Um minuto antes de a bola rolar para o primeiro Gre-Nal de 2014, neste domingo, na Arena, um repórter perguntou a Abel Braga o que ele esperava do clássico. O técnico do Inter sorriu:
- Para mim, se começar zero a zero e terminar zero a zero, está muito bom!
Com gols de Fabrício e Barcos, Grêmio e Inter empatam em 1 a 1 na Arena
O desejo de Abel quase foi atendido. O Gre-Nal começou zero a zero, como todos os Gre-Nais, mas terminou em 1 a 1. Acabou, sim, sendo muito bom para o Inter, porque o Grêmio foi superior na maior parte do jogo. Mas não foi ruim para o Grêmio, porque o Inter saiu na frente e o empate só aconteceu num gol de pênalti.
Até nos esquemas táticos os times estavam equilibrados na noite abafada da Arena. Enderson Moreira armou um cinturão defensivo em frente à zaga do Grêmio. Edinho, Ramiro e Riveros, os três volantes, deram solidez ao meio-campo e permitiram que Zé Roberto, bem aberto na direita, e Luan, bem aberto na esquerda, volta e meia tivessem vantagem sobre seus marcadores. E para consolidar a superioridade gremista, Barcos, com intensa movimentação, parecia em dia inspirado.
Luan, a surpresa do Grêmio, não decepcionou. Ao contrário, tentou o lance pessoal desde o começo da partida e, quando saiu de campo, no segundo tempo, a torcida o aplaudiu. Foi dele, por exemplo, o primeiro chute do jogo, aos 4 minutos, numa bola que passou a metro e meio da trave direita de Muriel. Cinco minutos depois, Fabrício segurou e derrubou Pará dentro da área. O árbitro não marcou pênalti, os jogadores do Grêmio ficaram reclamando e Aránguiz se aproveitou, invadiu a área pela direita, chutou e Marcelo Grohe defendeu.
Aránguiz, aliás, era o destaque do Inter. Correndo de intermediária a intermediária, aparecendo na fronteira da área do Grêmio, distribuindo passes verticais, ele foi o desafogo do meio-campo colorado. Willians, atrás dele, também jogou boa partida, demonstrando vigor e concentração para bloquear as investidas gremistas pelo meio. Rafael Moura, isolado entre os zagueiros, praticamente não tocou na bola, e DAlessandro limitou-se a passes curtos, sem maiores ambições.
A melhor oportunidade de gol do primeiro tempo ocorreu aos 14 minutos: Barcos dominou a bola pela direita dentro da área e, num único corte, livrou-se de dois jogadores do Inter. Quase caminhando, ele aproximou-se do gol, pensou e tentou colocar entre as pernas de Muriel, mas o goleiro foi mais rápido e fez a defesa. Aos 33, Edinho quase marcou, num chute violento da intermediária. Muriel praticou uma defesa clássica, voando na horizontal e espalmando a escanteio.
O Grêmio era melhor e dava a impressão de que logo faria o gol, mas quem fez foi o Inter. Aos 42 minutos, Willians deu um passe em diagonal para Jorge Henrique, que estava marcado por Pará na frente da área. A bola escapou de ambos e caiu no pé de Fabrício, sem marcação, que, ao contrário de Barcos, não tentou colocar: fuzilou o goleiro e estabeleceu o 1 a 0. Era muito mais do que Abel queria.
No segundo tempo, o jogo tornou-se mole, pastoso, como se os jogadores estivessem amassados pelo calor de mais de 30°C, apesar de a noite já estar caindo no Guaíba, do outro lado da estrada que se estica diante da Arena. De atividade mesmo, houve cinco minutos: logo na saída de bola, Aránguiz cruzou da direira, Rafael Moura cabeceou no meio da área e Marcelo Grohe saltou numa defesa plástica, espalmando para escanteio. Aos seis minutos, o Grêmio respondeu com Ramiro chutando de longe. Muriel defendeu, mas soltou para o meio da área. Não havia nenhum atacante para aproveitar a chances. Depois disso, o jogo entrou no ritmo do pesadelo, lento, picado por erros de passes.
Enderson Moreira tentou dar mais dinamismo ao time colocando Maxi e Deretti em lugar de Luan e Ramiro. Deretti ainda conseguiu alguns dribles sobre os zagueiros do Inter, mas Maxi só se enrolou com a bola, colado à linha lateral esquerda. Abel, por sua vez, substituiu Jorge Henrique por Otavinho, que ontem completava 19 anos. Otavinho se assanhou um pouco, mas sem grandes resultados.
A partir dos 25 o Grêmio se reanimou, intensificou a pressão e empurrou o Inter para a sua defesa. Aos 32, a bola ficou pingando na área colorada sem que ninguém conseguisse afastá-la. Paulão, meio perdido na floresta de jogadores, tocou na bola com a mão. O árbitro marcou pênalti. Barcos cobrou e empatou o clássico.
Os dois times ainda se agitaram um tantinho nos minutos restantes, o Inter um pouco mais do que o Grêmio, mas de onde tirar energia atuando sob tamanho calor? O 1 a 1 não ficou ruim. Abel saiu da Arena contente. Afinal, ele queria zero a zero antes do jogo. Enderson também não saiu triste. Afinal, ele não perdeu seu primeiro Gre-Nal. Foram todos aliviados para a noite do verão porto-alegrense, refrescar-se com o sentimento do dever cumprido.
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