O Gre-Nal deste sábado (10) será diferente para dois torcedores travestidos de atletas. Após uma década atuando no futebol europeu, ambos aceitaram voltar para a casa. Ídolos de gremistas e colorados, receberam a camisa 10 de seus clubes do coração e, neste novo momento das carreiras, poderão medir forças pela 11ª rodada do Brasileirão.
Revelado como meia-atacante nos tempos do Estádio Olímpico, Douglas Costa virou um extrema-direito agressivo na Europa. Já Taison, que deixou o Beira-Rio como um ponta de velocidade, virou meia nos últimos tempos e, agora, recupera-se de uma lesão muscular para, no mínimo, aparecer no banco de reservas da Arena.
Mas, embora esteja envolto em muita expectativa, o duelo entre os dois não será inédito. Em 2009, também estiveram de lados opostos em um clássico. Na ocasião, eram meros coadjuvantes de suas equipes, que traziam D'Alessandro e Souza como estrelas principais.
Aliás, foi o argentino que marcou o único gol daquela partida, em falha do goleiro Victor, decretando a vitória dos colorados dentro de casa. Mas a rivalidade gaúcha seria pouco vivenciada pelos dois. Mesmo sendo dois anos mais jovem, Douglas fez as malas primeiro. No início de 2010, foi vendido pelo Grêmio ao Shakhtar Donetsk.
— Quando o Douglas chegou lá, o clube ainda não tinha este glamour, recém haviam construído o novo estádio, mas já estavam o Jadson, Willian e Fernandinho. Os brasileiros faziam tudo juntos e acabavam se separando um pouco dos ucranianos. Eles sempre tiveram este companheirismo, vivendo um na casa do outro, se reunindo nos aniversários, fazendo feijoada e churrasco. E o treinador (Mircea Lucescu) explicava para os ucranianos que os brasileiros estavam longe de casa e que era normal eles se aproximarem. Tenho uma boa relação com o Lucescu. Ele fala portunhol e eu disse que os jogadores do sul do Brasil tinham mais facilidade para jogar no frio, com o campo molhado. Então, eles vieram atrás de outros atletas da dupla Gre-Nal, como o Fernando e Fred — conta César Bottega, que agenciou a carreira de Douglas até 2013.
Oito meses depois, foi a vez de Taison embarcar para o leste europeu. Campeão da Libertadores com o Inter, foi negociado para o Metalist. Assim, os antigos rivais de Porto Alegre se enfrentaram mais três vezes, com duas vitórias do gremista e uma do colorado.
A partir de 2013, quando o atacante foi comprado pelo clube de Donetsk, os caminhos se entrelaçaram de vez. No total, foram três temporadas juntos, conquistando dois campeonatos ucranianos (2014 e 2015), uma Copa da Ucrânia (2013) e uma Supercopa da Ucrânia (2013).
— Eu morei com o Douglas na Europa e, lá em Kiev, todos os brasileiros viviam no mesmo condomínio. Era muita parceria. Nos encontrávamos diariamente para tomar chimarrão no sol, nos dias de frio. Também conheço o Taison há muito tempo, porque joguei na base do Inter. E rolava muita "corneta" entre eles quando tinha Gre-Nal. Faziam apostas, folgavam um em cima do outro, porque o Douglas é muito gremista e o Taison é muito colorado — revela Nardo Assis, amigo dos dois.
Apesar de serem vizinhos e dividirem o vestiário, os dois seguiram em lados opostos no campo. Isso porque o treinador escalava o gremista aberto pela direita e o colorado pela esquerda. Uma amostra disso foi dada na série de amistosos feitos no Brasil, no início de 2015. Um deles, inclusive, vencendo o Inter por 2 a 1 em Porto Alegre.
Sob as asas de Tite
A parceria foi desfeita em junho de 2015, quando Douglas Costa foi contratado pelo Bayern de Munique, da Alemanha, a pedido de Pep Guardiola. Dali, ainda iria para a Juventus, da Itália, enquanto o colorado permaneceria em solo ucraniano. Mas quis o destino que ambos se reencontrassem futuramente na Seleção Brasileira.
No início, houve desencontro. Em 2016, o gremista sofreu uma das tantas lesões musculares de sua carreira e teve de ser cortado de dois jogos pelas Eliminatórias. Para seu lugar, curiosamente, Taison foi chamado.
— Muito feliz com essa nova oportunidade na Seleção e torcendo para a recuperação do Douglas Costa, que foi nosso companheiro aqui no Shakhtar — disse o colorado, por meio de sua assessoria de imprensa, na época.
Menos mal que, aos poucos, Tite encontrou espaço para os dois na convocação final para a Copa do Mundo. Na Rússia, registraram a amizade em um momento de folga, posando juntos para uma foto que foi publicada no Instagram do gremista, com a seguinte legenda: "Você fala russo?".
— Nós temos muito isso de rivalidade, Grêmio e Inter. Desde pequeno, a gente é ensinado a isso. Mas eu gosto muito do Taison, a gente tem um carinho enorme um pelo outro. A gente conhece as famílias, conheço a mãe, os 25 irmãos que ele tem (risos). Acho que quem ganha com isso (a volta dos dois) é o Rio Grande do Sul — comentou Douglas Costa em entrevista recente ao comunicador Duda Garbi no YouTube.
Por fim, este sábado registrará o reencontro da dupla. De volta à aldeia, cada um defenderá o seu lado, como nos velhos tempos. E, a partir de agora, a aposta será outra. Afinal de contas, quem é melhor: o sapucaiense ou o pelotense? O gremista ou o colorado?