Marquinhos caiu de joelhos após o seu último lance na Copa do Mundo do Catar, que selou a eliminação da Seleção Brasileira nas quartas de final para a Croácia nos pênaltis. Longe do goleiro croata, Livakovic, que caiu para o lado errado na hora da cobrança, a bola do camisa 4 acabou na trave oposta.
Ele não foi o único no dia a perder um pênalti — Rodrygo não marcou para o Brasil, Enzo Fernandez não marcou para a Argentina, Van Dijk e Berghuis não fizeram para a Holanda. E não foram nem os primeiros da Copa do Mundo a desperdiçar penalidades, com a Espanha eliminada sem nenhum gol marcado contra o Marrocos e o Japão fazendo somente um contra a Croácia.
O que pode explicar tantos atletas de alto nível falhando em um dos lances mais treinados do futebol? A resposta pode não estar na ponta do pé, mas no topo da cabeça dos jogadores.
Enquanto há claros méritos de goleiros como Emiliano Martínez e Dominik Livaković que devem ser levados em conta, e questões físicas de cada atleta, que podem influenciar seu desempenho na hora de chutar ao gol, para não falar em azar e sorte, um fator invisível que pode derrotar até o mais talentoso camisa 10 é a pressão psicológica de marcar para salvar sua seleção.
Um estudo conduzido por pesquisadores da Faculdade de Engenharia Elétrica, Matemática e Ciência da Computação da Universidade de Twente, na Holanda, publicado pelo Frontiers, demonstrou que jogadores de futebol que ficam ansiosos com a ideia de bater um pênalti tendem a ter mais atividade no córtex pré-frontal e acabam errando a rede.
O que isso significa? A região em questão é como o centro de decisões do cérebro e ter ele mais ativo indica que tais jogadores estão ativamente pensando nas ações que vão tomar. E por que isso seria ruim? Ora, porque como destacam os pesquisadores, "jogadores experientes devem confiar em suas habilidades automatizadas".
Depois de horas e horas de treinamento e prática, a melhor coisa que um atleta pode fazer em um momento de pressão é agir instintivamente. "Ao ativar mais o córtex temporal esquerdo, jogadores experientes negligenciam suas habilidades automatizadas e começam a pensar demais na situação. Esse aumento pode ser visto como um fator de distração", acrescentam os pesquisadores.
O estudo também ressalta que jogadores de futebol não são os únicos a sofrer com isso. Esse tipo de ansiedade induzida pela pressão já foi relacionada em pesquisas científicas a desempenhos ruins em atletas desde basquete, tênis e golfe até em jogadores de xadrez. Não estar tranquilo em um momento de decisão, afinal, não é uma exceção — mas a regra.
Por isso, não deve ser tão cedo que veremos jogadores do renome de Lionel Messi e Robert Lewandowski perdendo pênaltis por aí.
Como foi feito
O estudo foi feito com 22 participantes, sendo 10 deles mulheres, com idades entre 20 e 25 anos. Dez deles jogavam futebol regularmente, e o restante não tinha nenhuma experiência prévia significativa com o esporte. Os resultados apresentados acima dizem respeito apenas aos jogadores experientes.
Eles usaram um capacete especial na hora de cobrar os pênaltis, que irradia uma luz infravermelha, transportada por fibra óptica, sobre o escalpo, para monitorar a atividade cerebral. Cada um cobrou 15 penalidades, em três condições distintas: uma sem goleiro (pouca pressão), com um goleiro amigável (pressão normal) e com um goleiro competitivo (pressão mais forte).
Para tentar aumentar a pressão, foi oferecida uma recompensa ao melhor goleador na última rodada. Apesar disso, os pesquisadores reconhecem que o experimento não conseguiu nem de perto alcançar o tipo de pressão enfrentado por um jogador profissional em jogos decisivos — ainda mais em um Mundial.