Passada a euforia pela classificação na fase de grupos, que só terminou quando um temporal lavou Buenos Aires e terminou com a festa no Obelisco nas primeiras horas desta quinta-feira, os argentinos agora se preocupam com a Austrália. O jogo será a reedição de uma partida histórica, ocorrida há 29 anos, que ainda gera casos divertidos, pouco explicados. E que proporcionará ao técnico Graham Arnold um reencontro inesperado.
De suspeita de doping ao "perdão a Maradona", as memórias desta partida preencheram o noticiário esportivo no país que aguarda a recuperação plena de Di María. E até, antes de recordar o passado, explique-se o presente. Di María está com um desgaste muscular e passa por constantes reavaliações para saber se poderá estar em campo no sábado (3). Caso não jogue, Lionel Scaloni pode reforçar o meio-campo com mais um jogador de contenção e tentar liberar Messi definitivamente de qualquer função defensiva.
Mas enquanto o dia da partida não chega, os argentinos trataram de recordar sua partida mais importante contra a Austrália até aqui. Foi a repescagem para a Copa do Mundo de 1994, o último Mundial com 24 participantes. Na época, a Conmebol dava três vagas diretas aos classificados nas Eliminatórias e mais uma para disputar com o campeão da Oceania. A fórmula também era outra: havia dois grupos, e os dois primeiros lugares estavam garantidos na Copa, bem como o melhor vice.
Pois a Argentina, óbvia favorita a um lugar nos EUA, levou o histórico e acachapante 5 a 0 da Colômbia em Buenos Aires e acabou como pior vice entre os dois grupos. Brasil e Colômbia foram os primeiros de suas chaves, e a Bolívia foi a melhor segunda. O Uruguai, que fez até mais pontos do que a Argentina, ficou de fora por ter terminado em terceiro na chave do Brasil.
Por isso mesmo, quando chegou a hora de enfrentar a Austrália, os argentinos baixaram a crista. O técnico Alfio Basile chamou seus líderes e perguntou-lhes se aceitaram Maradona de volta. O craque tinha brigado com outros integrantes do time e ficou de fora das Eliminatórias. O camisa 10 ficou cara a cara com quem havia discutido e depois de "uma conversa de 10 minutos" (recordou o capitão Oscar Ruggeri) estava tudo certo.
Seriam duas partidas. A ida, em Sydney, ocorreu em 31 de outubro. Maradona foi o centro das jogadas ofensivas e deu o passe para Abel Balbo abrir o placar. Vidmar, atacante da Austrália, deixou tudo igual.
Na volta, o Estádio Monumental de Núñez etava lotado para empurrar a seleção rumo à Copa. Depois de um primeiro tempo tenso, Batistuta, aos 14 minutos da segunda etapa, marcou o gol salvador e confirmou a presença na maior compeitição de seleções.
A história poderia terminar aí se o próprio Maradona, em 2011, não tivesse feito algumas revelações surpreendentes. Ele contou que "colocavam algo no café que deixava todos mais velozes". A acusação, na verdade, até hoje é tratada como uma bronca pessoal com o ex-presidente da AFA, Julio Grondona, por sua demissão como técnico após a Copa de 2010. Mas Diego ainda disparou, lembrando que "todos os jogos tiveram antidoping, menos aquele".
Entre os adversários supostamente prejudicados estava Graham Arnold. Ele era um dos atacantes da Austrália, e hoje é o técnico da seleção. Apesar de ter evitado entrar em polêmicas desde então, terá uma chance de ouro. Vinte e nove anos depois, poderá devolver a derrota que tirou seu país da Copa do Mundo.