Jonathan Pinheiro estava virado para o banco de reservas do Grêmio, preparando a substituição de Alisson por Mádson, de costas para o campo. O Inter atacava em velocidade pela esquerda, em um contra-ataque que terminou com um pivô de Roger para Edenilson chutar à esquerda de Marcelo Grohe. No meio da área, o árbitro Jean Pierre Lima mancava, com uma contratura na panturrilha. O quarto árbitro, do alto de seus 31 anos, 11 deles dedicados ao apito, viu aquilo tudo e murmurou:
— Ai!
Começavam ali, aos 18 do segundo tempo, os 40 minutos mais intensos da curta carreira do jovem e promissor árbitro gaúcho. O Gre-Nal estava 2 a 1, o Inter reagia e buscava o empate, os ânimos estavam mais exaltados.
— Entrei em campo, reuni os capitães (D'Alessandro e Maicon) e falei para eles: "Pessoal, preciso da ajuda de vocês. Vocês estão quentes, eu estou frio". Eles disseram que iam me ajudar. Mas não me ajudaram. Contestaram as decisões, reclamaram. Então precisou subir cartão. Tinha de mostrar que ali tinha árbitro. Eles entenderam o recado — contou Jonathan Pinheiro por telefone, enquanto aguardava o começo da aula que ministra em Novo Hamburgo como personal trainer.
Esse Gre-Nal foi o máximo até agora de uma vida iniciada ainda na adolescência. A carência financeira foi o ponto de partida para Jonathan sair assoprando apitos pelo Brasil. Começou comandando interséries no Colégio Senador Alberto Pasqualini, na cidade do Vale do Sinos. Aos 20 anos, virou juiz de "peladas de times amadores de sábado de tarde, aqueles jogos horríveis". Entrou na faculdade de Educação Física da Feevale. E fez o curso de arbitragem da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), é da turma de 2007.
— A comissão de arbitragem da FGF é fundamental para nós, dá o norte para a carreira. São o nosso verdadeiro suporte — elogia o árbitro.
Na vida profissional, seu primeiro jogo no Gauchão foi em 2012, como quarto árbitro de Caxias 2x0 Ypiranga. O juiz foi Leandro Vuaden. Entrou no quadro da CBF e em 2016 fez seu primeiro jogo de Copa do Brasil. Girou o país como adicional, a estreia foi em Atlético-MG x Fluminense, no Horto.
— Essa experiência de adicional me ajudou a entrar tranquilo. E olha que não estava fácil. O Jean fazia uma arbitragem excelente. Não era nem boa, nem correta. Era excelente. Fiquei muito triste pela lesão dele. Mas os auxiliares (Rafael da Silva Alves e Lúcio Flor), o pessoal do vídeo, todos eram muito experientes. O Gre-Nal parece um grande jogo quando se está na arquibancada, na cabine. Mas lá dentro acabou sendo normal. Ser mais ou menos famoso não mudou nada — garante.
Apesar da responsabilidade que assumiu no domingo (foi seu quarto jogo no Gauchão, havia apitado São Luiz x Grêmio, São Paulo-RG x Cruzeiro e Cruzeiro x Avenida), Jonathan Pinheiro diz não estar pronto. Segundo ele, há muito para estudar, aprender, crescer. E, para isso, valoriza a convivência com juízes mais experientes, principalmente Leandro Vuaden;
— Vuaden é meu ídolo máximo. É o cara em que me espelho.
Aos 31 anos, solteiro, sem filhos (tem só a cachorrinha Laica, que vive com sua mãe), Jonathan tem os pés cravados no chão. Evita fazer planos, sonhar com Copa do Mundo, criar expectativa. Quer "viver o dia a dia". No seu caso, alternar entre o apito e as aulas que ministra como personal trainer. Mas sem deixar de tomar providências para o futuro. Depois de concluir o curso de Educação Física, terminou uma pós-graduação em gestão de empresas. E cursou quatro semestres de jornalismo. Pode voltar quando tudo acabar.
— Já pensei em aliar o conhecimento do campo com o que aprendemos na faculdade, de repente ser comentarista de arbitragem — prevê.
Mas isso é para depois. O momento é de seguir aproveitando a chance que recebeu, mesmo em uma situação ruim, e absorver os elogios, mas sem criar falsas ilusões:
— Seguimos trabalhando despercebidos. Isso que é o foco.