Se a Austrália está na Copa do Mundo do Catar foi por conta, literalmente, das mãos de Andrew Redmayne. O goleiro defendeu a cobrança do peruano Alex Valera na decisão por pênaltis dos playoffs classificatórios. Talvez se não tivesse espalmado aquela bola, nesta terça-feira (22), Paolo Guerrero e seus companheiros de Peru estivessem estreando no torneio.
Apesar do heroísmo, ele não será titular na partida contra a França, a partir das 16h, pelo Grupo D. O dono da posição será Mat Ryan, como naquela noite de 13 de junho. Em um lance ousado, o técnico Graham Arnold trocou os goleiros nos instantes finais da prorrogação, após 0 a 0 no tempo normal e no tempo extra.
Por pouco as mãos de Redmayne não estavam produzindo naquele dia um café de alta qualidade ao invés de calçando luvas no Oriente Médio — o jogo foi disputado em Doha. Há seis anos, quando as oportunidades eram minguadas e ele pulava de clube em clube na A-League, o Brasileirão australiano, o goleiro fez um curso de barista. Era um final de carreira pouco glamoroso para quem quase foi jogador do Arsenal na época em que era um jovem promissor.
Jogando pouco, o camisa 12 da Austrália recebeu convite para trabalhar com um amigo dono de uma cafeteria. O goleiro, então com 27 anos, fez um curso de barista e trocaria de profissão para terminar, depois, a formação como professor para dar aulas em uma escola primária — função que pretende exercer quando se aposentar.
Em 2019, dois anos depois de a carreira ganhar uma sobrevida, começou a colecionar defesas de pênalti, agora, sua marca registrada.
— Nos pênaltis, você está vulnerável. Não defendi nenhum pênalti na minha carreira e agora defendi quatro este ano. Não sei o que está acontecendo — comentou à época.
O inusitado é o método utilizado para desconcentrar os batedores. Feito um daqueles bonecos de posto de gasolina, o arqueiro do Sydney FC sacode braços e pernas. Foi essa estratégia que colaborou para que Advincula acertasse o travessão, e o chute de Valera parasse em suas mãos naquele duelo decisivo contra o Peru.
A troca nos instantes finais da prorrogação — também utilizada pela Holanda nas quartas de final da Copa de 2014 — foi mantida em sigilo. Apenas o preparador de goleiros, Arnold, e o próprio goleiro sabiam da possibilidade de a tática ser utilizada.
— Eu não me considero um herói, apenas fiz meu papel como todos meus 27 companheiros fizeram aqui em Doha — minimizou após a classificação.
Redmayne estará no banco de reservas, mas, quem sabe, se a Austrália passar de fase, ele não aparece nos minutos finais da prorrogação para mostrar seus passos de dança desestabilizadores. Seus futuros alunos adorarão ouvir as histórias do professor defensor de pênaltis.