O Rally Dakar chega a sua 40ª edição com muitas novidades. A partir deste domingo (6), a maior competição off-road do mundo parte para a 11ª disputa na América do Sul, depois de 30 anos na África. Desta vez, o rali terá um cenário inédito: depois de muitas negociações e da desistência dos governos do Chile e da Bolívia em receber etapas, todo o percurso será realizado no Peru, na primeira vez em que o Dakar ocorre em um único país.
Por isso, a prova será menor do que em outros anos. Ao contrário das tradicionais duas semanas, serão 11 dias de corrida, com 10 estágios, concentrados em três áreas do país andino — em Pisco, Arequipa e San Juan de Marcona. Em 5 mil quilômetros de trajeto, 70% das especiais serão realizadas sobre as dunas do deserto do Atacama, no sul peruano, em 3 mil quilômetros de especiais.
Serão 534 pilotos e copilotos de 61 países nas motos, quadriciclos, carros, caminhões e SxS (espécie de buggies preparados especialmente para corridas). Destes, 11 brasileiros: nove nos SxS, categoria em que o Brasil conquistou o título no ano passado, com Reinaldo Varela e Gustavo Gugelmin, e dois nas motos. Um deles, gaúcho. Marcos Colvero, 46 anos, fará sua estreia no Dakar depois de boas experiências no Rally dos Sertões e de anos como piloto de motocross. O santa-mariense, que é empresário da construção civil em Porto Alegre, passou um ano treinando para "realizar o sonho" de participar da maior prova do mundo.
— Meu primeiro Sertões foi em 2011, mas corro de moto há mais de 20 anos. O sonho do Dakar é antigo. É a prova máxima para o off-road, não tem nenhum piloto que não sonhe com isso. Para mim, começou a se concretizar em 1º de janeiro do ano passado. A preparação envolveu um cuidado com o físico e treinos todos os dias, além de duas sessões de rali no norte do Chile, onde me ambientei com as dunas e com a navegação — disse Colvero antes da viagem a Lima, onde será dada a largada para a prova e de onde parte a primeira especial, rumo a Pisco.
O piloto falou sobre a expectativa para sua estreia no Dakar e admitiu que não espera nenhuma barbada na disputa:
— Participo de ralis de forma amadora há bastante tempo, e agora a demanda física começa a cobrar a conta. A maior certeza é de que vou passar por muitas dificuldades. Quando o Dakar migrou (da África para a América do Sul), não deixou nada a dever em termos de desafio. No treino no Chile, pude ter contato com dunas gigantes, terreno árido, altas temperaturas e uma condição complexa de navegação. É muito fácil se perder. Outra coisa a se destacar é a ambientação ao Atacama, ao tipo de areia. É importante estar preparado desde antes. Fiz um trabalho físico assessorado pelo professor Luciano Menegaz, mas tive uma lesão no punho em julho, enquanto andava de motocross, e passei por cirurgia. Tive de colocar pinos e parafusos. Deu uma adrenalina a mais — brincou.
Colvero vai pilotar uma moto KTM 450 2019, réplica da versão usada pelo austríaco Matthias Walkner, atual campeão nas duas rodas e piloto da equipe oficial da fábrica holandesa. Ele também terá o apoio da espanhola X-Raid, um dos principais times na disputa. O gaúcho procurou se cercar dos melhores equipamentos e de especialistas para chegar o mais longe possível, sua principal meta para o rali.
— Procurei ir com o que tem de melhor, a melhor moto, uma equipe privada das melhores. Concluir uma prova dessas seria um prêmio muito desejado. Meus objetivos são aprender bastante, ganhar experiência para participações futuras e, principalmente, me divertir. É a realização de um sonho antigo. Quero aprender a cada etapa, curtir o dia a a dia e chegar ao final vivo.
A última frase não é um exagero de Colvero. O Dakar é conhecido pelos seus perigos: são 70 mortes de pilotos, equipes de apoio, jornalistas e espectadores nas 39 edições disputadas até hoje, 17 nas provas sul-americanas, com cinco fatalidades entre competidores. O gaúcho fez questão de reconhecer os riscos do rali, mas ressaltou que a preparação ao longo do ano, somada à sua experiência em longas provas, serve também para diminuir a chance de problemas.
— Os riscos fazem parte do negócio, mas devem ser minimizados. A gente se prepara, e a organização nos tranquiliza quanto a isso. É tudo muito profissional. A moto tem equipamentos de comunicação e sinalização de emergência, e os resgates costumam ser muito rápidos, já que tudo é acompanhado pela direção por helicópteros e carros de apoio. Isso nos deixa mais confortáveis para encarar as etapas, até porque andamos em altíssima velocidade, chegando a 170 km/h — completou.
BRASILEIROS NA PROVA:
Motos
Antônio Lincoln Berrocal — Nº 103
Marcos Colvero — Nº 109
SxS
Reinaldo Varela e Gustavo Gugelmin — Nº 340
Lourival Roldan (copiloto) — Nº 372
Bruno Varela e Maikel Justo — Nº 397
Cristian Baumgart e Alberto Andreotti — Nº 398
Marcos Baumgart e Kleber Cincea — Nº 412