Segundo esporte em audiência de TV nos Estados Unidos, perdendo apenas para o futebol americano, a Nascar começa a ver pilotos brasileiros entre os seus principais nomes. Entre eles, um gaúcho.
Aos 29 anos, Miguel Paludo está entre os 10 primeiros colocados na Nascar Camping World Truck Series - espécie de divisão de acesso da famosa National Association for Stock Car Auto Racing (Nascar) e cuja modalidade é disputada com picapes que atingem até 300km/h.
Na noite desta sexta-feira (a partir das 21h30min, horário de Brasília, com transmissão ao vivo pelo canal Fox Sports), Paludo correrá a WinStar World Casino 350, no circuito Texas Motor Speedway, em Fort Worth, cidade vizinha a Dallas. No treino desta quinta, ele ficou em segundo lugar. Nelsinho Piquet terminou em primeiro. O grid será definido nesta sexta.
De Nova Prata (ou New Silver, como o gaúcho pediu para constar em suas informações pessoais junto à Nascar), na Serra, para a Carolina do Norte (o berço da Nascar), onde vive atualmente, Miguel Paludo colecionou títulos nacionais até desembarcar nos EUA. Está em sua segunda temporada na Nascar. No primeiro ano, recebeu três prêmios da entidade, todos pelo maior número de ultrapassagens em provas. O gaúcho corre pela Turner Motorsports e dirige um Chevrolet Silverado. Tem um patrocinador de peso, a Duroline - empresa brasileira que fabrica componentes para freios e que tem um braço americano - e contrato até o final desta temporada. Na mesma categoria e na mesma equipe está outro brasileiro: Nelsinho Piquet. O filho do irreverente tricampeão da Fórmula-1 ocupa a sétima colocação no campeonato da Truck Series.
Campeão no Brasil pilotando kart, Corsa, Clio e Porsche, Miguel resolveu dar um "peitaço" em 2010. Fez as malas e, com a mulher, Patrícia, foi para os EUA. Patrícia, recém-formada psicóloga e com consultório novinho em Porto Alegre, precisou deixar a carreira de lado para acompanhar o marido.
Deu certo. Graças ao engenheiro de automobilismo da equipe Toyota, o brasileiro Laerte Zatta, Miguel conseguiu bons contatos e assinou com a Germain Racing, passando a correr provas regionais. Em 2011, nova equipe e nova categoria: a Turner o colocou na Truck Series.
- Comecei a correr de kart, aos 14 anos. Agora, estou aqui. É um sonho. Quando iniciei no automobilismo, jamais poderia imaginar que em tão pouco tempo teria oportunidade de uma carreira profissional, ainda mais em uma divisão da Nascar - recorda Paludo. - Patrícia fez um grande sacrifício por nós, deixamos uma vida confortável no Rio Grande do Sul para arriscar um novo começo - acrescenta.Nascido meses antes de o seu Grêmio conquistar o Mundial contra o Hamburgo, Miguel deixou de acompanhar o time diariamente. Informa-se sobre o clube do coração por meio do irmão mais velho, Daniel, que também administra a empresa de insumos de borracha da dupla, em São Leopoldo. Do Estado, a referência está na placa de pit stop: a bandeira verde, vermelha e amarela.
- Sei que o Grêmio pode ser campeão da Copa Sul-Americana - conta, em meio a gargalhadas.
Em nome do filho
Foto: Cia Stock Photo/RFI
O piloto do carro número 32 já é reconhecido entre os fãs da Nascar. Ganhou a torcida ao liderar boa parte da prova na lendária pista de Daytona. As regras da entidade permitem o livre acesso dos torcedores aos boxes, principalmente durante os treinos, e determinam às estrelas que deem atenção aos fãs e à imprensa, o que facilita o contato. E os americanos admiram os pilotos brasileiros. A cada corrida, Miguel Paludo dá centenas de autógrafos.
A sua popularidade na Nascar provocou uma aproximação com a ADA (Associação Americana de Combate ao Diabetes). Miguel convive com a doença há sete anos. Engajou-se de vez na causa quando o filho, Oliver, de um ano e três meses, nascido nos Estados Unidos, foi diagnosticado diabético no começo de 2012.
Para a prova de hoje, o carro vermelho de Paludo foi pintado em azul. A cor faz parte da campanha da ADA pelo Dia Mundial do Diabetes, uma ação pela conscientização para a luta contra a enfermidade.
- Busco sempre me envolver nestas campanhas, e com certeza o Dia Mundial do Diabetes ajudará a despertar maior atenção do público e da mídia para o tema - afirma o piloto gaúcho. - Esta pintura especial é muito importante para mim, pois sou diabético e pai de uma criança com diabetes.
Se para uma pessoa comum o diabetes é uma doença que exige controle diário, para um piloto de corridas os cuidados são ainda maiores. Miguel coleta sangue (retirando uma gota do dedo) a cada duas horas:
- Faço o controle cerca de oito vezes por dia. Em dia de corrida, então, fico calculando quantas horas ficarei no carro. Tomo a injeção de insulina e tento consumir a alimentação correta antes da prova. Se eu conseguir manter os níveis sem alterações, não tem problema. Nunca me senti mal.
Devido ao seu ativismo, Miguel Paludo recebeu nessa temporada o título de Blue Circle Champion, uma indicação da Federação Internacional do Diabetes para atletas de alto rendimento que têm a doença. Foi o primeiro sul-americano a receber a distinção.
Classificação
A três provas do final do campeonato, Paludo ainda poderá ficar entre os cinco primeiros colocados. Hoje, é o décimo. Devido à tragédia que atingiu a costa leste do EUA, com o furacão Sandy, antes da corrida de Fort Worth haverá um minuto de silêncio, a fim de homenagear as vítimas. As duas últimas provas do ano serão Phoenix e Miami, nos dias 9 e 16 deste mês.
A classificação da Truck Series:
1º) J. Buescher (EUA), 716
2º) T. Dillon (EUA), 695
3º) T. Peters (EUA), 691
4º) P. Kligerman (EUA), 680
5º) J. Coulter (EUA), 670
6º) M. Crafton (EUA), 664
7º) N. Piquet Jr. (BRA), 626
8º) J. Lofton (EUA), 618
9º) J. Sauter (EUA), 573
10º) M. Paludo (BRA), 568