A partir desta quarta-feira (17), GaúchaZH começa a publicar reportagens sobre os 50 anos do tricampeonato mundial da Seleção Brasileira. O primeiro passo será relembrar a campanha na Copa de 1970, que foi impecável. O time treinado por Mário Jorge Lobo Zagallo venceu os seis jogos que disputou. Marcou 19 gols e sofreu apenas sete.
A trajetória também ficou marcada pelos lances memoráveis de Pelé que acabaram não virando gols. O chute do meio-campo contra a Tchecoslováquia, o cabeceio que parou no inglês Banks e o drible de corpo sobre o goleiro uruguaio Mazurkiewicz. Confira abaixo um resumo dos jogos da Seleção no Mundial:
Estreia com goleada e chute do meio-campo
O Brasil estreou na Copa do Mundo de 1970 aplicando 4 a 1 na Tchecoslováquia, no Estádio Jalisco, em Guadalajara. Os europeus saíram na frente, mas a Seleção virou com gols de Rivellino, Pelé e Jairzinho (2). O jogo, válido pelo Grupo 3, foi marcado por um dos lances de Pelé que entraram para a história, o chute do meio-campo que encobriu o goleiro Vitkor e, por pouco, não virou um gol antológico.
Contra os ingleses, duelo equilibrado
Em uma tarde ensolarada no Jalisco, em Guadalajara, os dois últimos campeões do mundo se encontraram. Brasil e Inglaterra fizeram um dos grandes duelos daquele Mundial. Em uma partida tão equilibrada quanto bem jogada, a Seleção levou a melhor e venceu por 1 a 0, com gol de Jairzinho. Com o triunfo o Brasil se isolou na liderança do Grupo 3, com 100% de aproveitamento.
As duas equipes chegaram para o duelo embaladas por vitórias na estreia. O Brasil derrotara a Tchecoslováquia por 4 a 1, enquanto a Inglaterra havia batido a Romênia por 1 a 0. Nas tribunas inglesas, comentava-se muito sobre uma suposta fragilidade defensiva da Seleção Brasileira, conhecida por seu estilo mais ofensivo.
Sem poder contar com Gerson, que se lesionou na estreia, o técnico Zagallo promoveu uma mudança na escalação do Brasil. No lugar do meio-campista, entrou Paulo Cézar Caju. A partida foi tomada por muito equilíbrio do começo ao fim.
Milagre de Banks
O duelo também foi marcado pela defesa considerada até hoje a mais difícil da história dos Mundiais. Após cruzamento de Jairzinho, Pelé subiu alto e cabeceou firme, para o chão, como manda o manual. Mas Gordon Banks pulou e se esticou todo para evitar o gol.
Romênia foi a terceira vítima
Em jogo terceira rodada da fase de grupos, o Brasil venceu a Romênia por 3 a 2. Com uma equipe modificada em relação aos jogos iniciais, a Seleção conquistou a vitória graças aos gols de Pelé (2) e Jairzinho no Jalisco, em Guadalajara. Dumitrache e Dembrovschi descontaram para os romenos. Com o resultado, a equipe treinada por Zagallo garantiu a liderança da chave.
Com as duas vitórias conquistadas nas primeiras rodadas, a Seleção Brasileira chegou ao duelo com a Romênia praticamente classificada. Ciente disso, o técnico Zagallo levou a campo uma equipe diferente, poupando Rivellino e Gerson. Entraram Paulo Cézar Caju na ponta esquerda e Fontana no lugar do Canhotinha de Ouro, adiantando Piazza para o meio-campo. Ao longo do segundo tempo, Zagallo aproveitou para promover a estreia de dois jogadores na Copa do Mundo. Aos 15 minutos, o lateral Marco Antônio substituiu Everaldo, e Edu entrou na vaga de Clodoaldo aos 29.
Nas quartas, 4 a 2 no Peru do técnico Didi
Debaixo de sol forte, Brasil e Peru fizeram um duelo sul-americano por vaga nas semifinais da Copa do Mundo de 1970. Com gols de Rivellino, Tostão (2) e Jairzinho, a Seleção venceu por 4 a 2. Os peruanos, treinados por Didi, campeão mundial em 1958 e 1962, descontaram com Gallardo e Cubillas.
O Brasil começou avassalador. Rivellino fez 1 a 0 e Tostão ampliou. Aos 28 minutos, porém, Gallardo descontou: 2 a 1. No segundo tempo, Tostão fez para o Brasil e Cubillas para o Peru. O mesmo Cubillas quase marcou o gol de empate. Ele recebeu na entrada da área, cortou para a esquerda e soltou uma bomba, que passou perto. No entanto, aos 30 minutos, Rivellino fez um lançamento por cima da zaga peruana. Jairzinho ficou livre para driblar Rubiños, tirar do zagueiro e praticamente entrar com bola e tudo no gol, definindo a partida.
