Comecei a semana fazendo algo que é muito comum para os gaúchos: tomando um bom e velho mate amargo. Literalmente, vim de mala e cuia para a Copa do Mundo.
Fim de tarde no Mya Park, com pôr do sol e chimarrão. O lugar é uma mistura de Orla do Guaíba, porque fica próximo ao porto de Doha, e Redenção, com seus gramadinhos gostosos para sentar. Fiquei curiosa para saber se os estrangeiros que me olhavam com o mate na mão conheciam de fato essa bebida tão típica do nosso RS. Me aproximei de uma família de indianos e perguntei:
— Vocês conhecem o chimarrão?
Todos eles disseram que não. E um me devolveu a pergunta:
— O que é isso?
Expliquei que era uma bebida quente, que se parecia com um chá. Eles confirmaram que nunca tinham visto e até demonstraram algum interesse em provar, mas não foi possível. Em tempos de pandemia, o chimarrão se tornou individual. Mesmo assim, mostrei a eles cuia, bomba e erva-mate. E segui adiante, repeti a pergunta para outras quatro pessoas que passavam pelo parque. Nenhum conhecia a melhor bebida do mundo. Difícil de entender, viu? Até que cruzei com duas libanesas e decidi indagar mais uma vez. Para minha surpresa, uma delas afirmou:
— Conheço, claro. É o mate!
E a outra completou:
— Na Síria e no Líbano é muito comum o mate.
Vibrei com aquele momento. Pensei: "Que demais, as gringas conhecem mesmo". Mas fiquei com uma pulga atrás da orelha. Como assim tão prontamente elas identificaram o chimarrão? Será que o meu mate é como o mate delas?
Muito além das fronteiras
Para entender melhor essa história do chimarrão no Oriente Médio, temos que voltar um pouco no tempo. Mais especificamente para o século 19. Em meio aos conflitos instalados na Síria e no Líbano, após a Primeira Guerra Mundial, moradores das duas regiões acabaram migrando para a América do Sul, sobretudo para a Argentina. E, de lá, quando voltaram aos seus países, levaram consigo a erva mate e também o hábito do consumo da bebida.
Foi assim que o mate se popularizou em mais um cantinho desse mundão. Criou novas raízes, conexões, histórias. Novas rodas de prosa, de amigos, de "mateadores". E eu, que tive a pretensão de apresentar e ensinar sobre o chimarrão aos árabes, aprendi que alguns deles já têm esse costume, igualzinho ao nosso, há muito tempo.
Numa simples e rápida conversa com as libanesas, tive mais do que um aprendizado: foi uma troca cultural. Na despedida, as gurias ainda me disseram que gostam muito do Brasil e que estavam torcendo para que nossa Seleção avance fase a fase até a final. Não dividimos o mate, mas compartilhamos da mesma ideia.