Polêmica durante e depois do primeiro jogo da final do Gauchão entre Grêmio e Brasil de Pelotas, a foto falsa do árbitro Anderson Daronco com a camisa do clube tricolor é uma adulteração grosseira e pode ser produzida por meio de um programa de edição de imagens em menos de cinco minutos. A pedido de GaúchaZH, o professor Roberto Tietzmann, coordenador do grupo de pesquisa ViDiCa Cultura Audiovisual Digital, da Escola de Comunicação, Artes e Design da PUCRS, identificou pelo menos cinco erros grotestos (assista ao vídeo).
A original foi registrada com câmera analógica. Na adulteração, é possível perceber maior contraste, com as cores mais vivas, bem diferente da foto verdadeira, mais esmaecida, típica do registro em filme fotográfico. A camisa do Grêmio que Daronco aparece usando foi copiada do rapaz a seu lado. Evidência mais gritante da falsificação feita às pressas é que não apenas a vestimenta foi copiada, mas também os braços do companheiro. Na foto falsa, o relógio de Daronco, presente no registro original, some. A farsa também é perceptível a partir dos recortes malfeitos na gola e no calção, onde há nuances de amarelo sobre o azul da camiseta.
— Tem vários pontos de diferença que deduram essa edição. Uma fake news, uma fotografia editada é algo bastante presente, hoje, e a gente precisa ter atenção às fontes, porque toda imagem tem uma intenção — avalia o professor.
O termo "Daronco" registrou pico de busca na internet em 1º de abril, dia do jogo, às 17h, quando a bola ainda rolava pelo Gauchão. Entre as pesquisas relacionadas, estiveram as palavras-chave "Daronco com camisa do Grêmio" e "Daronco gremista". As cidades de maior procura foram, pela ordem, Pelotas, Santa Maria, Cruz Alta, Santa Cruz do Sul e Porto Alegre.
Às 22h de segunda-feira (2), houve nova alta de buscas na internet pela definição "Daronco Grêmio". No Facebook, as páginas de uma torcida organizada do Brasil de Pelotas e de um grupo de colorados compartilharam a foto falsa de Daronco, impulsionando o assunto nas redes.
Segundo Tietzmann, a adulteração de imagens nasce junto com a fotografia e foi utilizada, ao longo da história, por governos autoritários para "eliminar" a memória de desafetos. Apesar da importância de Leon Trotsky para a revolução Bolchevique, em 1917, ele "caiu em desgraça" entre 1925 e 1929. Stalin decidiu eliminá-lo dos registros históricos, fazendo com que todos os registros fotográficos onde aparecia ao lado de Lenin fossem alterados. Um exemplo famoso é uma foto original na qual aparecem Lenin e Trotsky em frente ao Bolshoi em Moscou. Após o expurgo de Trotsky, a primeira versão foi retocada, eliminando sua imagem.
— Muita gente começa a utilizar as fotos falsas para provar algum argumento. Esses registros sempre têm uma intenção: fazer uma denúncia falsa, trazer a ideia de prejudicar alguém, revelar algo que supostamente estava escondido, e frequentemente essas imagens têm algum grau de manipulação — avalia o pesquisador.