A final da Copa do Mundo entre França e Croácia tem muito mais do que o envolvimento de duas seleções em um jogo de futebol. Carrega, do lado francês, forte influência da colonização do continente africano. Do lado croata, marcas históricas da dissolução da Iugoslávia nos anos 1990.
As seleções, que se enfrentam 20 anos depois da semifinal na Copa do Mundo de 1998, são formadas por atletas com fortes identidades culturais e talentos esportivos disseminados pela Europa.
GaúchaZH conta as histórias de três jogadores de cada seleção que estarão frente a frente no próximo domingo, em Moscou.
O lado croata
Sime Vrsaljko
O lateral-direito não viveu toda a batalha política que resultou na independência da Croácia diante da Iugoslávia em 1991. Nasceu no ano seguinte na cidade de Rijeka, já no território croata.
Ele começou a jogar no Zadar, mas foi ainda na base para o Dínamo Zagreb, clube da capital croata em que virou profissional. Também passou por um período de empréstimo no Lokomotiva. Ficou três anos na Itália, com passagens por Genoa e Sassuolo. Em 2016, foi contratado pelo Atlético de Madrid. Assim como boa parte de sua seleção, virou um jogador constante em um grande centro do futebol europeu.
Luka Modric
Modric já é um jogador experiente. Nasceu em Zadar em 1985, ainda na Iugoslávia. Seu pai, Stipe, é aeromecânico. Sua família virou refugiada durante a Guerra da Independência Croata. Eles tiveram a casa derrubada e moraram em um hotel por sete anos. O clima caótico foi responsável pela entrada do pai de Modric no exército croata e na morte do seu avô por forças sérvias.
O pequeno Luka via no futebol um escape durante a infância. Jogou no time da sua cidade e foi para o Dínamo Zagreb ainda na base, exatamente no mesmo caminho da formação de Vrsaljko. Virou profissional em 2003. No início da carreira, foi emprestado a Zrinjski e Inter Zapresic, ambos da Croácia.
A primeira oportunidade em um grande centro surgiu em 2008, quando foi vendido para o Tottenham. Foram quatro anos de destaque no futebol inglês. Em 2012, foi para o Real Madrid por 34 milhões de euros.
No Real, exerce o mesmo papel que faz na seleção croata: o cérebro do meio-campo. A classe rendeu o prêmio de melhor jogador do Mundial de Clubes do ano passado, quando o Real foi campeão ao vencer o Grêmio na decisão.
Ivan Rakitic
A guerra também gerou forte influência na vida da família Rakitic. O pai de Ivan nasceu na cidade de Sikirevci — hoje, território da Croácia. O lado materno da família é originário de Zepce, na atual Bósnia e Herzegovina. Na época, ambos os territórios pertenciam à Iugoslávia. Prevendo os fortes impactos da guerra que viria, a família decidiu se mudar para a Suíça no fim dos anos 1980. Por isso, Ivan Rakitic nasceu e cresceu na cidade de Rheinfelden, na Suíça. Apesar de jogar pela seleção local, nunca morou de fato na Croácia.
Começou a jogar com quatro anos no Möhlin-Riburg e logo foi descoberto pelo Basel. Virou profissional com 17 anos. Com 19, recebeu a chance de jogar o Campeonato Alemão pelo Schalke 04. Ainda passou pelo Sevilla em um período de adaptação na Espanha antes de chegar ao Barcelona, em 2014, por 18 milhões de euros.
A decisão por defender a Croácia não foi tão simples. Ele chegou a jogar pelas seleções sub-17, sub-19 e sub-21 da Suíça. Só aceitou jogar pelo país do pai em 2007, quando recebeu uma ligação de Slaven Bilic — na época, técnico da seleção principal da Croácia. Entrou em campo pela Croácia nas Eliminatórias da Euro de 2008 e, assim, não poderia mais mudar de ideia. A decisão deu resultado. Aos 30 anos, terá a oportunidade de jogar uma final de Copa do Mundo.