Vitória para espantar o fantasma de 1950
Mesmo que muitos jogadores da Seleção de 1970 fossem apenas crianças na histórica derrota para o Uruguai, 20 anos antes, o fantasma do Maracanazo ainda assombrava o Brasil. Por isso, a semifinal da Copa do México teve um ingrediente a mais. Mas, desta vez, o Brasil levou a melhor no clássico sul-americano. Aplicou 3 a 1 e avançou à decisão.
Com bola rolando, a Celeste saiu na frente com gol de Cubillas, aos 19 minutos. A Seleção Brasileira conseguiu buscar o empate no fim do primeiro tempo, com o volante Clodoaldo aparecendo como elemento surpresa na área do adversário. Na segunda etapa, com gols de Jairzinho e Rivellino, o Brasil fechou o placar em 3 a 1, garantindo a classificação para a final da Copa do Mundo.
O drible mágico
O duelo contra o Uruguai também foi marcado por um drible histórico de Pelé. Lançado por Tostão, o Rei ficou frente a frente com o goleiro Ladislao Mazurkiewicz e, devido a uma finta de corpo surpreendente, a bola correu por um lado do uruguaio, enquanto Pelé saiu pelo outro. Foi o drible que no Rio Grande do Sul chama-se de meia-lua e que em outras regiões do país denominam de drible da vaca, mas sem o toque na bola, apenas com a ginga do corpo. Logo após, o camisa 10 finalizou e a bola saiu rente ao poste.
— Foi algo incrível! Se a bola entra, o estádio vinha abaixo — diz o jornalista mexicano Teodoro Cano.
Anos depois, Mazurkiewicz — morto em 2013 — falou com bom humor do lance:
— Pelé fez uma jogada excepcional, mas não foi gol, e é isso que eu sempre quis na minha vida, que não marcassem gol em mim.
Coroação com goleada na final
Pela primeira vez em uma final de Copa, dois campeões mundiais se enfrentariam. A Itália, que ganhou em 1934 e 1938, enfrentaria o Brasil, vencedor em 1958 e 1962. Em jogo, além da glória em terras mexicanas, a posse definitiva da taça Jules Rimet, que seria destinada ao primeiro tricampeão. O placar de 4 a 1 mostrou a superioridade da nossa Seleção e coroou a campanha de um time brilhante.
A decisão ocorreu no dia 21 de junho de 1970, no Estádio Azteca, na Cidade do México. O Brasil entrou em campo com a clássica escalação, que ficou eternizada na história do futebol: Félix (Fluminense), Carlos Alberto Torres (Santos), Brito (Flamengo), Wilson Piazza (Cruzeiro) e Everaldo (Grêmio); Clodoaldo (Santos), Gérson (São Paulo) e Rivellino (Corinthians); Jairzinho (Botafogo), Pelé (Santos) e Tostão (Cruzeiro).
A Seleção abriu o placar aos 18 minutos, quando Rivellino mandou para a área e Pelé marcou de cabeça. Porém, ainda na etapa inicial, aos 37, Clodoaldo errou na saída de bola e os italianos empataram com Roberto Bonisegna.
Mas, na etapa final, os comandados de Zagallo tiveram uma exibição de gala. Com excelente preparo físico, a Seleção mais uma vez definiu o jogo no segundo tempo, como havia ocorrido em três das cinco partidas anteriores do Mundial. Aos 20 minutos, Gerson soltou a canhotinha e colocou o Brasil em vantagem. Seis minutos depois, Gerson fez lindo lançamento para Pelé. O Rei escorou e Jairzinho fez o sétimo gol dele no Mundial. O Furacão marcou em todas as partidas da Copa.
Para finalizar a campanha impecável de um time extraordinário, aos 43, após linda trama coletiva, Pelé rolou para Carlos Alberto Torres fuzilar os italianos: 4 a 1. Com o apito final, festa e invasão do gramado. A taça do mundo, definitivamente, era nossa.
A trajetória
6 jogos
6 vitórias
19 gols marcados
7 gols sofridos
100% de aproveitamento
As partidas
- Brasil 4 x 1 Tchecoslováquia (Jalisco - Guadalajara)
- Brasil 1 x 0 Inglaterra (Jalisco - Guadalajara)
- Brasil 3 x 2 Romênia (Jalisco - Guadalajara)
- Brasil 4 x 2 Peru (Jalisco - Guadalajara)
- Brasil 3 x 1 Uruguai (Jalisco - Guadalajara)
- Brasil 4 x 1 Itália (Azteca - Cidade do México)
Atuaram em todos dos jogos
- Tostão
- Pelé
- Félix
- Carlos Alberto Torres
- Britto
- Piazza
- Clodoaldo
- Jairzinho
Públicos dos jogos da Seleção
- Tchecoslováquia - 52.897
- Inglaterra - 66.843
- Romênia - 50.804
- Peru - 54.233
- Uruguai - 51.261
- Itália - 107.412 (maior público da Copa)
Artilharia do Brasil
1) Jairzinho - 7 gols
2) Pelé - 4 gols
3) Rivellino - 3 gols
4) Tostão - 2 gols
5) Carlos Alberto - 1 gol
6) Clodoaldo - 1 gol
7) Gerson - 1 gol
Fontes e números: CBF e Marcos Bertoncello