A rigor, o GP da China da madrugada deste domingo (14), a partir das 3h10min, não teria nada de especial. Terceira prova da temporada 2019 da F-1, a etapa de Xangai possivelmente serviria como teste de fogo para a Ferrari mostrar se tem mesmo condições de brigar com a Mercedes pelo título neste ano, após a grande performance de Charles Leclerc no Bahrein, abortada por um problema no motor que tirou um triunfo certo do jovem monegasco.
Mas o calendário deu ao autódromo chinês – e não a palcos tradicionais, como Mônaco, Silverstone, Monza ou Spa-Francorchamps – o privilégio de uma marca histórica para a F-1: a disputa do seu milésimo grande prêmio, em 70 temporadas de disputa e velocidade.
O número é significativo. Desde o primeiro Campeonato Mundial de Pilotos, em 1950 – as corridas com carros homologados como “fórmulas-1”, os mais velozes do regulamento da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), eram realizadas desde 1946, mas sem contagem de pontos para os competidores –, a F-1 viveu momentos de glória e de tragédias, com celebrações, festa, problemas e mortes.
A profissionalização a partir dos anos 1970 mudou o cenário e tornou a categoria um potente ambiente de negócios. Pilotos passaram a ser tratados como estrelas, com salários milionários, e os comandos dos boxes deixaram de levar em conta apenas aspectos técnicos, como foi visto tantas vezes. O calendário também mudou: foram necessários 11 anos para completar 100 GPs – e apenas cinco anos entre a prova 900 e a 1.000.
Barrichello, o recordista
Nada, porém, que diminua a importância de uma etapa tão especial. A F-1 vive um momento de renovação, mas continua sendo o auge do esporte a motor. E tem, entre tantos pilotos que gravaram seus nomes no asfalto das pistas, um brasileiro como destaque: com 326 GPs e 322 largadas – por quatro vezes, ele participou dos treinos, mas não das provas –, Rubens Barrichello é, até hoje, quem mais esteve sentado no cockpit de um Fórmula-1 nas suas mil corridas, em quase um terço de todas as etapas.
Atualmente na Stock Car, o veterano, que correu na categoria entre 1993 e 2011 e conquistou 11 vitórias e dois vice-campeonatos, comemora os números – e garante que, mesmo fora do grid atualmente, o Brasil voltará a ter representantes em um futuro próximo:
– É impressionante pensar que fiz parte de tanta coisa no esporte. Lembrar do menininho em Interlagos, que sonhava em estar do outro lado da pista, do muro do kartódromo, é importante para mostrar a todos as crianças que também sonham em chegar lá. E é uma data expressiva. A F-1 não acolhe a todos: uma hora tem gente que gosta, em outra dizem que faltam brasileiros, por exemplo. Mas o Brasil do futebol também gosta muito da categoria, que está de parabéns por chegar a este número tão importante. Com certeza teremos pilotos daqui de novo na F-1. Posso bater nesta tecla – disse Barrichello.
Mas, além de marcar o GP 1.000, a prova na China também vale, afinal de contas, para o Mundial de 2019. Na sexta-feira que abriu os treinos livres, a Ferrari mostrou estar acima da Mercedes. Sebastian Vettel liderou os treinos da manhã com pneus médios, e Valtteri Bottas colocou a Mercedes na frente à tarde, apenas 0s027 à frente do alemão da Ferrari, ambos com pneus macios. Max Verstappen completou o dia em terceiro com a Red Bull. A promessa era de um treino de classificação quente na madrugada deste sábado – e de um domingo ainda mais disputado. Como merece a F-1 na milésima vez.
OS GRANDES PRÊMIOS "CENTENÁRIOS"
1º — GP da Inglaterra, Silverstone, 1950
Vencedor: Nino Farina (ITA), Alfa Romeo
100º — GP da Alemanha, Nürburgring, 1961
Vencedor: Stirling Moss (GBR), Lotus
200º — GP de Mônaco, Monte Carlo, 1971
Vencedor: Jackie Stewart (GBR), Tyrrel
300º — GP da África do Sul, Kyalami, 1978
Vencedor: Ronnie Peterson (SUE), Lotus
400º — GP da Áustria, Österreichring, 1984
Vencedor: Niki Lauda (AUS), McLaren
Niki Lauda é o único vencedor de um GP "centenário" a comemorar a marca em casa.
500º — GP da Austrália, Adelaide, 1990
Vencedor: Nelson Piquet (BRA), Benetton
Com o título já decidido em favor de Ayrton Senna, o GP da Austrália fechou o campeonato com Nelson Piquet confirmando o terceiro lugar no Mundial daquele ano.
600º — GP da Argentina, Oscar Gálvez, 1997
Vencedor: Jacques Villeneuve (CAN), Williams
700º — GP do Brasil, Interlagos, 2003
Vencedor: Giancarlo Fisichella (ITA), Jordan
Uma das corridas mais confusas da F-1, o GP do Brasil só premiou seu verdadeiro vencedor duas semanas depois. A prova foi encerrada por bandeira vermelha antes da hora, após um acidente de Fernando Alonso, e a cronometragem deu a vitória a Kimi Raikkonen. No dia seguinte, um vídeo mostrou que Giancarlo Fisichella havia fechado na frente a volta anterior à batida de Alonso - e ele recebeu o troféu na etapa seguinte, em Ímola.
800º — GP de Singapura, Marina Bay, 2008
Vencedor: Fernando Alonso (ESP), Renault
Primeira corrida noturna da F-1, a prova de Singapura tem sabor amargo para os brasileiros. É a infame corrida em que Felipe Massa, então líder, teve problemas nos boxes e saiu do pit-stop com a mangueira de combustível presa ao carro. Ele não pontuou - e terminou o Mundial em segundo, apenas um ponto atrás do campeão Lewis Hamilton.
900º — GP do Bahrein, Sakhir, 2014
Vencedor: Lewis Hamilton (GBR), Mercedes