Sempre alvo de comentários, análises e críticas, as quedas e supostas simulações de faltas de Neymar ganharam, no jogo contra a Costa Rica, componentes extras. O primeiro foi um pênalti, marcado e depois anulado com auxílio da arbitragem de vídeo, em que o jogador cai lentamente e com os braços abertos — de uma forma considerada "teatral" em postagens nas redes sociais. O segundo ingrediente foi o choro do atacante, que ao final da partida sentou-se no gramado e colocou as mãos sobre o rosto.
Os dois momentos renderam repercussões diferentes: há quem defenda que o árbitro errou ao desmarcar o pênalti e quem tenha achado graça da situação, dizendo que "Matrix encontrou um novo ator". Alguns viram exagero na reação de Neymar. Outros apontam que o jogador tem sido perseguido e que é alvo de faltas em excesso.
O choro do atacante também motivou reações opostas. Se alguns apontaram a atitude como encenação, nem sequer identificando lágrimas nos olhos de Neymar, há também quem veja no fato de um dos líderes da Seleção Brasileira desabar após uma vitória sofrida a demonstração do lado humano de ídolo do futebol mundial.
Da fama de "piscineiro" — por causa de seus "mergulhos" quando atingido pelos adversários — que adquiriu na imprensa espanhola, até aqueles que o apontam como vítima de marcação acirrada demais, Neymar sempre motiva reações acaloradas. Zero Hora conversou com representantes da dramaturgia, do comentário esportivo, da literatura e de recursos humanos para saber o que eles pensam sobre o alegado "teatro" de Neymar. Confira as análises de Fabrício Carpinejar, Maurício Saraiva, André Streppel e Zé Victor Castiel sobre isso.
Fabrício Carpinejar, escritor
"O teatro é uma tornozeleira imaginária para o atacante se proteger dos pisões dos zagueiros. Ele acentua a gravidade preventivamente, antes de sofrer alguma lesão mais séria. Neymar tomou as dores e as injustiças do primeiro jogo. Abriu os braços e caiu para mostrar ao juiz a infração, de modo ostensivo, até porque não houve a marcação justa de penalidade contra a Suíça. Se não fizesse a cena, tampouco o árbitro assinalaria a cobrança.
E qualquer um poderia derramar lágrimas de tensão com os gols somente acontecendo nos acréscimos, em partida que decidia a permanência na Copa. Foi um desabafo. Não dá para esquecer que homem não sabe mesmo chorar, sempre parece falso quando é verdadeiro."
Maurício Saraiva, comentarista do Grupo RBS
"Não há dúvida de que quanto mais Neymar focar em jogar bola e menos nas artes cênicas para cavar pênaltis, tanto melhor para ele quanto para o Brasil. Porém, não consigo imaginar o camisa 10 brasileiro fingindo lágrimas na intenção de angariar simpatia ou compaixão. A mim, pareceram lágrimas sinceras de quem não está a pleno e se viu sob enorme pressão durante a suada vitória sobre a Costa Rica. Um dia antes, seu amigo Messi concentrou as críticas dos compatriotas depois da derrota para a Croácia. Quando sentou no campo para chorar, vitória assegurada, as lágrimas de Neymar eram de alívio e desabafo. Não critico por isso. Se for criticá-lo, será pelo cartão amarelo gratuito após um faniquito contra o juiz ou por ainda simular faltas."
André Streppel, empresário e diretor-executivo de RH
"Neymar mescla talento, dedicação, personalidade e marketing. Muitas vezes o público o julga por apenas um desses pontos e por isso o jogador gera tanto assunto nas rodas de bar. No caso do pênalti anulado contra a Costa Rica, Neymar supervalorizou o lance. Levantar os braços como se tivesse levado um puxão forte demais o fez perder credibilidade e, naturalmente, o árbitro de vídeo entendeu que não era para tanto assim. Foi malandragem do jogador. A mesma malandragem que corre no nosso sangue brasileiro e estamos aprendendo a reconhecer. Ficamos com essa lição.
Vê-lo aos prantos ao final da partida me fez refletir sobre o tamanho da cobrança que esse garoto carrega. Alguns devem achar fácil viver essa pressão ganhando milhões de euros e namorando a Bruna Marquezine. Mas o Neymar chegou onde ele está porque realmente se importa com o resultado, busca o melhor que pode fazer e sabe o que o Brasil espera dele. É um profissional humanizado que, com o alívio do choro, tem tudo para conquistar o mundo por nós brasileiros."
Zé Victor Castiel, ator
"O menino apanhou que nem boi ladrão. Fico revoltado com a reação de muitas pessoas. Depois de dois meses e meio parado, convalescendo de uma lesão grave, recém foi a segunda partida que ele fez. Ele pode não estar jogando no ritmo que todos esperamos, mas daí a dizer que está simulando é demais. Esta é uma Copa do Mundo, nenhuma adversário está se poupando. E isso se reflete nas faltas em cima do Neymar, que está sendo parado de qualquer forma, nem que seja na porrada. Se continuar assim, vão tirar ele da Copa.
Brasileiro adora fazer piadinha. Se render um bom meme dele caindo, está tudo bem. Essa coisa que se criou é uma imbecilidade, só serve para se fazer anedotas. Não existe isso de 'teatro': o Neymar jogou muito bem a partida, não simulou nada e ainda sofreu um pênalti que acabou desmarcado. Só espero que no terceiro jogo ele consiga render melhor.
Acho triste o que se faz com os ídolos. Depois o Brasil ganha a Copa e os detratores viram automaticamente puxa-sacos. Não houve teatro, apenas maldade de quem vive em uma era que adora vilões."