– Tu tá gordinho, hein? – brincou o então técnico da Seleção Brasileira.
– Esta camiseta não é GG nada! – devolveu o técnico do Grêmio.
O ano era 2001 e havia um momento de receio de que o Brasil não se classificasse para a Copa do Mundo do ano seguinte, no Japão e Coreia do Sul. A Canarinho não empolgava a torcida e, em uma reunião editorial de Zero Hora, surgiu a proposta de juntar os técnicos da dupla Gre-Nal para apoiar o time de Luiz Felipe Scolari, que jogaria da capital gaúcha.
A brincadeira descontraída resgatada acima surgiu desse encontro, enquanto o trio de treinadores trocava de roupa para vestir uma camisa verde-amarela, no sexto andar do prédio administrativo do Grupo RBS, em Porto Alegre, para tirar fotos. A ideia era cativar as torcidas gremista e colorada para apoiar a Seleção.
– A realidade é de que havia grande chance de a Seleção ser vaiada no jogo decisivo das Eliminatórias em Porto Alegre, aí surgiu a ideia de juntarmos os técnicos de Grêmio (Tite) e Inter (Parreira) para apoiar o time de Felipão – lembra o vice-presidente Editorial do Grupo RBS, Marcelo Rech.
O engraçadinho foi Felipão, tirando sarro da barriguinha de Tite, que então treinava o Grêmio. Antes disso, na chegada ao número 400 da Avenida Erico Verissimo, ambos haviam se cumprimentado como velhos amigos que eram antes de a relação azedar, já com Felipão no Palmeiras e Tite, no Corinthians.
"O abraço foi forte e caloroso, digno de quem se conhece há 27 anos”, contou em ZH o então repórter Alexandre Corrêa, se referindo ao fato de que Felipão trabalhou com Tite quando este era jogador e tentou levá-lo para jogar no Caxias.
Na época, o atual comandante da Seleção cumprimentou Felipão chamando-o de "padrinho". Não houve formalidades naquela tarde de sexta-feira, 2 de agosto de 2001: "teve clima de reunião de velhos amigos", dizia o texto publicado em ZH no domingo seguinte.
A parte mais difícil envolvendo aquele encontro foi marcá-lo, lembra Rech, porque envolvia os três técnicos mais importantes do Estado.
– Esperei Felipão na Rua Zero Hora (entrada dos fundos do prédio) e fui com ele até o sexto andar. O mais difícil foi ter umas duas horas dele por causa da agenda da Seleção em Porto Alegre. Mas no final deu tudo certo e ele veio – conta Rech.
Foi montada uma verdadeira operação para cobrir o importante momento: além de fotógrafos, editores e repórteres, quatro fotógrafos foram escalados:
– A gente tinha que garantir que não perdêssemos nenhum momento, porque era único, então não podíamos dar chance ao azar – lembra Ricardo Chaves, o Kadão, que então era editor de fotografia de Zero Hora.
– Além disso, tivemos de organizar tudo muito bem, porque era um conteúdo exclusivo e não poderia vazar antes da hora. Era sexta-feira e o jornal sairia só domingo. Por isso, decidimos fazer as fotos no terraço do prédio da RBS e não em um parque ou estádio – completou ele.
Além de coordenar a equipe, Kadão também fotografou o momento, ao lado de Fernando Gomes, que até hoje trabalha em ZH, de Carlos Rodrigues e Paulo Franken.
– Cada um tinha uma função e tinha de “seguir” um dos treinadores pelo prédio. Lembro que fiquei com o Tite – conta Gomes.
A foto de capa é de autoria de Franken e virou uma matéria do Esporte Espetacular deste domingo (10) por estar emoldurada na casa da mãe de Tite, a dona Ivone. "Premonição?", sugeriu a reportagem.
Dezessete anos depois, essa imagem pode ter registrado o encontro de três campeões do Mundo. Afinal, Felipão não só ganhou o jogo disputado do antigo Estádio Olímpico contra o Paraguai naquele domingo de 2001, como classificou o Brasil para a Copa e conquistou o penta em 2002.
– A fotografia é extraordinária por isso. Uma foto que foi importante em um momento específico pode ter uma relevância ainda maior quase 20 anos depois. Se o Tite ganhar o hexa, essa vai ser uma foto histórica – sugere Kadão.
Depois de uma sessão de fotos que durou cerca de 10 minutos, os três treinadores autografaram as camisetas que usaram, que foram leiloadas em prol do Hospital da Criança Santo Antônio. Antes de ir embora, Felipão pediu para acrescentar mais algumas palavras na camisa autografada: escreveu "Brasil 2002". Por fim, todos foram para um churrasco.