A Seleção Brasileira Feminina de futebol já iniciou a preparação para a disputa dos Jogos Olímpicos. Após a convocação do técnico Arthur Elias, na terça-feira (2), as jogadoras realizam treinamentos na Granja Comary desde quinta-feira (4), e viajam a Paris no dia 17. A estreia ocorre em 25 de julho, contra a Nigéria, em Bourdeaux.
A meta do Brasil, de acordo com o técnico Arthur Elias, é voltar das Olimpíadas com uma medalha. Zero Hora contatou seis especialistas em futebol feminino para perguntar: como chega a Seleção Brasileira para os Jogos Olímpicos? Confira as respostas abaixo.
Amanda Viana, jornalista e comentarista do Canal Goat
O Brasil chega a Paris em meio a um trabalho recente de Arthur Elias, que ainda está no processo de construção de sua equipe. Durante seus 10 meses no cargo, Arthur optou por abrir o leque de jogadoras na Seleção, testando inúmeras atletas.
Essa opção trouxe uma consequência: o coletivo. O entrosamento acabou ficando em segundo plano, dadas as inúmeras mudanças de uma convocação para outra, de um jogo para outro. Dessa forma, os dias de treinamento pré-Olimpíada serão fundamentais para o Brasil aprimorar seu lado coletivo e dar liga entre os setores. Mesmo com isso, a equipe, pelos últimos meses, mostrou que tem ferramentas para competir bastante e buscar avançar de chave em Paris, ainda que a missão não seja fácil.
Amanda Porfirio, jornalista e idealizadora do Fut das Minas
A Seleção Brasileira chega competitiva, mas não favorita. No pouco tempo que teve, o técnico Arthur Elias conseguiu fazer muitos testes e implementar um novo modelo, com um grupo que não se diferencia muito do que foi montado pela Pia Sundhage, mas que teve renovações em diferentes setores. O caminho vai ser difícil, mas nossa Seleção tem qualidade para brigar diante das favoritas e afastar "fantasmas" que restaram da última Copa do Mundo.
Ana Thaís Matos, jornalista e comentarista da Rede Globo
A lista das Olimpíadas de Paris chama atenção, primeiro, pelas jogadoras que o Arthur Elias confia, muitas do Corinthians ou que trabalharam com ele no Corinthians, como é o caso da Tainá, goleira reserva da Lorena. E algumas apostas que fazem com que a gente questione se o Arthur Elias realmente entendeu que vai disputar os Jogos Olímpicos. Porque é um torneio curto, em que o Brasil não está na sede olímpica, tem alguns deslocamentos. E é muito físico, que você tem que ter uma recuperação muito rápida de um jogo para outro, e só de você pensar, a primeira fase, é muito complicada, porque você vai pegar uma seleção africana, que tem um modelo de jogo que já vimos, super físico, intenso. Você tem o Japão, que nós enfrentamos recentemente, e a gente sabe da dificuldade que é lidar com um time que tecnicamente é muito organizado, taticamente muito organizado, e a gente tem a Espanha, que é hoje a melhor seleção do mundo. Então, a vida do Brasil é muito difícil.
O que eu questiono da lista é que, para um torneio de tiro curto, físico e técnico, você tem que ter jogadoras que estejam 100%. E a lista não contempla esse 100% físico, técnico e tático. O Brasil tem algumas lacunas, o que é normal. Nós estamos indo para um terceiro trabalho, de uma terceira comissão técnica diferente. Acredito que estejamos muito melhores para 2027, e passar por essa Olimpíada vai ser importante para o Arthur, para ele entender o contexto de um torneio internacional de alto nível. E a lista, em todos os setores, você pode questionar alguma coisa. Para mim, o grande desafio é como ele vai fazer essa equipe que tem muita cara de Corinthians virar uma equipe com cara de Seleção Brasileira.
Cíntia Barlem, jornalista da Rede Globo
A Seleção Feminina chega com um novo modelo de jogo, uma equipe mais propositiva, que mantém as linhas altas e bem com a característica do Arthur Elias. Justamente por isso, ele levou sete atacantes. Como ele comentou na coletiva, o objetivo é mudar a cara da Seleção Feminina dos últimos torneios mundiais que participou. Em termos de classificação, o rumo vai ser muito de acordo com a primeira fase, porque já é um grupo difícil na largada. Mas eu vejo, sim, o Brasil com possibilidade quem sabe até de chegar numa semifinal. Ressaltando que esta Olimpíada está muito forte. Vemos os Estados Unidos com uma nova cara, mais renovada. Vemos as seleções muito afiadas. A Espanha, atual campeã mundial, está no nosso grupo. Então, espero uma Olimpíada de altíssimo nível.
Vejo as escolhas do Arthur como boas, concordo com diversos nomes na lista. Acho que poderia ter levado uma atacante a menos e colocado um meio-campo mais reforçado, mas entendo essa lista dele porque é condizente com o estilo que ele aplica. A Cristiane, realmente, acho que ficaria complicado levar para um intervalo tão curto de jogos, ela e a Marta. E hoje, eu vejo a Marta num auge físico que não vimos em 2019 e nem em 2023. Tanto que está com o Orlando Pride na disputa pela liderança da NWSL (National Women's Soccer League, a principal competição de futebol feminino dos Estados Unidos), é uma jogadora importantíssima no esquema do clube e foi muito importante nesses dois últimos jogos contra a Jamaica. Ela está com "sangue nos olhos", digamos assim, querendo muito essa medalha. Concordo com essa lista final e acredito que o Brasil tem grandes possibilidades. A primeira fase vai dizer muito porque já vai ser um teste forte.
Rafael Alves, jornalista e idealizador do Planeta Futebol
Hoje, é cedo falar que o Brasil luta por medalha, mas não é pessimismo e nem depreciando a Seleção. Muito pelo contrário, acho que temos uma Seleção competitiva, um excelente treinador, com menos de um ano de trabalho e ainda vamos ver muitas coisas se desenvolvendo. Mas olhando pelo torneio em si, um grupo muito difícil, com muitas seleções que vão brigar por medalha. Acho que o Brasil ainda está num patamar abaixo das principais seleções. Aí me refiro à Espanha, França, que são as favoritas. No entanto, não podemos descartar que um torneio com as variantes que tem: as equipes que disputarem a final vão jogar seis jogos em 16/18 dias. Então, é um espaço muito curto de tempo, tem a questão física envolvida, o tempo de recuperação é muito controlado. Então, pode ser que tenha, sim, alguma reviravolta. Mas hoje ainda é cedo para achar que o Brasil pode brigar por medalha.
Tayna Fiori, jornalista no ge.globo
Acredito que a Seleção Brasileira ainda chega com muitos pontos abaixo para esses Jogos Olímpicos. Tem um grupo difícil, em que erros básicos não podem ser cometidos, diferente do que vemos do Brasil ultimamente. Ainda é um começo de trabalho e não deve ter pressa mesmo, mas acredito que seja difícil a classificação e também a permanência nas outras fases das Olimpíadas. Infelizmente, o Brasil ainda está atrás de muitas outras seleções, entre elas a própria Espanha. Ainda falta enxergar com outros olhos, com mais valorização e mudar algumas chaves.