A proposta de criação de uma liga organizada pelos clubes em substituição ao Brasileirão, apresentada à CBF na terça-feira (15), poderia mudar as estruturas do futebol brasileiro. Especialistas ouvidos por GZH apontam que o formato, consagrado nos principais países da Europa, permitiria aos times reestruturarem o calendário e os direitos de transmissão das partidas.
O documento entregue à Confederação Brasileira contou com assinatura de 19 dos 20 presidentes da Série A. O único clube que ficou fora foi o Sport, que teve a renúncia do seu mandatário, Milton Bivar.
Especializado em negócios do esporte, o jornalista Rodrigo Capelo, do ge.globo e do SporTV, indica que o senso de coletividade é o caminho para que haja uma reestruturação do modelo em vigor hoje no país. Ele acredita que quando os times estiverem todo do mesmo lado será mais fácil negociar a venda das transmissões ao vivo e distribuir o montante em fatias mais igualitárias.
— Os clubes podem conseguir mais dinheiro das emissoras, podem avançar em pautas como streaming e pay-per-view. E, a partir do momento em que estão juntos, outra reforma é a do calendário. Hoje, os clubes grandes jogam demais, e os pequenos jogam menos do que precisariam — avalia.
Amir Somoggi, sócio da Sports Value Marketing Esportivo, defende que a criação da liga permitiria mudanças regulatórias que flexibilizariam as possibilidades de faturamento por parte dos clubes. Uma das formas citadas por ele é a internacionalização das equipes, com amistosos fora do Brasil – na MLS, dos Estados Unidos, por exemplo, o campeonato tem uma pausa para que os times enfrentem adversários do Exterior, geralmente da Europa.
— O que eles (clubes) têm de fazer na verdade é a criação de um modelo regulatório interno próprio, onde todos os clubes vão seguir. Código de Ética, regulação financeira, orçamentos e também se beneficiar com marketing, projeção internacional — explica.
Entre os exemplos de sucesso, destacam-se a Premier League (Inglaterra), a Bundesliga (Alemanha) e La Liga (Espanha). Por lá, os clubes não tomam as decisões, mas são sócios-fundadores. As ligas são administradas por executivos com formação e experiência no mercado.
— Não dá para fazer um outro Clube dos 13, vai acontecer como aconteceu em outras ocasiões. Mexe em contrato de TV, negocia, faz lobby, mas não muda estruturalmente o futebol brasileiro. O caminho não é a receita de TV ou o patrocínio, é a indústria do futebol, como esses clubes podem ajudar a indústria, e não apenas o crescimento das receitas deles mesmos — aponta Somoggi.
Em termos financeiros, no entanto, Capelo acredita que ainda seja muito cedo para projetar o impacto que a liga terá no balanço dos clubes. Isso por conta da renegociação dos direitos de transmissão a partir de 2025, que devem começar entre o final de 2021 e o ano que vem:
— É uma negociação muito complexa, porque envolve a emissora detentora, com uma posição financeira diferente da que ela tinha 10 anos atrás, streaming, pay-per-view, MP do mandante, essa história de liga. São muitas variáveis que ninguém sabe exatamente o que vai acontecer.