Será uma surpresa do tamanho de mil Maracanãs se, acabada a Copa do Mundo, a CBF anunciar Jorginho ou Renato Portaluppi como substituto de Tite na Seleção Brasileira. Na Suíça, o improvável virou realidade. Murat Yakin, técnico do próximo adversário do Brasil, saiu sem escalas de um clube da segunda divisão para a equipe nacional. O salto é apenas uma das peculiaridades da carreira do treinador.
Assim como os treinadores de Vasco e Grêmio na Série B deste ano, Yakin tem história com a camisa da seleção de seu país. Foram 49 partidas protegendo a área suíça como um zagueiro vigoroso. O ex-defensor, de 48 anos, foi uma escolha inusitada e passou por aquilo que o substituto de Tite terá de enfrentar.
Ele foi escolhido para ocupar a vaga de um profissional há longo tempo no carga. Vladimir Petkovic ficou por sete anos colhendo resultados convincentes. Na Euro do ano passado, dificultou a vida de duas equipes que empolgam no Catar. Nas oitavas, eliminou a França. Na quartas, perdeu nos pênaltis para a Espanha. A relação terminou de maneira repentina.
Uma proposta tentadora do Bordeaux fez Petkovic voltar ao futebol de clubes em 2021 e um descendente de turcos que estava no Schaffhausen, na segundona suíça, assumiu. Mesmo que não tenha alcançado o acesso, foi o escolhido para a assumir a bronca de comandar a equipe nacional com as Eliminatórias em andamento. Enquanto Brasil e Suíça estiverem em campo nesta segunda-feira (28), Petkovic estará à procura de emprego, após ser demitido em fevereiro deste ano.
Presentes para quem o ajuda
Os meticulosos suíços são conhecidos por diversos aspectos. Produzem queijos saborosos, chocolates cremosos e relógios precisos. O futebol ainda não é uma referência, embora a nação famosa por sua neutralidade seja uma habitué em Copas. Dar o próximo passo está entre as missões do generoso Yakin. Em pouco tempo, colecionou bons resultados, como vitórias sobre Espanha e Portugal na Liga das Nações.
— Não vamos mais à Copa apenas para participar. Queremos fazer história para nossos torcedores e nosso país — explicou em entrevista exclusiva a GZH antes do Mundial.
Além de suas vitórias, a dos adversários também extraem o melhor dele. Na rodada final das Eliminatórias, a Suíça venceu a Bulgária, enquanto a Itália não sai do 0 a 0 com a Irlanda do Norte. O resultado colocou os helvéticos em mais um Mundial. Os jogadores suíços comemoram com muita cerveja e ao rimto da música Sweet Caroline. A dignidade dos norte-irlandeses não passou batida.
Os 90 minutos sem ser vazado pela Itália renderam 9,3 kg do mais nobre chocolate suíço enviados para a Irlanda do Norte. O empacotamento das barras foi publicado em um vídeo nas redes sociais.
Gol que Pelé não fez
Yakin está na lista de nomes que precisa agradecer Pelé por ter errado aquela tentativa de gol do meio de campo contra Tchecoslováquia na Copa de 1970. Ele está entre aquele punhado de jogadores bem menos famosos que marcaram o gol que Pelé não fez. Foi em um jogo pelo Suição lá no começo do século. Da linha do círculo central, ele encobriu o goleiro no jogo do Basel, o seu time contra o Xamax
Há outra conexão dele com o Brasil. Nos tempos de Stuttgart, no fim dos anos 1990, jogou ao lado de Élber. Ali surgiu uma forte amizade. Tanto que Yakin veio a Londrina, cidade natal do ex-centroavante.
— É um país lindo, com diversidade. É muito interessante. Quando criança, sempre admirei a Seleção. Agora também sou fã do país e do seu povo.
Que Yakin não goste tanto do Brasil, ao menos, durante os 90 minutos a serem disputados nesta segunda-feira (28).