Hakimi, o lateral marroquino do PSG, é espanhol. De Madrid. Os pais são marroquinos. Ela faxineira, ele vendedor de rua. Aos sete anos de idade, Hakimi foi pro Real Madrid. Jogava muito. Virou adulto, foi renegado, emprestado e girou pela Alemanha, Itália e hoje vive em Paris, como ídolo no mundo Ocidental e Árabe. Mas por que um espanhol optou pelo time dos pais? Ele responde:
— Senti que a seleção espanhola não era o lugar certo para mim, não me sentia em casa. Não era nada em particular, mas não era como eu vivia em casa, que é a cultura árabe.
Hakimi é o resumo da centenária relação, muitas vezes sangrenta, entre Marrocos (e os impérios árabes de antes que fazia parte) e a Península Ibérica. Aprendi isso na Copa.
Holanda é o nome errado do país. Apenas duas províncias na parte oeste recebem esse nome: a Holanda do Norte e a Holanda do Sul. O nome correto do país é Países Baixos, Nederlanden no idioma deles. O que quer dizer terras baixas, exatamente como o território que, parte dele, está abaixo do nível médio do oceano. E eles estão corretos. É como se alguém de fora chamasse o Brasil de São Paulo. Aprendi na Copa.
Estávamos a discutir na Gaúcha, antes de França e Inglaterra, se teríamos uma final repetida e seguida se croatas e franceses chegassem. Aí alguém lembrou de 1986 e 1990: Argentina e Alemanha. Retruquei dizendo que em 1990 já era Alemanha unificada, pois o muro caíra em 1989. Errei de novo. Era a Alemanha Ocidental. Aliás, as Alemanhas — que fizeram um jogo Ocidental versus Oriental na Copa de 1974 — jogaram as eliminatórias para 1990 separadas. Só passou o time de Mathaus, quer seria campeão na Itália. Aí dou de cara com PVC, da Globo, e pergunto sobre nosso papo. Ele soma informações: tem o que a gente pensa e o que a Fifa define. Para ela a Alemanha de hoje é a Ocidental. A Oriental acabou. Por isso ela é tetra. A mesma coisa com algo mais recente no mundo real: a Iugoslávia se dividiu. Quem mantém a tradição, para a Fifa, é a Sérvia. A Croácia de Modric é outro país. Aprendi isso na Copa.