Para a maioria dos brasileiros, o zagueiro paulista Carlos Santos de Jesus é um atleta anônimo. Desconhecido assim como grande parte do elenco croata que entrará em campo, no próximo domingo (15), na inédita final de Copa do Mundo contra a França. Aos olhos do torcedor, a equipe de Zlatko Dalic é praticamente uma incógnita. Mas para Carlos, não. O defensor já atuou com a maioria dos atletas que estarão na decisão, entre eles, dois dos maiores nomes do futebol da Croácia na atualidade: Luka Modric e Mario Mandzukic.
— Eu cheguei na Croácia em 2006, era eu e mais quatro brasileiros. Lá já tinha toda essa galera que tá voando na Copa do Mundo agora: Luka Modric, Lovren, Corluka,Vrsaljko, Pivaric, Mandzukic, Badelj, Kovacic. Nossa, uma galera boa — contou saudoso em entrevista a GaúchaZH, nesta sexta-feira (13).
O zagueiro de 33 anos foi revelado pelo Santos em 1998, chegou a atuar no São Paulo por três anos e, em 2006, foi vendido para o Dínamo Zagreb. Foi lá, na Croácia, que o brasileiro estabeleceu sua carreira e parte de sua vida.
Carlos é casado com a pedagoga gaúcha Débora Russo há 10 anos e tem dois filhos: o croata Iury Russo de Jesus, de 9 anos, e a pequena tailandesa Isabely Russo de Jesus, de 11 meses. Ambos frutos das andanças futebolísticas do casal pelo mundo. Atualmente, o zagueiro está desempregado. Seu último clube foi o Ratchaburi, da Tailândia, cujo contrato encerrou no final do ano passado. Em Porto Alegre, Carlos se recupera de cirurgia no joelho.
— Nós nos dividimos. Quando estou de férias, ficamos entre São Paulo e Porto Alegre. Agora, com a recuperação, estamos por aqui trabalhando forte com o Dr. Guilherme Caputo (do Inter). Pretendo voltar em janeiro — projeta o jogador.
No Dínamo de Zagreb, atuou por cinco anos. Lá, além do croata fluente, também se naturalizou. Coincidência que nos faz lembrar, inclusive, de outro brasileiro: Eduardo da Silva. O atacante, um dos maiores ídolos da seleção croata, foi essencial para a adaptação de Carlos no clube.
— Quando cheguei lá, eu achei que ia ser mais complicado. Mas o pessoal foi bem receptivo, inclusive o Modric. Ele tinha chegado um pouquinho antes no Dínamo. Mas a gente tinha o problema da língua né. Eu não falava inglês, não falava croata. Eles só falavam croata. A minha sorte é que nós eramos em cinco brasileiros e tinha o Eduardo da Silva. Ele era o único que falava croata e também já era naturalizado. Foi ele que nos ajudou muito. Ele foi peça principal para nos manter lá bem — revelou.
Sobre a grande campanha da Croácia na Copa da Rússia, o zagueiro não ficou surpreendido. Segundo ele, já apostava que o time de Dalic fosse ir longe na competição.
— Por incrível que pareça, eu sempre falei que esperava Brasil e Croácia na final. Infelizmente o Brasil não chegou, mas eu sempre apostei na Croácia porque já vinham apresentando uma grande evolução. Eu morei lá cinco anos, acompanhei muito. É uma escola alemã e pelo fato de ser um país muito pequeno, revelaram muitos jogadores nos últimos anos — finalizou.
No bate-papo de quase duas horas, no bairro Cristo Redentor, na Capital, Carlos contou algumas curiosidades das duas maiores estrelas da seleção croata:
Mario Mandzukic
— Ele chegou meia temporada depois que eu. E assim, ele sempre foi um cara muito trabalhador. Não tinha habilidade, mas supria isso com trabalho. Dentro de campo ele lutava mesmo, como faz na Juve e fez no Bayern. É um jogador que gosta de correr, que gosta de brigar por causa da bola. A gente também esperava dele. Ele chegou e em meia temporada de Dínamo já tava toda Europa falando dele. Porque foi uma excelente meia temporada mesmo, apesar de a gente ter uma rixa. Eu e ele (risos). Eu sou zagueiro e ele atacante, daí nos treino sempre tinha uma chegada mais forte. Mas coisa de treino, gente boa também — contou.
Luka Modric
— Ele sempre nos mostrou que seria um grande jogador. Desde quando eu cheguei lá, ele já era o cara que tinha uma qualidade diferenciada. Na época, ele e o Eduardo da Silva eram os que se destacavam pela qualidade e habilidade. Foi um cara que a gente sempre esperou que ia estourar. Em 2006, a gente disputou vaga na Liga Europa, contra o Werder Bremen do Diego e o nosso técnico já cravava que ele seria bem melhor que o Diego. Perdi contato com ele, infelizmente. Mas sempre quando ele encontra os brasileiros lá na Europa, pergunta pela gente. É muito gente boa. Quando eles vieram aqui na Copa, em 2014, queriam nos encontrar mas a gente não estava aqui. Estávamos morando no Irã — revelou.
Para quem observa, de fora, o período em que esteve na Croácia foi intenso para o atleta. Tanto pela bagagem adquirida, quanto pelos amigos que deixou no país. No domingo, às 12h, o orgulhoso zagueiro "croata" projeta o que pode acontecer solo russo:
— Eles vão surpreender. Tem que torcer para os meus amigos.