Os deuses do futebol não cometeriam o desatino de mandar para casa Lionel Messi na primeira fase da Copa do Mundo. Tampouco fariam isso com Robert Lewandowski, apesar do susto. Mas, para os argentinos, isso não seria problema. "Diós", para os Hermanos, é Diego Armando Maradona. E ele não deixaria seu sucessor de fora do Mundial. A vitória da Argentina sobre a Polônia por 2 a 0, nesta quarta-feira (30), garantiu as duas seleções nas oitavas de final.
Mais do que a vaga, "Diós" guiou o caminho dos argentinos no Mundial. Líder da chave, a Argentina terá como adversária nas oitavas a surpreendente Austrália, às 16h de sábado (3). E, se passar, encara o ganhador de Holanda e Estados Unidos. Ou seja, mesmo com o susto da estreia, algo lá em cima está conspirando para que os argentinos possam sonhar. A segunda vaga ficou com a Polônia, que apesar da derrota superou o México no saldo de gols, e enfrentará a atual campeã França, às 12h de domingo (4).
No jogo que valeu a classificação, não foi "la mano de Diós" que garantiu a vitória. Tampouco a qualidade de Mac Allister e Julian Álvarez para marcar os gols. Mas milhares de almas que cantaram o tempo todo no Estádio 974, em Doha. Foram elas que empurraram a equipe. Não tinha como ser diferente.
Desde o início, só dava Argentina no jogo. A primeira boa chegada foi com Messi, aos seis minutos, em chute da entrada da área. Szczesny fez a defesa. Pouco depois, Messi encontrou Di María, que finalizou mal. O camisa 10 teve mais uma chance aos nove e parou, de novo, no goleiro polonês.
O jogo era o seguinte: a Argentina trocava passes perto da área da Polônia, mas os espaços não surgiam. Precisou Molina carregar pela direita e cruzar rasteiro para Julian Álvarez, que foi travado pela defesa aos 27. Na sobra, Acuña chutou forte, à esquerda do gol. Cinco minutos depois, aos 32, Di Maria cobrou escanteio fechado e quase marcou um gol olímpico, mas Szczesny estava atento e fez a defesa.
Em seguida, Mac Allister lançou Álvarez, que bateu para mais uma grande defesa do goleiro polonês. Na sequência, porém, a bola foi cruzada e Szczesny acertou Messi com o braço. O VAR indicou ao árbitro que fosse revisar um possível pênalti. Depois de alguns instantes, o holandês Danny Makkelie apontou para a marca da cal em uma decisão polêmica. Seria "Diós" guiando a Argentina à vitória?
Messi pegou a bola. Aos 38, correu mansamente e bateu firme de perna esquerda, mas não acertou nem tão alto e nem tão o canto. Szczesny levantou o braço e fez a defesa — o segundo pênalti que ele pega na Copa. Parece que as forças do além reservavam outro destino. A pressão seguiu no final do primeiro tempo, mas o paredão polonês não deixou passar nada.
Na volta do intervalo, duas trocas na seleção polonesa: entraram Skoras e Kaminski nas vagas de Swiderski e Frankowski. Era para a Polônia tentar sair da pressão argentina, mas aos 53 segundos Mac Allister, uma aposta do técnico Lionel Scaloni para a partida, aproveitou cruzamento rasteiro de Molina e chutou para marcar o 1 a 0 que garantia a liderança da chave para os hermanos.
Aos 13, Scaloni fez duas trocas: Paredes e Tagliafico nos lugares de Di Maria e Acuña. A Polônia respondeu aos 16, com Szymanski na vaga de Bielik. Dentro de campo, a Argentina seguia melhor e merecia ampliar. O que aconteceu logo depois.
O garoto Enzo Fernández encontrou lindo passe para Julián Álvarez, outro menino, que bateu forte de perna esquerda para fazer 2 a 0, aos 22 minutos. Dois reservas que ganharam a posição para este jogo. Opções de Scaloni — ou seriam indicações de uma força maior?
A Argentina poderia até fazer mais. Messi teve chance e parou em Szczesny. Scaloni mandou a campo o zagueiro Pezzella na vaga de Enzo Fernández e Lautaro Martínez no lugar de Álvarez para reforçar a defesa e ganhar fôlego novo. E o jogo terminou assim: 2 a 0 e classificação dos hermanos.
No fim das contas, com a ajuda dos deuses ou não, o certo é que "o último tango de Messi" não foi nesta quarta-feira. Ainda teremos a oportunidade de assistir ao gênio argentino jogar, dançar, desfilar, como você achar melhor, por pelo menos mais um jogo de Copa do Mundo — agora como o sul-americano que mais atuou em Mundiais, ultrapassando Maradona, com 22 jogos. Mas para superar Dieguito na idolatria dos argentinos, ainda falta muito. Pode começar com a Copa do Catar.
Copa do Mundo (Grupo C) — 3ª rodada — 30/11/2022
POLÔNIA (0)
Szczesny; Cash, Glik, Kiwior e Bereszynski (Jedrzejczyk, 26'/2ºT); Zielinski, Bielik (Szymanski, 16'/2ºT), Krychowiak (Piatek, 37'/2ºT) e Frankowski (Kaminski, int.); Swiderski (Skoras, int.) e Lewandowski. Técnico: Czeslaw Michniewicz
ARGENTINA (2)
Emiliano Martínez; Molina, Romero, Otamendi e Acuña (Tagliafico, 13'/2ºT); De Paul, Mac Allister (Almada, 37'/2ºT), Enzo Fernández (Pezzella, 33'/2ºT) e Messi; Di Maria (Paredes, 13'/2ºT) e Julian Álvarez (Lautaro Martínez, 33'/2ºT). Técnico: Lionel Scaloni
GOLS: Mac Allister (A), aos 53 segundos, e Julián Álvarez (A), aos 21 minutos do 2º tempo.
CARTÕES AMARELOS: Acuña (A) e Krychowiak (P)
PÚBLICO: 44.089 pessoas
ARBITRAGEM: Danny Makkelie, auxiliado por Hessel Steegstra e Jan de Vries. VAR: Pol van Boekel (quarteto holandês)
LOCAL: Estádio 974, em Doha