O árbitro de vídeo entrou em campo também no jogo da Seleção Brasileira. Melhor, não entrou. E também não jogou. Percebia-se alguma resistência dos jogadores da Seleção em abordar na zona mista os possíveis erros de arbitragem em dois lances capitais, o pênalti em Gabriel Jesus e a falta em Miranda no gol suíço. Mas essa resistência esfumava-se na segunda pergunta. O tema entrava em pauta, eles meneavam a cabeça, espremiam os lábios e vinham para o jogo.
— Dá para notar o empurrão, mas não estou aqui para julgar ou justificar nada — resignou-se Miranda.
O goleiro Alisson, o primeiro a aparecer na zona mista, começou dizendo que não falaria sobre arbitragem, o que já havia sido feito por Tite na entrevista coletiva. Mas logo foi questionado sobre sua decisão de ficar sob as traves em uma bola no meio da pequena área. E tratou da questão da arbitragem:
— A gente treina muito bola parada, mas o empurrão tirou-o (Miranda) da jogada. Não tinha o que fazer. Não dava muito para fazer.
Thiago Silva foi o mais contundente e quem mais se alongou sobre o tema. Mesmo reiterando sempre que não buscava razões para o decepcionante empate, foi duro com a decisão do árbitro de não acionar o árbitro de vídeo.
— Tem o pessoal de fora que pode avisar e pelo menos alertar para olhar. E nem isso ele (o árbitro) teve intenção. O telão mostrou, até então a gente não havia reclamdo. Fazem parte do futebol os erros, mas com o árbitro de vídeo teria de ser um pouco melhor – criticou o zagueiro.
Pouco antes, Tite havia cumprido o mesmo roteiro dos jogadores. Reforçou que desagradava tratar de arbitragem, sob pena de isso ser intepretado como desculpa. Só que a pergunta veio, ele reclamou do erro do árbito mexicano e principalmente do fato de ele não ter acionado os recursos eletrônicos:
— O lance do Miranda é claro. Não é pouco, é muito claro. Não pode acontecer isso em um jogo de alto nível como esse. O outro (pênalti) é passível de interpretação.
A segunda-feira já havia entrado na noite com frescor típico de primavera de Rostov quando os jogadores da Seleção Brasileira deixaram o vestiário. Passava da 0h30min. A esta altura, os suíços já haviam passado balançando o corpo pela zona mista e radiantes com o resultado. O primeiro deles foi Gélson Fernandes, nascido em Cabo Verde e com um português fluente. O meio-campista sorriu ao ser questionado sobre a reclamação dos brasileiros e deu uma resposta que denuncia o que o vestiário do seu time concluiu.
— Foi a meu favor, você acha que eu reclamaria? — disse.
Sobre o pênalti em Gabrel Jesus, no entanto, Gélson foi mais a fundo e conclusivo. Ele já havia dito que Neymar caía muito minutos antes e, sobre o lance na área, foi curto e claro:
— Não foi, ele (Gabriel Jesus) se atirou.
O técnico da Suíça, Vladimir Petkovic, manteve a mesma linha do seu jogador ao tratar do lance do gol de Zuber. Questionado na entrevista coletiva sobre a reclamação brasileira de falta em Miranda, ele foi fugiu do politicamente correto:
— Nós temos o AV, ele deve oferecer respostas. Numa disputa pelo alto, tenta-se criar o espaço para cabecear. A defesa adversária não estava bem posicionada.
Questionado sobre a opinião de Petkovic, Miranda fechou o semblante:
— Ele é o treinador, acho que tem de pensar na seleção dele. Não estou aqui para avaliar o trabalho dele, estou pensando na Seleção, em corrigir os nossos erros e fazer uma grande partida.
Ao ser questionado sobre o quanto o empurrão de Zuber o deslocou, Miranda encerrou a entrevista:
— Esse lance já passou, e vamos pensar no próximo jogo.
O discurso da Seleção parecia ter sido ensaiado no vestiário. Todos se cuidavam para não dar margem para acusações de que usavam as questões de arbitragem como justificativa para uma atuação opaca. Só que ninguém conseguia evoluir no raciocínio sem lembrar de Cesar Ramos. Um dos úlimos a cruzar a zona mista, Gabriel Jesus descreveu em detalhes o lance do pênalti.
—Eu recebi a bola do Renato, uma bela bola. Senti que o zagueiro me deu o fundo. Eu iria sair cara a cara com o goleiro. Só que a bola passou, e teve o contato dele — relatou.
Em seguida, ele mudou o rumo, buscou uma resposta mais política. Só que não conseguiu. E tratou da questão mais polêmica da noite em Rostov:
— Enfim… Não quero falar de árbitragem. Se ele interpretou que não foi pênatl, assim como intepretou que não empurão no Miranda… Não quero falar do árbitro.
Depois disso, ele saiu e se juntou aos companheiros no ônibus. A estreia havia ficado para trás. Sem boa atuação. E também sem o árbitro de vídeo.