Se há um setor (quase) impermeável a críticas da dupla Gre-Nal é a zaga. A decisão do Campeonato Gaúcho 2019 passará diretamente pelo desempenho.
No clássico deste domingo (14), no Beira-Rio, do lado visitante estarão Pedro Geromel e Walter Kannemann que, enquanto dupla, jamais perderam para o Inter. Na defesa da casa, Rodrigo Moledo e Víctor Cuesta. Moledo, com seis vitórias em 11 clássicos disputados, é o mais experimentado do quarteto no maior jogo gaúcho. Com a afirmação da zaga colorada, na temporada passada, levantou-se até um debate: qual dupla é a melhor? As finais do Gauchão poderão dar esta resposta momentânea. No Gre-Nal da fase de classificação (vitória gremista por 1 a 0), nenhum deles foi a campo. Enquanto o Grêmio jogou com Paulo Miranda e Marcelo Oliveira, o Inter foi de Roberto e Emerson Santos.
Mas nenhum dos quatro titulares para domingo deverá ter desafios suaves. Os gremistas terão pela frente a dupla Nico e Guerrero, que infernizou a defesa do Palestino. Além de D'Alessandro, o maior conhecedor do clássico dentre os 22 em campo. Já os colorados jogarão contra o resgatado André, o neo-goleador Léo Gomes mais Jean Pyerre — além de Tardelli, que disputa posição com Alisson.
Cada um dos quatro zagueiros tem uma trajetória curiosa na Dupla. O mais antigo deles em solo gaúcho, e com mais clássicos no currículo (oito), o carioca Moledo foi contratado depois de ganhar corridas contra Nilmar quando o Inter enfrentou o pequeno União Rondonópolis, pela Copa do Brasil de 2009. Era chamado de Rodrigão e jogava ao lado do ex-Vasco Odvan. Entre idas e vindas, Moledo conquistou três Gauchões. Vendido ao Metalist, acabou retornando ao clube ao final da temporada 2015, a fim de se recuperar de uma lesão no joelho. Em 2016, chegou a embarcar para a Florida Cup, mas não ganhou espaço na dupla de Paulão e Ernando. Foi embora antes de estrear. Destaque na Grécia, Moledo tornou ao Inter em 2018 e se afirmou ao lado de Cuesta.
No Inter, a dupla Moledo/Cuesta recebeu um desafio extra: ajudar na reconstrução do clube. A estreia no clássico foi daquelas para esquecer: Grêmio 3x0 Inter, na Arena. Mas, desde então, já são três Gre-Nais de invencibilidade para os dois zagueiros colorados.
— A dupla colorada, protegida por Rodrigo Dourado, foi responsável pela sequência de vitórias que colocou o Inter na Libertadores e é o maior trunfo do time para temporada. Se Cuesta enfrentava dificuldades com o jogo predominantemente físico da Série B, voou no Brasileirão do ano passado e encontrou em Rodrigo Modelo um parceiro ideal. Cuesta vai melhor antecipando do que combatendo, enquanto Moledo é do contato físico, do choque. O argentino precisa sempre pensar à frente do atacante para compensar sua recuperação mais lenta, enquanto Moledo já se sente mais confortável enfrentando adversários mais físicos, que jogam de costas e procuram o contato. Reparem que, geralmente, o brasileiro é incumbido de marcar o jogador mais alto e mais forte do ataque adversário — comenta Vinicius Fernandes, analista do Projeto Footure.
— São jogadores fundamentais para um setor de importância vital no time. Geromel e Kannemann já têm um entrosamento mais antigo, algo que Moledo e Cuesta adquiriram no ano passado, e até de forma rápida. Talvez estejamos vendo as duas melhores dupla do Brasil em campo. Um erro ou outro sempre ocorre, ninguém é perfeito. Mas, ainda assim, isto não abala a confiança que os times têm em seus zagueiros — entende o defensor campeão mundial com o Grêmio de 1983 Jorge Baidek.
