O Brasil tem muito do que não se orgulhar enquanto país, e nem é preciso listar muitos itens, a começar pela fome a a desigualdade social. Mas quando o assunto é Seleção Brasileira, muda tudo. O nosso futebol é tão venerado que, em Copa do Mundo, as celebridades não são só os jogadores, mas os torcedores. Qualquer um, e não apenas os organizados, em grupo, que fazem barulho.
Basta ser brasileiro e estar identificado com a camiseta da Seleção na chegada a um estádio. Como o 974, onde o Brasil busca vaga nas quartas de final contra a Coreia do Sul aqui em Doha. Estes aí da foto são Rayan Shaban, 22 anos, e Husam Migaishet , 27. Rayan é mais descolado. Sua diversão antes de acomodar-se no estádio foi abordar brasileiros e tirar selfies com eles. Ele nos trata como celebridades.
— Quero tirar fotos porque torço para o Brasil, ora — responde Rayan com certa surpresa quando lhe pergunto.
Insisto. Ele recém abordara um casal brasileiro que levou um susto quando recebeu o convite para uma selfie. O homem e a mulher não entenderam direito, aliás. Imaginaram que era engano. Depois, Rayan enviou os registros para um grupo de amigos. Na sequência, áudio descrevendo tudo, sorrindo feito criança com doce.
— É que o jeito de vocês torcerem é diferente. Dançam mais, cantam mais, gritam mais. É mais divertido. Os argentinos são assim também, mas a gente prefere os brasileiros — explica Husam, o mais velho.
Então os árabes idolatram não só Neymar, mas os conterrâneos de Neymar. Na cabeça deles, um pedaço enorme do sucesso do nosso futebol está na torcida, que ama, odeia e perdoa para logo em seguida voltar a amar, odiar e perdoar de novo. Curtem nossa incoerência. Husam e Rayan não conseguem criticar ou vaiar a Arábia Saudita, por exemplo. No 974, por um momento eles poderão se soltar um pouco mais, com variações mais loucas de manifestar apoio em relação ao modo apaixonado, sim, mas um tanto repetitivo deles, árabes.
E lá se foi Rayan atrás de mais brasileiros, qualquer um, como se fôssemos todos Neymar ou Vini Jr. Na cabeça dele, de certa maneira, é como somos em um jogo de Copa do Mundo. E aí, sim, dá orgulho de ser brasileiro. Em futebol, o mundo nos vê com evidente admiração.