Mário Fernandes trocou as noitadas de Porto Alegre por uma vida discreta em Moscou. Mesmo sem dominar o idioma local, o lateral de 27 anos que joga pelo CSKA se encantou pela capital russa, onde vive há seis anos em uma região arborizada e isolada do centro. Raramente, sai de casa, exceto para treinar, jantar com os amigos ou assistir a jogos de hóquei.
Pouco apegado ao luxo, não tem o hábito de gastar. Não usa relógio, possui a mesma camionete Hyundai desde 2012, quando chegou ao clube, e costuma guardar boa parte do dinheiro que ganha. Além disso, frequenta uma igreja, marca do seu novo estilo de vida no leste europeu.
— Ele é um guri feliz. Tem uma vida segura e tranquila. É um jovem que não gasta e guarda (dinheiro). E ele não quer sair (da Rússia). O que apavorava o Mário antes eram coisas novas. Mas, quando ele gosta de um lugar, ele fica. Hoje, a segunda casa dele é Moscou. Ele já recebeu propostas de clubes importantíssimos da Europa e sequer quis levar adiante — revela Jorge Machado, seu empresário.
Uma das pessoas que mais convive com Mário Fernandes em Moscou é o seu tradutor, o gerente de relações internacionais do CSKA, Maxsim Golovlev, que fala português fluentemente.
— Acompanho o Mário desde que ele botou os pés aqui na Rússia. Eu que fui buscá-lo no aeroporto (em 2012), Desde então, trabalhamos juntos. Traduzo para ele todas as palestras e reuniões, tudo o que o treinador fala para ele. Posso falar que nunca conheci ninguém melhor do que ele como pessoa. É muito trabalhador, nunca reclama de cansaço e está sempre feliz. Para ele, futebol é tudo — disse Golovlev a GaúchaZH.
O melhor amigo é brasileiro
Entre os melhores amigos do lateral no CSKA estão o goleiro e capitão Igor Afinfeev e a dupla de zagueiros gêmeos Alexey e Vasily Beresutskiy. No clube, a grande relação de afinidade é com o outro brasileiro, o atacante Vitinho, que atuou no Inter em 2015 e em 2016.
— Eles são muito amigos. O Mário deu muito carinho para o Vitinho quando ele chegou à Rússia — conta Machado.
O melhor amigo em Moscou, no entanto, é Justino, parceiro desde os tempos de São Caetano do Sul. Ele mora junto com o lateral e é quem dirige para o atleta. Deco, outro amigo dos tempos de ABC paulista, também visita o jogador com frequência. Ao longo da temporada, no entanto, a mãe Marisa e a irmã Débora viajam seguidamente para a capital russa e se revezam para fazer companhia ao lateral.
A vida de Mário Fernandes na Rússia é marcada pela discrição. Se em Porto Alegre o jogador abusava das noitadas — conforme o próprio atleta confessou após a vitória russa sobre a Arábia Saudita, na abertura da Copa do Mundo —, em Moscou, o lateral pouco sai de casa e se destaca pela dedicação nos treinamentos.
— Ele sempre chega bastante cedo. Uma hora antes do treino, ele já está na musculação fazendo o seu trabalho. E, depois que vai para o campo, volta para a musculação. Ele vive treinando, aí treina e vai para casa dormir. Nunca vi o Mário sair à noite. Ele não sai. É bem caseiro mesmo, bem tranquilo e muito responsável — conta Golovlev.
Conquista da torcida
Além dos companheiros de CSKA, Mário Fernandes conquistou também a torcida e a imprensa locais.
— Ele é muito elogiado pela imprensa, todos gostam dele, pois nunca baixa a qualidade do seu jogo. É um dos melhores jogadores do CSKA, não tem problemas extracampo e é um jogador discreto fora do campo, não aparece nas redes sociais e não sai a bares e boates. Os russos apreciam isso — relata a jornalista Julia Yakovleva, do diário Sport-Express, um dos principais jornais esportivos russos.
Quando o nome de Mário Fernandes é anunciado no autofalante da Arena CSKA, a torcida costuma ir à loucura.
— Ele é sempre muito aplaudido pela torcida. Os russos gostam bastante dele — completa Fábio Aleixo, correspondente da Folha de São Paulo em Moscou.
Gosto pelo hóquei
Um hobby do jogador em Moscou é o hóquei, um dos esportes mais populares da Rússia. Na modalidade, costuma assistir a partidas do time do CSKA.
— Ele acha o hóquei engraçado porque é bem diferente do futebol. Perguntei se ele poderia jogar, mas ele nem sabe colocar os patins. Nunca patinou. Mas gosta bastante, porque o jogo é dinâmico e tem velocidade — completa Golovlev.
Na capital russa, Mário mora em um local pacato e silencioso, perto do centro de treinamentos do CSKA, no distrito de Vatutinki, 40 quilômetros ao sudoeste do centro de Moscou. No local, visitado pela reportagem de GaúchaZH, praticamente não há edifícios, apenas belas casas escondidas pelas inúmeras árvores que tornam a região bastante verde. Além disso, predomina o silêncio. Na maior parte do tempo, ouve-se apenas o barulho dos pássaros.
Ao perceber que a reportagem buscava informações sobre Mário Fernandes, um torcedor do CSKA aproveitou para manifestar a sua admiração pelo atleta.
— Nós o adoramos. Chamamos ele de "Super Mário". Até mesmo os torcedores rivais o respeitam. Quando os outros brasileiros com cidadania russa foram convocados, o Guilherme (goleiro do Lokomotiv) e o Joãozinho (lateral do Krasnodar), as pessoas não gostaram muito. Mas com o Mário foi diferente. Todo mundo na Rússia apoiou — disse o fã Razin Makhnudov.
Esse tipo de demonstração, nas ruas e nos estádios, cativa o atleta, que tem contrato com o CSKA até 2022. A paixão por Moscou é tamanha que o lateral cogita encerrar a sua carreira no clube russo, conforme revela Jorge Machado.
— O carinho do povo russo encantou o Mário.