caso do Rio Grande do Sul, é um erro. Então, não participei dessa decisão e se tivesse participado teria me colocado contrário.
De acordo com o epidemiologista, a testagem dos times não é suficiente e coloca todos os envolvidos em risco, uma vez que os jogadores circulam por outros ambientes, além do esportivo.
— Vamos colocar, em cada jogo, 30 pais de família em contato físico e um deles pode voltar para casa com coronavírus, passar para familiares e criar toda uma rede de contágio. É uma decisão equivocada. Está bem pensar em Campeonato Brasileiro quando a curva estiver na descendente em todo o país, como a Europa está fazendo. Essa retomada precipitada é um erro muito grave — acrescenta.
Hallal é um dos 53 integrantes do comitê científico formado pelo governo do Estado para apoio ao enfrentamento da pandemia. O epidemiologista desconhece qualquer deliberação do colegiado sobre a retomada de jogos do Gauchão.
O coordenador do grupo, Luís Lamb, diz que o comitê se debruçou sobre o tema e ofereceu um parecer com evidências científicas, mas sem se posicionar de forma favorável ou contrária à volta dos jogos.
— O comitê científico não deu parecer favorável ou contrário sobre a volta do Gauchão. Ele apresentou orientações, esclarece a questão do risco, orienta sobre treinos, instruções de higiene, da questão de não ter plateia, das proteções, de campanhas educativas e do distanciamento que deve ser respeitado nos espaços comuns. O comitê elencou uma lista de orientações — diz Lamb.
Ao anunciar a autorização para volta dos treinos coletivos e dos jogos do Gauchão, nesta quinta-feira (10), o governador Eduardo Leite destacou que os protocolos para retomada dessas atividades passaram por um comitê de especialistas. Leite ainda destacou que as regras sanitárias oferecidas pela Federação Gaúcha de Futebol (FGF) são rígidas para garantir a saúde dos envolvidos.
— Mandamos esses protocolos (da FGF) para serem analisados por um comitê científico de especialistas. Tivemos a resposta desse comitê, com as suas análises, ponderações, pontos que devem ser observados nos protocolos e agora consolidamos a definição — afirmou o governador na quinta.
Ao anunciar a liberação, Leite ainda apelou aos torcedores para que não se aglomerem para assistir aos jogos e afirmou que não se trata de uma volta à normalidade.
Mudança de avaliação do Piratini
Leite mudou de postura sobre o tema em um período de nove dias. Ao ser questionado sobre a possibilidade de volta dos treinos coletivos e de jogos, em 1º de julho, havia afirmado ser contra:
— Estamos passando pelas semanas mais críticas, mais sensíveis. Não pretendemos fazer alteração de protocolo nesta altura do campeonato. Um treino coletivo, evidentemente, compromete a segurança sanitária. Como que a gente explica que milhares de pessoas com empreendimentos, desde a Dona Maria que tem uma pequena loja de R$ 1,99, têm de fechar, mas que um time de futebol pode fazer treinamento?