Na companhia de dois estudantes interessados em conhecer as possibilidades de carreira para graduados em Ciências Sociais, o caderno Vestibular visitou a Procuradoria Regional da República da 4ª Região (PRR4), em Porto Alegre, para uma conversa com a antropóloga Miriam Chagas, que trabalha na PRR4, e a universitária Fabiane Crescencio, que faz estágio no órgão.
No encontro de mais de duas horas, Tiago Xavier do Pinho, 17 anos, e José Wesley de Castilhos Borges, 18 anos, falaram sobre o curso, o mercado e a importância das Ciências Sociais na atualidade.
Confira os principais assuntos discutidos
O curso
A graduação prepara profissionais com conhecimento crítico sobre a realidade social, política, econômica e cultural, buscando uma compreensão aprofundada de dinâmicas e processos de constituição dessa realidade.
O licenciado pode dar aula nos ensinos Fundamental e Médio. O bacharel é habilitado a atuar com pesquisa em Sociologia, Antropologia e Ciência Política, podendo desenvolver atividades de coordenação, planejamento, assessoria e execução de tarefas ligadas a pesquisas na área social, em instituições públicas e privadas.
Estágios
De acordo com Fabiane, estagiária na PRR4 e aluna do 9º semestre da UFRGS, não há muitas opções de estágio em Ciências Sociais em comparação com outros cursos, e a academia tem mais oportunidades:
- Vejo que, nos últimos anos, há mais empresas se abrindo para pesquisas. Mas as bolsas de extensão e de iniciação científica ainda têm maior oferta.
Perfil do aluno
O estudante deve ter vocação para a pesquisa, pois ela faz parte do trabalho mesmo fora da universidade. As saídas de campo, quando se visita uma comunidade, são fundamentais. A rotina se baseia em estudos prévios, coleta de informações in loco e reflexão sobre os dados coletados.
Presença no MPF
A presença de graduados em Ciências Sociais na PRR4, um órgão do Ministério Público Federal (MPF), chamou a atenção dos estudantes. Segundo a antropóloga Miriam Chagas, a presença de cientistas sociais na procuradoria tem o objetivo de zelar por direitos culturais e socioambientais:
- Na Constituição de 1988, estabeleceu-se que o Brasil é um estado pluriétnico, e foi atribuída ao MPF a função de defender a sociedade democrática. Antes, se buscava uma integração artificial, mas no estado democrático de direito deve-se respeitar a diversidade. No MPF, o cientista social trabalha na promoção dos direitos, tendo um papel reparatório para grupos que tiveram prejuízos sociais, como indígenas e quilombolas, por exemplo.
Função das Ciências Sociais
De acordo com Miriam, o cientista social vê a realidade naquilo que dá sustentação à sociedade. A perspectiva dele é evitar que a diversidade seja colocada debaixo do tapete. Ele tem o papel de abarcar a memória daquilo que constitui a sociedade brasileira. Para a antropóloga, as Ciências Sociais são um caminho para pensarmos as formas de organização social e suas transformações:
- Observo a capacidade humana para transformar. As Ciências Sociais resgatam valores da vida em sociedade, mostram que existem várias possibilidades de ser humano.
Mercado
Segundo Miriam, o mercado para os cientistas sociais está em construção:
- Acredito que vivemos um momento de expansão, na medida em que a sociedade percebe a necessidade das Ciências Sociais, do direito à diversidade.