O jornalista argentino Gustavo Grabia, autor do perturbador livro "La Doce" - sobre a história da violenta barra brava do Boca Juniors -, respondeu sem hesitar quando perguntei se ele era favorável ao fim das torcidas organizadas:
- Adoram dizer que eles (torcedores organizados) são grandes responsáveis pela beleza do espetáculo, pelo colorido dos estádios e pela manutenção do romantismo no futebol. Tudo isso é verdade, claro. Mas eu aceitaria facilmente um espetáculo mais feio, um estádio menos colorido e até um futebol mais frio em troca da certeza de que ninguém sairá morto. Defendo a extinção das organizadas no mundo inteiro.
Não existe torcida organizada sem violência, Grabia sabe disso. Venho estudando há dois anos o comportamento desses grupos e também sei disso. Já entrevistei mais de 40 membros de organizadas que, da mesma forma, sabem disso: todos sempre me admitiram que a única maneira de conquistar o respeito das demais torcidas, especialmente nas viagens para longe de casa, é aceitando as provocações - ou inaugurando a pancadaria.
Trata-se, portanto, de um elemento intrínseco, indissociável: torcida organizada sem violência é como futebol sem bola. Ao assistir pela TV à cabeça de um torcedor do Atlético-PR ser pisoteada por vascaínos, quicando desfalecida no concreto da arquibancada, lembrei de Gustavo Grabia. Prefiro um futebol mais feio. Porque nada pode ser mais feio do que aquilo.
