Não sou muito a favor de cotações. Conferir notas vai do nível de exigência de cada um. Algo subjetivo, portanto. Prefiro conceitos - excelente, muito bom, bom, regular, ruim, péssimo. Mas sou minoria. A verdade é que as pessoas adoram cotações. Os torcedores, então, amam. Para reclamar, é claro, mas aí está um ingrediente célebre do Gre-Nal: a corneta. Então, vencido pela maioria, vou dar a minha cotação para o Gre-Nal. Nota 4. Quase cinco em alguns momentos para o Grêmio, sobretudo no começo. E olhe lá.
Foi um jogo ruim, de qualidade técnica baixa, erros de passe a valer e nenhuma inspiração. O reflexo se viu na torcida, que não conseguiu se empolgar por absoluta falta de motivo. Não houve uma sequência de lances lá e cá, triangulações pelos lados, uma jogada individual espetacular. Poucas vezes vi tantos passes errados em clássico. Entre arriscar o lançamento ou a metida vertical, a bola era recuada. O desempenho dos times de Renato e Dunga no Gre-Nal foi preocupante.
Menos mal que ninguém deslancha no Campeonato.
Os três zagueiros
Organização o Grêmio teve, e com ela cai por terra o preconceito contra Renato. Preconceito que existe em setores do próprio clube, inclusive. Já ouvi de muitos conselheiros o receio de que trata-se de um motivador. Arriscar um 3-5-2 com um treino apenas é decisão de quem tem confiança. O Grêmio foi ineficiente, mas bem organizado. Os zagueiros pelos lados (Werley mais, Rhodolfo menos) avançara. Pará e Alex Telles se soltaram, como alas. Os conceitos do esquema estavam ali. O problema foi a parte técnica.
Faltou qualidade, e isso não é culpa de Renato.
Ninguém passou
O Inter não foi aquele Inter que chegou à liderança. Jogador por jogador, tinha mais qualidade do que o Grêmio sem Zé Roberto. Mas rendeu menos do que se esperava. Com Damião e Forlán bem marcados pelo trio de zagueiros, caberia aos jogadores que vinham detrás encontrar os espaços. Jorge Henrique (Fabrício piorou o time na função quando JH passou para a lateral direita) e Josimar não foram meias no losango de meio-campo. Tanto que precisou Willians ir ao fundo para o gol de empate sair. Como Ednei e Kleber pareciam ter urticária da linha de fundo, o time ficou lento e sem agressividade.
Quem D'Alessandro poderia lançar?
O marco da invasão
A braçadeira nos braços de hermanos é um emblema de uma lógica econômica do futebol no continente. Os argentinos, como D'Alessandro e Barcos, que antes ganhavam muito bem na sua terra, agora tem nos grandes clubes brasileiros um padrão europeu médio. Se olharmos o Campeonato Brasileiro, é uma invasão.
Efeito Ratinho
Ednei, do Inter, repetiu Edson Ratinho, que entrou em um Gre-Nal e, entre indeciso e inseguro, terminou sacado antes que prejudicasse o time. Sentiu o peso do clássico. Terá de ter cabeça no lugar e apoio da comissão técnica para se recuperar. Não será fácil.
A Arena vai lotar?
O Grêmio e a OAS terão de repensar algumas questões. Entre elas, o preço dos ingressos. Se a Arena não lota em Gre-Nal domingo à tarde, com sol, Renato de um lado e Dunga de outro, quando lotará? Só teremos público máximo em show do Roberto Carlos e UFC? Deu 40 mil. A capacidade é 60 mil.
Força da base
A titularidade de Ramiro é uma exigência no Grêmio. Ele marca com mais eficiência, joga com mais classe e faz menos faltas do que Adriano. Além do mais, é da base, para onde o Grêmio tem de olhar com muito carinho neste momento de cofres raspados.
Mirem-se no exemplo
Recebi Clemer e Danrlei no estande da Rossi do Salão Pense Imóveis neste domingo, antes do Gre-Nal. Eles deram uma aula de como é possível representar Inter e Grêmio com civilidade. Foram dois oponentes ferrenhos no campo, mas lembraram histórias ótimas de rivalidade com o bom humor só possível aos grandes ídolos. Ambos fizeram um uma defesa comovente da presença da torcida adversária em Gre-Nal. Eles defenderam punição rigorosa aos vândalos, a quem sequer chamaram de torcedores. Pediram paz. Foi o que tivemos, ao menos no estádio. Já é um começo.