Quinze anos de idade separam Paolo Guerrero de Jean Pyerre. De um lado, o estreante colorado de 35 anos. De outro, a promessa gremista que, aos 20 anos, participará de seu terceiro clássico profissional. O Gre-Nal 419, que começará a decidir o título do Gauchão a partir das 16h deste domingo, no Beira-Rio, será uma espécie de choque de gerações de nomes que despontaram como destaques da semana na Dupla. O Inter aposta em seu novo camisa 9. O Grêmio coloca suas fichas no jovem meia que assume a responsabilidade de substituir Luan.
Curiosamente, Jean Pyerre estreou no clássico justamente no lugar de Luan. Em setembro do ano passado, pelo segundo turno do Brasileirão, o time de Renato Portaluppi perdia por
1 a 0 na casa do rival, quando o técnico sacou do banco o guri da camisa 31 — na versão 2019, Jean Pyerre usa o número 21, idade que terá a partir de 7 de maio. Os 20 minutos em campo não foram suficientes para mudar o rumo do jogo, mas o meia se mostrou ao mundo.
Atrevido, o garoto foi para cima da defesa colorada e arriscou dois chutes insinuantes. Em seu segundo confronto com o Inter, em março, Jean Pyerre começou a partida entre os times reservas. Teve bom desempenho, mas acabou dando lugar a Diego Tardelli. Antes de sair, ajudou o Grêmio a garantir o 1 a 0, que se sustentou até o fim.
Já o experiente atacante colorado conhecerá o peso do Gre-Nal. Depois de disputar os principais clássicos regionais, contra Werder Bremen (pelo Hamburgo), Palmeiras (pelo Corinthians) e Fluminense (pelo Flamengo), chegou a vez de o atacante peruano sentir a rivalidade à moda gaúcha. Contra os maiores rivais, o peruano soma oito gols marcados e 53,3% de aproveitamento. Venceu oito, empatou outras oito e perdeu apenas quatro.
Por Corinthians e por Flamengo, Guerrero esteve frente a frente com o Grêmio em sete oportunidades — quatro pelo Corinthians e três pelo Flamengo. Foram três vitórias, três derrotas e um empate, com três gols marcados (dois pelo Corinthians e um pelo Flamengo). Mas foi expulso em duas partidas, ambas na Arena, local da decisão do Gauchão, no dia 17. Nestas duas oportunidades, o seu time (uma vez o Corinthians, em outra, o Flamengo) acabou derrotado.
Centroavantes veteranos já fizeram sucesso em Gre-Nais. Em 1982, o Inter contou com duas atuações de gala de um 9 de 33 anos: Geraldão. O atacante havia fracassado no Grêmio um ano antes — ainda que a sua estreia tenha sido em Gre-Nal, marcando gol, mas levando a virada do Inter no Beira-Rio.
Naquela temporada de 1982, o Campeonato Gaúcho foi definido em um hexagonal — a Dupla teve a companhia de Esportivo, Novo Hamburgo, São Paulo e Inter-SM. No primeiro Gre-Nal, no Beira-Rio, deu Inter 3 a 1, com três gols de Geraldão. O jogo que encaminharia o título ocorreria somente três semanas depois. No Olímpico, o Inter fez 2 a 0, com gols dele, Geraldão. Esta havia sido a última conquista colorada na antiga casa gremista até 2011, quando o time de Falcão superou na decisão por pênaltis o Grêmio de Renato Portaluppi.
— É muito importante ter um cara experiente em Gre-Nal. Como foi o caso do Geraldão, lá em 1982. Como espero que seja o Guerrero, agora. A vantagem de um centroavante cancheiro é que, quando surge a oportunidade, ele marca. Ainda mais com um jogador de qualidade. Geraldão era um matador, não era um superatleta, mas era um cara muito grande e que tinha um excelente posicionamento na área. O Inter vai crescer muito com um cara como o Guerrero no Gre-Nal — recorda o paraguaio Benitez, goleiro campeão com o Inter naquela temporada.
Mas os novatos também decidem clássico e títulos. O exemplo mais emblemático foi a conquista protagonizada por Ronaldo Assis Moreira. Lançado ao time titular meses antes, Ronaldinho foi para os Gre-Nais finais do Estadual de 1999 diante do Inter de Paulo Autuori e com Dunga no meio-campo. Com as finais em uma melhor de três partidas, o Inter ganhou a primeira por 1 a 0, no Beira-Rio.
O Grêmio, com um gol de Ronaldinho, devolveu o escore no Olímpico. No terceiro clássico, outra vez no Olímpico (devido à melhor campanha), o camisa 10 de 19 anos destruiu o sistema defensivo colorado. Ronaldinho marcou mais um gol e deu dribles desconcertantes no capitão Dunga, então com 36 anos, que se transformaram em vinheta de TV.
— Éramos cria do Grêmio, como o Jean Pyerre agora. Então, Gre-Nal era o jogo da vida para nós desde sempre — recorda o ex-atacante Rodrigo Gral. — Lembro que, antes do segundo jogo, o primeiro das finais no Olímpico, o Ronaldo disse que marcaria um gol de falta. No dia seguinte, marcou mesmo. Depois, na final, o Dunga tentou nos intimidar, para nos tirar do jogo. Isso irritou o Ronaldo, que jogou ainda mais. O novato tem a necessidade de se mostrar em um grande jogo. Mas um Gre-Nal você quer ganhar de todo o jeito.
Rodrigo Gral lembra em detalhes de momentos que antecederam o grande clássico:
— Na madrugada da final de 1999, eu e o Ronaldo ficamos jogando Fifa no Playstation até as 2h. Comemoramos quando conseguimos virar o jogo e, então, Capitão e Goiano bateram à porta, reclamando do barulho, dizendo que era para irmos dormir. Respondemos: "Vão dormir vocês, que são velhos — diverte-se Gral.
Atual gerente de futebol do Operário-MS, o ex-atacante gremista vê em Jean Pyerre uma atitude parecida com a de Ronaldinho de 20 anos atrás:
— O Jean se inspira muito no Ronaldo. Ele tem um toque diferenciado, uma grande qualidade técnica. E, agora, está entrando mais na área, como o Renato pediu. Jean Pyerre é o tipo de talento que a base do Grêmio sempre revelou. Nos últimos anos, retomou com força, com Luan, Everton e, ele, Jean.
Nesse domingo, o clássico 419 marcará uma vez mais um choque de gerações, com astros consagrados e astros em ascensão.