Quem chega em Uruguaiana, na fronteira oeste do Rio Grande do Sul, para jogar com a Uruguaianense, sabe que não enfrentará apenas os cinco atletas permitidos no futsal. Há, nas arquibancadas no Ginásio Schmittão, um sexto jogador a rugir em alto e bom som.
Os apaixonados torcedores da Uruguaianense são uma atração à parte. Quem puxa a festa é a Touru, a torcida organizada da equipe, que leva, em média, de 200 a 300 pessoas por jogo.
No último sábado (9), diante do Sercca, pelas quartas de final do Gauchão, não foi diferente. O Ginásio Gilberto Oscar Miranda Schmitt estava perto de atingir a capacidade máxima, com um público estimado pela diretoria em cerca de 1,2 mil pessoas.
O resultado final, de 3 a 3, não era o esperado. Mas, se a Uruguaianense conseguiu virar para 2 a 1 e até alcançar o 3 a 2 durante a partida, muito se deve à vibração do público que, quando começava a emudecer, era novamente estimulado pela batucada da Touru.
Preparação
O "esquenta" da Touru começa horas antes do jogo. Se é à noite, como no caso da partida contra o Sercca, o encontro de torcedores se inicia logo após o meio-dia. Churrasco, cerveja, risada, música e debates sobre futsal. Uma irmandade que se reúne em um bar da Vila Julia, o chamado "QG" — de quartel general — da Touru. As faixas e bandeiras são colocadas no Schmittão um dia antes.
— A Touru é um legado que vem desde 1992, do Gordo Maia (como era conhecido o fundador), de muito agito, de muita entrega em prol do time. A Touru é um sexto jogador, fora de quadra, da Uruguaianense. Ali é paixão. O torcedor de Uruguaiana em si é apaixonado por isso. E nós, da torcida organizada Touru, somos mais ainda. A entrega nossa, fora de quadra, não vai faltar, e isso acho que meio que joga para dentro, que os jogadores não deixam de brigar pela bola nem um minuto — explica o presidente da organizada, o eletricista Kennedy Lopes, 42 anos.
Segundo a atual diretoria, a Touru possui 110 torcedores cadastrados junto ao Ministério Público — medida de segurança exigida pelas autoridades. Contudo, a marca do grupo tem se espalhado. Conforme Kennedy, somente em 2024, mais de 400 camisetas da Touru foram vendidas.
A Touru foi criada aproximadamente dois anos após a fundação da Associação Esportiva Uruguaianense, que ocorreu em 1990. O nome faz alusão ao touro que é o mascote do time. Poucos anos depois, o grupo tornou-se inativo, assim como a associação.
Desde 2016, a Touru voltou a se reunir para acompanhar a equipe que também havia retornado. E não parou mais, reunindo histórias como a de Paulo Leandro Mello Martins, 42 anos, que chegou a vender o fogão de casa para conseguir dinheiro para acompanhar uma partida da Uruguaianense em Parobé, contra o União, em 2016, na decisão da Série Bronze.
— Vendi o fogão porque eu não tinha condições (financeiras). Subimos para a Série Prata, campeões da Bronze. Tivemos um episódio lá que não foi bom para o futsal, uma briga generalizada. Nós tivemos que ir para um posto de gasolina, para, depois, entrar no nosso ônibus e voltar para casa. Foi a maior carreata que teve em Uruguaiana. Quando chegamos, toda a cidade estava nos esperando no trevo. Nunca vou esquecer — lembra Martins, que é dono de uma lancheria atualmente.
A propósito, sobre brigas — assunto que sempre ronda as organizadas — Kennedy garante que são casos isolados e que eventuais confusões não podem ser colocadas na conta do coletivo. De acordo com o presidente, os "brigões" são alertados de que, se o comportamento persistir, não serão mais bem-vindos.
A partida de volta entre Sercca e Uruguaianese está marcada para o próximo sábado (16), às 20h, em Casca. Em número reduzido, a Touru deve se fazer presente, apesar dos 620 quilômetros que separam as duas cidades. O jogo terá transmissão pelo canal de GZH no YouTube e pelo site de Zero Hora.
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