O paulista Pedro Geromel chegou a ser ironizado quando foi repatriado ao futebol espanhol. Jornalistas consultados referiram que ele havia fracassado no Mallorca-ESP. Para piorar a primeira impressão, Geromel marcou um gol contra logo em seu segundo jogo vestindo azul. Melhor para a torcida gremista, que viu em campo ser erguida uma das maiores zagas de todos os tempos do clube. Depois disso, Geromel conquistou Copa do Brasil, Libertadores, Recopa e Gauchão — além de ter sido convocado por Tite para a Copa da Rússia.
— Kannemann e Geromel são Romeu e Julieta, queijo e goiabada, química e biologia, Pedro e Paulo, são o Garrincha e o Pelé da zaga. São a melhor dupla de meio de defesa da América, quiçá do mundo. Mas mesmo eles precisam de proteção. Quem não precisa? Figueroa, um dos maiores zagueiros da história do futebol de todos os tempos, dizia, sobre o centromédio Caçapava: "Com ele na frente da área eu jogo até os 45 anos". Até Figueroa precisa de um Caçapava. Geromel e Kannemann precisam de um esquema que não os deixe tão expostos. Renato há de consertar isso para o Gre-Nal — atesta o comentarista de GaúchaZH David Coimbra.
— Cuesta e Moledo têm isso no Inter. Não é à toa que o grande D'Alessandro eventualmente está na reserva: está exatamente para dar ao time esse sistema defensivo que protege os zagueiros. Assim, eles podem mostrar suas qualidades. E eles têm qualidades. O Inter se acertou quando Moledo começou a jogar. Antes, era tudo inseguro, tudo incerto. Moledo arrumou a grande área, e o time foi se arrumando a partir daí. Moledo, à sorrelfa, em silêncio, com discrição, é o mais importante jogador do Inter — acrescenta David.
E parte do quarteto de zaga do clássico nasceu na Argentina. de um lado: Kannemann e Cuesta. O gremista, de 28 anos, é de Concepción del Uruguay, na margens do Rio Uruguai. O colorado, natural de La Plata, cidade com larga tradição em copas. Antes de desembarcar na Arena, Kannemann foi adversário. Na Libertadores de 2014, era reserva do San Lorenzo que alijou o Grêmio do torneio e que fez história ao conquistar a primeira Copa do clube argentino. Depois, no Mundial, já titular, marcaria pela primeira vez Cristiano Ronaldo — na derrota por 2 a 0. Pelo Grêmio, ganhou projeção, títulos, e chegou à seleção argentina.
— Kannemann e Geromel, Moledo e Cuesta são os pilares da dupla Gre-Nal. São os jogadores que têm a total confiança do grupo, da comissão técnica e da torcida. São eles os caras que dão a sustentação para Grêmio e Inter — diz o bicampeão da América com o Inter Bolívar, que começou a carreira no Grêmio.
Antecipação e vitórias aéreas são as armas da dupla gremista.
— Geromel é o melhor zagueiro do país há alguns anos. Antecipa, coordena a linha defensiva e tem uma saída de bola limpa. Se nunca foi exímio no jogo aéreo, encontra em Kannemann o suplemento para aquela que talvez seja sua menor qualidade. Dentre todos os zagueiros titulares da dupla, o argentino, justamente o mais baixo de todos, é quem vai melhor nos duelos aéreos, com 76% de vitórias. Kannemann tem uma impulsão notável, além de uma incrível capacidade de se desgarrar da linha defensiva para perseguir um adversário, sendo fundamental em momentos onde a circunstância exige pressão nos atacantes. Quando o Grêmio não tem Michel em boas condições físicas, a dupla fica bastante exposta, e costumo dizer que é a única zaga do Brasil que pode se dar a este luxo sem comprometer o time — corrobora Vinicius Fernandes.
Víctor Cuesta não teve vida fácil em seus primeiros dias de Inter. Se no Grêmio, Geromel e Kannemann encontraram um time em ascensão, no Inter, o argentino chegou na temporada 2017 para uma equipe devastada. Com Léo Ortiz e Paulão como titulares, Cuesta estreou na lateral esquerda. Terminou o jogo contra o Ypiranga na zaga, no lugar de Paulão, e, logo em sua primeira partida, conquistou o seu único título pelo clube até agora: a Recopa Gaúcha.
