Faltava uma boa atuação de Willian na Copa da Rússia. Agora, não falta mais. O Foguetinho, como é chamado por Tite, fechou a noite com calor do Nordeste (sem praia) de Samara dividindo os holofotes com Neymar. Depois de três atuações pontuadas por erros técnicos, enfim, o principal jogador do Chelsea na última temporada apareceu de camisa amarela.
Aos olhos do técnico brasileiro, a diferença da atuação contra o México em comparação às outras partidas é que, dessa vez, Willian colocou uma cereja em um bolo saboroso. Até as oitavas de final, o meia-atacante havia cumprido com uma obediência exemplar o que lhe era pedido.
Willian foi tão tático e representa tanto para a máquina que coloca a Seleção em funcionamento que Tite repassou para o auxiliar Sylvinho a explicação sobre a importância dele para o time.
– Willian tem entregado bom trabalho sempre, tecnicamente, às vezes, acaba sofrendo. Ele acompanha o lateral ate a nossa última linha, a conexão defensiva dele e do Fagner libera o Paulo (Paulinho). O Willian faz um trabalho tático. No segundo tempo, acrescentou a parte ofensiva.
Mas Tite não se conteve e também deu a sua pincelada a respeito do "Foguetinho". Ficam evidentes a confiança e a admiração do técnico pelo pupilo.
– Tem entregado o que gente gosta e quer – resumiu Tite.
Willian é tático mesmo. Até para falar. Responde às perguntas, seja em português ou em inglês fluente, sempre de forma estratégica. Não se alonga, não deriva para lá ou para cá. É quase monocórdico e passa pela extensa zona mista sem tropeçar em nenhuma polêmica. E olha que ele fala. Em todos os quatro jogos desta Copa, é um dos últimos a entrar no ônibus.
O discurso obediente só foi alterado uma vez. Quando questionado sobre as contestações à sua titularidade, ele se aprofundou um pouco na resposta. Mas não muito:
– Sempre tive tranquilidade, tenho respaldo da comissão técnica e dos jogadores, a confiança de todos. Uma hora o meu jogo iria encaixar. Por vezes, em determinadas circunstâncias, não há tanto espaço, a marcação fica em cima.
Depois, ele seguiu no mesmo tom de antes. Estacionava diante de um batalhão de repórteres e começava:
– Fizemos uma grande atuação, estou muito mais feliz pela atuação da equipe. Todos jogaram muito bem, estamos felizes pela vitória.
Os ingleses quiseram saber dele o quanto estava feliz pela atuação. Lá veio ele de novo, com o mesmo discurso:
– We played very well…
E o protagonismo do Chelsea, Willian, se repetiu na Seleção, enfim, perguntou um repórter:
– Acho que o protagonismo tem de ser de toda da equipe, não só de um jogador. Estou feliz pelo resultado, pelas vitórias. O coletivo funcionando, as individualidades aparecerão.
Willian pouco sai da linha. Concede entrevistas no mesmo tom em que se apresenta em campo na Copa. Tite o escalou aberto pela direita. Talvez seja dos que mais corram na equipe. Faz voar sua cabeleira black-power atrás do lateral e, logo em seguida, está no ataque. A questão é que, nessa segunda parte, ele vinha errando quase todos os lances.
– Se tiver de se doar pelo time vamos fazer, o objetivo está lá na frente – disse o jogador de 29 anos diante de outro batalhão de repórteres.
Os números mostram a grande atuação de Willian contra o México. Conforme o Instat, deu uma assistência para Neymar marcar, chutou duas vezes a gol, acertou 82% dos passes e venceu 21 dos 28 duelos que teve. Mas há um dado que nenhuma estatística mostra. Tite, no segundo tempo, desamarrou da linha lateral e deu-lhe liberdade de "flutuação", como definiu Sylvinho. Livre, pôde armar pela esquerda a jogada do primeiro gol.
Até esse segundo tempo contra o México, os movimentos ofensivos de Willian se resumiam a agir como um ponteiro-direito à moda antiga. A jogada era eficiente, mas a mesma: um tapa na bola e o cruzamento em curva, para pegar alguém vindo de trás. Ao estilo de um Valdomiro ou de um Tarciso.
O repertório mudou em campo, mas nem assim Willian mudou o tom:
– Sempre temos uma orientação da comissão técnica e temos de cumpri-la.
O assessor da CBF, Vinícius Rodrigues, pediu o fim da entrevista, Willian, obediente, se despediu e foi para o ônibus. Seu expediente havia acabado. Ele brilhou, enfim. Por aquelas ironias do destino, justo na cidade reconhecida como centro aeroespacial da Rússia, onde morou Yuri Gagarin e há um estádio chamado pelos locais como Arena Cosmos. Não tinha como a noite deixar de ser do Foguetinho.