Após a seleção da Rússia eliminar a Espanha nos pênaltis no último domingo (1) e garantir a vaga nas quartas de final da Copa do Mundo, o lateral-direito Mário Fernandes desabafou e se mostrou grato ao Grêmio, clube que o lançou, e a Celso Roth, treinador que o transformou em lateral-direito:
– O Grêmio foi muito bom pra mim. Têm muitas pessoas que me ajudaram muito. O (técnico Paulo) Autuori foi quem me colocou para jogar pelas primeiras vezes, então tenho um carinho grande por ele. Mas tem um treinador que foi muito importante para mim que foi o Celso Roth. Foi ele que me efetivou na lateral e me disse: "Você vai jogar ali". Sou grato a ele por isso e ele tem grande parcela neste momento também.
Em entrevista ao GaúchaZH, Celso Roth falou sobre como recebeu a declaração do jogador com quem trabalhou em duas passagens pelo Grêmio, em 2009 e 2011, e comentou sobre a sua relação com o lateral brasileiro naturalizado russo.
Em entrevista após a vitória nos pênaltis da Rússia, Mário Fernandes disse ser muito grato a você, além de ressaltar que tu tens grande parcela neste bom momento dele. Como você recebeu essa declaração?
O reconhecimento, muitas vezes, vale mais do que um título. O reconhecimento público, então, é melhor ainda. Normalmente, só recebemos o reconhecimento dos jogadores com quem a gente eventualmente trabalhou, mas de uma forma bem pessoal e particular. Os jogadores não podem também estar conversando abertamente sobre isso porque estão em atividade. O caso do Mário é excepcional, porque ele está longe, está defendendo um outro país, então ele se sentiu à vontade. Claro, que é sempre muito bom receber um reconhecimento desses.
Como foi a formação do jogador? Como foi que você teve a percepção de colocar o Mário Fernandes a jogar na lateral direita?
Mário jogou uma Copa São Paulo de Juniores pelo São Caetano e atuou no esquema de três zagueiros. Ele se destacou, fez um ótimo campeonato. Chegou ao Grêmio por meio de vídeos e informações, e nós demos o ok. Veio para ser uma alternativa nas categorias de base. Mesmo que nós tenhamos indicado a vinda dele para o departamento amador, ele teve a felicidade de se apresentar no profissional e de ficar conosco. Pela qualidade que apresentou, acabou ficando. Eu saí do Grêmio, e o Paulo Autuori assumiu no meu lugar. Quando eu voltei, o Mário já estava na equipe principal, mas sem posição definida dentro de um esquema de trabalho. Quando cheguei, eu defini para ele: "Olha, tu vai ser lateral-direito". Ele passou a jogar nessa posição e foi considerado um dos melhores laterais do Campeonato Brasileiro daquele ano (2011). Depois, acabou indo para a Rússia, para Moscou, onde está até hoje.
Mario Fernandes fez a coisa certa indo pra Rússia e se naturalizando por lá?
Ele chegou a ter oportunidades na Seleção Brasileira, mas foram poucas. Não teve uma sequência muito grande. Tudo indica que sim, que a alternativa dele foi boa. Está lá, jogando, é muito bem considerado, está se destacando, e a Rússia está fazendo uma campanha muito boa. Até o momento, ele está dentro das expectativas, e o momento está mostrando que ele fez uma boa escolha.
Se o Mário não tivesse se naturalizado, ele teria vaga no grupo do Tite?
Aqui no Brasil tudo é mais concorrido em termos de futebol. Provavelmente sim, pela sua qualidade, ele estaria dentro de uma situação de Seleção Brasileira. Mas a escolha que a gente faz não é tão simples assim. Naquele momento, surgiu a oportunidade do Mário sair do país, tanto para ele quanto para o Grêmio, foi um bom negócio. As pessoas se adaptam, e ele teve a felicidade de se adaptar a um país tão distante e rico ao mesmo tempo, como é a Rússia. Está fazendo a sua história.
Na sua opinião, Mário é um jogador maior do que o mercado russo, que poderia estar em um clube da primeira linha do futebol europeu?
Não tenho dúvida. Acho que o Mário tem qualidade para isso. Mas a gente não faz ideia da realidade de como as coisas acontecem. Às vezes, as pessoas se sentem tão bem em um determinado lugar que fazem a opção de ficar no clube, ainda mais em um país que o acolhe tão bem como fez a Rússia. Essa situação de jogar em determinado mercado, se é considerado isso ou aquilo, é relativo, às vezes. A opção pessoal é muito importante nesse momento também.
Como você avalia a participação de Mário na Copa?
Está muito bem, ele e a Rússia. Estão surpreendendo muita gente. Tem um jogo importante contra a Croácia, mas acho que a seleção russa tem boas chances de chegar às semifinais.
Você ainda mantém contato com ele?
Não converso diretamente com o Mário faz muito tempo. Recebi esses dias uma mensagem dele, mas conversamos raramente. As coisas são assim, pois vivemos em realidades diferentes.