É sempre arriscado apontar um favorito em Gre-Nal. O clássico tem um termômetro próprio, parece que tudo o que foi feito até então não valesse absolutamente nada. O tempo corre de forma diferente quando gremistas e colorados se enfrentam. Eu gosto de dizer que é o único jogo no mundo que muda completamente a cada cinco minutos.
Dentro dessa perspectiva, pensar que o Inter chega melhor porque venceu sete jogos seguidos e o Grêmio é lanterna do seu grupo na Libertadores, é no mínimo temerário. Prefiro pinçar alguns fatores e fundamentos pontuais da Dupla para questionar: afinal, quem leva vantagem tática e técnica para o Gre-Nal 418?
Para isso, recorro a algumas ferramentas já conhecidas do leitor do Esquemão: o Mapa de Influência Ofensiva, onde vemos quais jogadores são mais importantes para os ataques dos times; as Plataformas Táticas e o Mapa de Eficiência Defensiva, para ver onde os times são mais fortes defensivamente.
E, claro, o já tradicional quadro comparativo de fundamentos, para entender melhor como Grêmio e Inter chegam para o primeiro clássico da temporada.
O que dizem os números
O Grêmio é um time que consegue finalizar mais a partir de ataques posicionais, mas é o Inter que pisa mais na área do adversário e cria chances de gol. Mas não adianta muito criar chances e não convertê-las, não é mesmo? Por isso, Grêmio tem a melhor taxa de conversão de chances em gols do Brasil: 48%, contra apenas 18% do Inter.
Se o Colorado consegue ser mais eficiente nas roubadas de bola e nos duelos aéreos, o Tricolor tem a excelente média de sofrer 0.3 gol por jogo na média, enquanto o rival sofre o dobro. O que vemos, tanto ofensiva quanto defensivamente, é que o Inter tem mais volume de jogo, mas o Grêmio é mais eficiente.
Os "números dos ônibus"
Pegando três partidas dos dois times, podemos ter uma ideia de como os treinadores gostam de montar seus times. O Grêmio de Renato joga no 4-2-3-1 (recompondo em duas linhas de 4) há anos, enquanto o Inter de Odair tem mais variações de esquema. Não há julgamento de valor aqui. Bom lembrar que as plataformas são apenas um ponto de partida dos movimentos dos atletas em campo.
No Grêmio, o que tem parecido um pouco diferente ao ano passado, é o fato de um dos volantes ficar mais e o outro sair para o jogo. Antes, os dois volantes jogavam mais alinhados. Contra Brasil-Pel e Rosario Central foi assim. Diante do Libertad, Maicon e Michel fizeram a tradicional "linha de dois" do 4-2-3-1.
O Inter tem variado bastante seus esquemas durante as partidas, utilizando o 4-1-4-1 (Caxias), 4-3-3 (Palestino) e 4-2-3-1 (Alianza Lima). Em todos os casos, faltou profundidade ao time, seja pelo meio ou pelos lados. O Inter de 2019 tem ficado mais em seu campo, para atrair o adversário e encontrar espaço para contra-atacar.
Os influentes
No Grêmio, Marinho ainda segue sendo o jogador mais influente no sistema ofensivo. Sem falar que ele ganhou a confiança de Renato e dos colegas, pois virou o homem da bola parada. Acho pouco provável que Marinho saia do time se estiver fisicamente bem.
Destaque para o jovem Jean Pyerre, como o segundo jogador mais influente do time. Seja como titular ou entrando durante as partidas, ele sempre joga bem: inteligência na leitura do jogo e excelentes passes de ruptura. Outros jovens também se destacam: Pepê, Vizeu, Matheus Henrique e Thonny Anderson.
Está bem claro para o torcedor colorado que Nico López é seu jogador mais importante, ofensivamente. E é também o mais influente. Em segundo lugar, está Neilton, que pede passagem no time titular e certamente terá muitos minutos na temporada. Os "vovôs" D'Alessandro, Sobis e Edenilson também são influentes.
Pottker e Patrick, geralmente contestados pela torcida, têm parte importante na influência ofensiva da equipe e são peças fundamentais no modelo de jogo que levou o time ao terceiro lugar do Brasileirão em 2018 e agora à liderança do seu grupo na Libertadores.
Fortes na defesa
A organização defensiva do Grêmio nas duas partidas da Libertadores não teve uma performance satisfatória. O time de Renato já mostrou mais eficiência no passado e certamente melhorará em breve. No mapa abaixo, vemos como o lado esquerdo é forte nos desarmes e interceptações.
Destaque para o setor onde Marinho frequenta, com alto grau de eficiência. Muito se diz que com ele em campo o time perde eficiência defensiva, mas não é verdade. Até porque Marinho tem hoje a melhor média de acerto nos desarmes no Grêmio, com 77% de aproveitamento.
O Inter perdeu um fator positivo que tinha ano passado: o roubo de bolas perto do gol adversário. Veja no mapa que este ano foram apenas dois desarmes a zona chamada de funil. No geral, foram 52 ações defensivas no último terço.
O destaque é para o setor frequentado por Edenilson, que vem fazendo uma grande temporada e se mostrado como jogador fundamental pro modelo de jogo colorado.
Não há dúvidas que teremos um Gre-Nal pegado e combativo. Sempre é assim, pois ninguém gosta de perder o clássico. Vale a garantia de fazer a final do Gauchão em casa. E também é o primeiro teste do ano entre duas propostas bem diferentes e que se equilibram entre si. Sem dúvidas, será um grande jogo de futebol.
Todos os números são da InStat, plataforma de dados de futebol.