Poucos jornalistas gaúchos cobriram a Copa de 1970. Um desses privilegiados foi João Carlos Belmonte. Com cinco décadas de carreira e passagens por vários veículos, entre eles o Grupo RBS, entre 1984 e 1998, o profissional tinha 26 anos quando viu a Seleção Brasileira encantar o planeta — era repórter da Rádio Guaíba. O Mundial do México foi o seu primeiro. Depois, trabalhou em outros seis: 1974, 1978, 1982, 1986, 1990 e 1994.
— Nas Eliminatórias, com João Saldanha (treinador), o time jogava no esquema 4-2-4. Zagallo assumiu e povoou o meio-campo. A equipe atacava com muitos jogadores. Taticamente, era muito bem armada — ressalta.
Atualmente aposentado, Belmonte, 76 anos, divide-se entre a residência no bairro Menino Deus, em Porto Alegre, e a casa de praia, em Tramandaí, de onde atendeu GaúchaZH por telefone. O jornalista, que será tema de um livro escrito pelo filho Caco Belmonte, foi convidado a falar sobre as características dos 11 titulares de Zagallo: Félix (Fluminense), Carlos Alberto Torres (Santos), Brito (Flamengo), Wilson Piazza (Cruzeiro) e Everaldo (Grêmio); Clodoaldo (Santos), Gerson (São Paulo) e Rivellino (Corinthians); Jairzinho (Botafogo), Pelé (Santos) e Tostão (Cruzeiro).
Confira a opinião de quem viu de perto a melhor seleção de todos os tempos
Félix
"Para os padrões de hoje, não era alto, nem forte, era até bem magro. Tinha excelente colocação e uma boa zaga na frente dele. Se tornou confiável. Na Copa, foi eficiente, mas talvez não esteja entre os cinco melhores goleiros da história da Seleção."
Carlos Alberto
"Um dos melhores laterais de todos os tempos. Inteligente, líder. Era técnico, marcava bem e avançava com facilidade, tanto que marcou um gols gols na final contra a Itália."
Brito
"Zagueiro muito forte, duro, chegava junto. Era bem viril, mas não desleal. Tinha dificuldade para sair jogando. Por isso, o Zagallo recuou o Piazza para a defesa."
Piazza
"Meio-campo no Cruzeiro, Zagallo o recuou para a bola sair mais redonda da defesa. Foi uma transição feita só para a Copa e que deu muito certo. Tinha boa estatura e boa impulsão."
Everaldo
"O preferido de Zagallo e da grande imprensa era Marco Antônio. Mas, na véspera de uma partida importante, ele acabou não jogando, por lesão ou por sentir o peso da Copa. Já Everaldo, destro e bom marcador, não era apoiador como Carlos Alberto, mas também ia bem no apoio, tanto que, quando atuou emprestado ao Juventude, jogou mais adiantado."
Clodoaldo
"Muita marcação. E também sabia atacar com qualidade. Uma demonstração ocorreu na semifinal, contra o Uruguai, quando apareceu como elemento surpresa para marcar o gol de empate. Era um volante de qualidade, que passava bem. Teve um entrosamento muito bom com o Gerson, que na Copa se sacrificou e precisou marcar."
Gerson
"Cabeça pensante, jogador do lançamento longo. Quando a Seleção atacava, ele vinha de trás e se juntava a Jair e Tostão. Dizem que fumava até no intervalo (risos) e gostava de uma conversa. Era muito inteligente. Sem a bola, nesta Copa, teve que ir para o sacrifício. Não só ele, mas também Rivellino e outros tiveram que marcar, se violentaram."
Rivellino
"Do time dos canhotos da Seleção de 1970. Tinha, como se diz no Interior, uma patada de fora da área. Chutava muito forte. Recebia porrada e não caía. Tinha passe longo e habilidade para driblar. No Corinthians e no Fluminense, jogou centralizado, era o dono do meio-campo, na Seleção se adaptou a um posicionamento diferente, mais pelo lado."
Pelé
"Esse não precisa falar, é indescritível como jogador. Qualquer coisa que um jogador precisa fazer, ele fazia. Fisicamente, era muito forte. Fazia coisas que até hoje ninguém mais consegue fazer, chegava a tabelar com a perna do adversário, parava no ar para dominar no peito, marcava gols de todas as formas. Não tem comparação."
Jairzinho
"Unia técnica e força, a melhor combinação para um atacante. Renato Portaluppi tinha isso, mas Jair era ainda mais veloz."
Tostão
"Muita inteligência para jogar. Está na categoria dos craques. Já sabia o que fazer com a bola antes dela chegar. Pensava com vários segundos de vantagem sobre o adversário. Nesta Seleção de 1970, teve de fazer a função de falso centroavante."