No terreno dos números, Felipe Massa não teve uma passagem das mais marcantes na Fórmula-1. Mesmo entre os pilotos brasileiros, o veterano paulista de 35 anos fica atrás dos três campeões mundiais e também de Rubens Barrichello, em uma comparação direta. Mas a sua presença na categoria, que se encerra ao final da temporada 2016, significava a presença de um projeto brasileiro de automobilismo – algo que não existe mais no País.
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Massa é fruto de um período em que as corridas de automóveis eram fortes no Brasil. Campeão da F-Chevrolet em 1999, Massa fez o mesmo caminho de Nelson Piquet, vencendo primeiro campeonatos domésticos para, depois, rumar à Europa até encontrar espaço na F-1. Este caminho não existe mais, pois o automobilismo nacional de monopostos acabou: a F-3 Sul-Americana não serve como categoria de formação, as montadoras investem apenas nas provas de carros – seja a Stock ou o Brasileiro de Marcas – e, com isso, a única opção para quem busca a Fórmula-1 é ir logo cedo para a Europa.
Se os números não o colocam como um dos maiores, sua atitude sempre foi digna de um dos grandes pilotos do País. Massa tentou organizar, por conta própria, uma categoria de monopostos para formar novos nomes, que durou pouco por conta da dificuldade de encontrar candidatos dispostos a uma chance. Quem tinha condições já estava na Europa há muito tempo, e os que ficaram aqui queriam outros rumos. Mas ele tentou, e merece reconhecimento por isso.
A sua trajetória na Fórmula-1 foi atribulada. Dos 14 anos na categoria, Massa andou em alto nível em três deles, os anos de ouro de 2006, 2007 e 2008. Somou vitórias, disputou títulos e liderou a Ferrari na decisão de campeonato mais inacreditável de todos os tempos, perdendo o Mundial de 2008 literalmente na penúltima curva – o que deixa, para sempre, a pergunta: como seria a Fórmula-1 hoje, no Brasil, se ele tivesse confirmado aquela conquista?
Jamais saberemos, também porque a sequência de Massa foi complicada. Entre o acidente que quase lhe custou a vida, quando uma mola de um carro de Rubens Barrichello acertou seu capacete durante os treinos para o GP da Hungria de 2009, até o "Fernando is faster than you" enquanto estava na liderança do GP da Alemanha de 2010, o brasileiro perdeu muito da sua combatividade. Manteve, no entanto, a excelência em conhecer os detalhes de um carro, o que foi importante na retomada da carreira na Williams, que precisava de alguém com a sua experiência para trilhar melhores caminhos.
Haverá muitas críticas, principalmente de torcedores de ocasião, a Felipe Massa no seu final de carreira. Dirão que ele não foi campeão, que ele não era tudo isso, que ele ficou devendo. É um ponto de vista – bem equivocado, na minha opinião, mas válido. Mas Massa não precisa dar bola para as críticas. As suas vitórias, o seu período de Ferrari, a admiração da torcida italiana e dos ingleses que seguem a Williams, e o respeito conquistado junto a todos os pilotos e dirigentes da Fórmula-1 mostram que, apesar dos números, o brasileiro foi um dos grandes do seu período.
*ZHESPORTES