A proposta de criação de uma liga organizada pelos clubes em substituição ao Brasileirão, apresentada à CBF na terça-feira (15), poderia mudar as estruturas do futebol brasileiro. O documento entregue à Confederação Brasileira de Futebol contou com assinatura de 19 dos 20 presidentes da Série A. O único clube que ficou fora foi o Sport, que teve a renúncia do seu mandatário, Milton Bivar — o time pernambucano já manifestou favorável a iniciativa.
A liga brasileira de clubes pode e deve se inspirar em outras experiências espalhadas pelo mundo. Entre os exemplos de maior sucesso estão a Premier League, na Inglaterra, a Bundesliga, na Alemanha, e a La Liga, na Espanha. Por lá, não são os clubes que tomam as decisões, mas sim os sócios-fundadores. As ligas são administradas por executivos com formação e experiência no mercado.
Inglaterra
Na terra da Rainha, a situação mudou não há muito tempo. Em 1992, os clubes da elite inglesa decidiram, mais ou menos como aqui no Brasil, criar uma nova liga. O objetivo, também como em território brasileiro, era ter uma competição mais organizada, com estádios padronizados e mais rentável para os times.
Assim, desvincularam-se da Football League, que era a organizadora do campeonato, e passaram a negociar com a Premier League. A liga se tornou tão forte que passou a ter autonomia para escolher a sua estratégia comercial, dialogar e firmar seus contratos. Em relação a direitos de transmissão, a receita é dividida em alguns itens: de transmissão no Reino Unido, de comércio central e de direitos de TV internacionais.
No primeiro quesito, o dinheiro é dividido da seguinte forma: 50% do montante é igualmente compartilhado, 25% é dividido com base na frequência com que os jogos de um clube são transmitidos no Reino Unido e, por último, os outros 25% são repartidos com base na posição onde o clube termina na classificação, conhecido como "pagamento por mérito".
No comércio central, o total é dividido de forma igual para todos os 20 clubes da Premier League. Assim como a receita de direitos de TV internacionais é dividida também de forma igualitária para as equipes.
Alemanha
A Bundesliga, na Alemanha, vive situação semelhante no que diz respeito a divisão de receitas provenientes dos direitos de transmissão. Em 2020, foi repartido pouco mais de 1,4 bilhões de euros (R$ 8,5 bilhões na cotação atual) entre os 36 clubes da Bundesliga e da Bundesliga 2 — 80% dos ganhos foram para os clubes da elite.
Assim como na Premier League, na Alemanha também existe uma diferença entre a repartição de receitas nacionais e internacionais. A primeira é feita através de quatro variáveis: 70% é dividido conforme o desempenho nas cinco últimas temporadas, 5% conforme o desempenho dos últimos 20 anos, 2% pela utilização de jovens alemães de até 23 anos — estrangeiros entram na balança se estiverem registrados no clube antes de terem completado 18 anos, e 23% conforme o resultado na temporada anterior (sendo que os seis primeiros recebem o mesmo valor).
As porcentagens também interferem na divisão dos ganhos com o comércio internacional: 25% dos milhões de euros são repartidos igualitariamente entre os times da primeira divisão, 50% são divididos de acordo com os desempenhos nas competições da UEFA nas cinco últimas temporadas e os outros 25% são rateados baseado nos resultados internacionais num recorte de 10 anos.