Até os 47 minutos do segundo tempo, o instante em que Rogério marcou o gol do São Paulo contra o Goiás, a torcida do Inter ainda enxergava a Libertadores no horizonte. Em nome da paixão, deixava de lado a sucessão de erros de planejamento cometidos na temporada e sonhava com a competição que é o sonho dourado de qualquer clube sul-americano.
Carinhosa, a torcida ainda teve forças para aplaudir os jogadores depois da partida. No ambiente do Beira-Rio, os colorados reuniam forças para enfrentar uma segunda-feira pesada, marcada pelo deboche dos eternos rivais, estes, sim, classificados com méritos para a Libertadores.
Ao mesmo tempo em que saudavam o time, os torcedores sinalizavam à direção que será preciso rever os métodos de trabalho em 2016. A confirmação da permanência de Argel Fucks, que considero acertada, é somente a primeira página do caderno de encargos colorado. O Inter precisará detectar as carências do grupo e oferecer ao treinador jogadores mais qualificados. Vale fazer sacrifício para manter Vitinho. E será necessário descobrir uma alternativa para D'Alessandro, que, pela primeira vez, termina uma temporada sob desconfiança.
Classificado, o Grêmio mantém o discurso dos pés no chão, embora a Libertadores exija time qualificado. O presidente Romildo Bolzan Júnior sabe os riscos de ceder às tentações do gasto fácil e, por vezes, irresponsável, e avisa que só contratará se o associado se mobilizar. Parece convencido de que a saúde financeira do clube é mais importante do que títulos. Do outro lado do balcão, Roger Machado sabe das limitações do grupo atual e sonha com reposições.
Terminado o Brasileirão, fica a certeza de que levou a taça quem mais a mereceu. Nenhum dos participantes foi mais efetivo do que o Corinthians de Tite, equipe que reúne qualidade técnica e equilíbrio emocional, além de conceitos táticos que não fariam feio entre os grandes clubes europeus.
Junto com Atlético-MG, Grêmio, São Paulo e Palmeiras, o Corinthians representará o país na Libertadores. Experiente e de cofre cheio, larga como favorito. A competição, contudo, revela nuances por vezes inesperadas. Além do futebol, requer malícia e planejamento para que não ocorram fatos inesperados. O comentarista Mário Sérgio, por exemplo, coloca Tite no mesmo pedestal de Guardiola e Mourinho.
A lamentar, a nova queda do Vasco, a terceira em um intervalo de sete anos. O clube que primeiro abriu suas portas às camadas mais humildes da população do Rio não merece passar por humilhação tão grande. Milhões de vascaínos são confundidos com o déspota que ocupa a presidência. Por causa de Eurico Miranda, o Vasco passou a ser secado por um país inteiro. Não é justo.