— Elas estão entre as melhores duplas do Brasil. Geromel e Kannemann estão jogando há mais tempo, já foram campeões e passam tranquilidade para o time todo. Mas o crescimento do Inter passa muito pelo bom entendimento de Moledo e Cuesta. Eles se entrosaram bem, encaixaram com tranquilidade, e o futebol do Cuesta sobretudo cresceu muito com a chegada do Moledo. E tudo isto será visto uma vez mais no Gre-Nal — agrega o ex-zagueiro campeão por Inter e Grêmio Mauro Galvão.
Outro importante nome do futebol gaúcho, e com passagem pela Dupla, o "Capitão América" Adilson Batista entende que Geromel e Kannemann e Moledo e Cuesta são duplas muito parecidas:
— São duas duplas que se completam, unindo técnica e força. Ambas têm características semelhantes. Analisando o processo de construção, entendo que o lado direito do Grêmio e que o lado esquerdo do Inter se destacam mais. E, como duplas, a capacidade de marcação e de enfrentamento do lado direito do Inter e do lado esquerdo do Grêmio são muito fortes. São duas duplas de alto nível.
Apesar de outras peças importantes de lado a lado no clássico, o torcedor da Dupla sabe que uma vitória no Gre-Nal passa por grandes atuações de seus zagueiros.
Surpresa! Eles também erram
É raro ver os quatro zagueiros da Dupla falharem. Mas, na Libertadores, Moledo, Cuesta, Geromel e Kannemann cometeram algumas falhas que geraram gols dos adversários. Confira:
Moledo - No segundo gol do Palestino, foi vencido pelo atacante Passerini, deu as costas para o camisa 9, perdeu a referência da jogada e permitiu que o chileno concluísse a gol.
Cuesta - O Inter vencia o River Plate por 2 a 1 quando Cuesta fez uma falta desnecessária e forte em Suárez, a passos da grande área. De la Cruz cobrou e empatou a partida.
Kannemann - Especialista em bolas aéreas, Kannemann falhou na estreia. Após um cruzamento da direita, Zampedri saltou mais alto do que Kannemann, venceu o conterrâneo e fez o gol do Rosario Central. O Grêmio empataria com Everton.
Geromel - Na derrota em casa para o Libertad, Geromel saiu para cobrir Léo Gomes, levou um drible desconcertante de Cardozo, que cruzou na área, onde Bareiro concluiu sozinho, sem ser acossado por Kannemann.
Histórico em Gre-Nais:
- Com Geromel e Kannemann juntos
23/10/2016 - Grêmio 0x0 Inter (Brasileirão)
4/3/2017 - Grêmio 2x2 Inter (Gauchão)
11/3/2018 - Inter 1x2 Grêmio (Gauchão)
18/3/2018 - Grêmio 3x0 Inter (Gauchão)
12/5/2018 - Grêmio 0x0 Inter (Brasileirão)
- Sem Geromel
21/3/2018 - Inter 2x0 Grêmio (Gauchão)
- Sem Kannemann
9/9/2018 - Inter 1x0 Grêmio (Brasileirão)
- Com Moledo e Cuesta juntos
18/3/2018 - Grêmio 3x0 Inter (Gauchão)
21/3/2018 - Inter 2x0 Grêmio (Gauchão)
12/5/2018 - Grêmio 0x0 Inter (Brasileirão)
9/9/2018 - Inter 1x0 Grêmio (Brasileirão)
- Sem Moledo
11/3/2018 - Inter 1x2 Grêmio (Gauchão)
Rodrigo Moledo, em sua primeira passagem pelo Inter, ainda disputou outros sete Gre-Nais
- 30/1/2011 - Grêmio 2x1 Inter (no Atílio Paiva, em Rivera-URU, pelo Gauchão)
- 4/12/2011 - Inter 1x0 Grêmio (Brasileirão)
- 22/2/2012 - Inter 1x2 Grêmio (Gauchão)
- 29/4/2012 - Inter 2x1 Grêmio (Gauchão)
- 2/12/2012 - Grêmio 0x0 Inter (último Gre-Nal do Olímpico, Brasileirão)
- 3/2/2013 - Inter 2x1 Grêmio (Gauchão)
- 24/2/2013 - Inter 2x1 Grêmio (Moledo marcou o segundo gol do Inter, no Estádio Centenário, Gauchão)