As famílias que dependem da Escola Estadual Tuiuti, em Gravataí, estão passando trabalho nestas férias escolares. É que pais foram surpreendidos ao tentar matricular os filhos na escola e descobrir que não existem turmas disponíveis para o 3º e 4º anos do Ensino Fundamental.
A escola foi reformada recentemente, e a promessa da Secretaria Estadual da Educação (Seduc) era retomar o atendimento conforme o período anterior às interdições que causaram redução de turmas entre 2018 e 2022. Entretanto, a pasta vem apenas abrindo turmas gradualmente para quem já está na instituição.
Ou seja, a cada ano que o aluno avança, uma nova turma é criada. Isso impossibilita que famílias da região possam retornar os filhos ao local ou manter todos as crianças da família na mesma escola.
Atualmente, a Tuiuti tem turmas abertas em todas as demais séries, do 1º ano do Fundamental ao 3º do Ensino Médio. As turmas de 1º e 2º anos foram autorizadas para abertura em 2024. Apenas o 3º e 4º anos seguem indisponíveis.
Com mais de 80 anos, a Tuiuti é referência para a comunidade do bairro Bonsucesso e arredores. Ser aluno da instituição pública costuma passar de geração em geração. Por isso, pais esperam que as turmas sejam disponibilizadas da mesma maneira que antes das reformas. Mas os problemas são constantes, como o fechamento da biblioteca, que atrapalha alunos há quatro anos.
A bombeira civil Marília Silva dos Santos, 41 anos, tem dois filhos que já estudam na Tuiuti. Agora, precisa de uma vaga no 3º ano para o filho de oito anos. Ela recorda que, durante os problemas estruturais que a escola enfrentou, chegou a fazer parte do grupo de pais que ocupou a instituição, em 2019.
— Meu filho lembra disso e hoje reclama que fez parte da ocupação e não pode usar a escola — cita a mãe.
Com as reformas da Tuiuti entregues em agosto do ano passado, o espaço para receber alunos não é mais uma limitação. A escola chegou a ter mais de 1,6 mil alunos em condições normais, mas os problemas estruturais e interdições derrubaram esse contingente para 600 estudantes. O número subiu para 800 ao longo do ano passado.
Após a entrega das obras, a diretora Geovana Affeltd chegou a projetar uma expectativa de receber até mil alunos em 2024. O número, entretanto, ainda parece distante, mesmo com dezenas de pais procurando a escola, garante a diretora. Segundo Geovana, como os pais tentar fazer a matrícula e não encontram a Tuiuti como opção, buscam diretamente na instituição um auxílio.
— Estamos no meio das férias de verão e tem pais entrando em contato comigo sempre. A escola está reformada, os pais sabem que tem salas disponíveis. O que precisa é a Seduc liberar professores — conta Geovana.
Indignação dos pais com falta de turmas
Marília, que espera vaga para o filho, ressalta o mesmo sentimento citado pela diretora e manifestado pelos pais: a indignação por saber que a escola está pronta para receber os estudantes, mas não o faz.
— É um absurdo, temos espaço na escola. Eles não podem decidir por nós onde é o melhor lugar para colocarmos nossos filhos. Além da questão de termos que levar os filhos em escolas diferentes, prejudica a rotina dos pais — reclama Marília.
Segundo a mãe, ela teria recebido uma informação de que as vagas estariam abertas. Mas ao tentar fazer a matrícula online no sistema da Seduc, não encontrou a Tuiuti como opção.
— Liguei novamente para a central de matrículas e disseram que não iam abrir mais as turmas — diz Marília.
Conforme a diretora Geovana, a escola está formando uma lista de pais que querem as vagas para o 3º e 4º anos. Isso porque o site da Seduc não permite manifestar interesse na escola, assim não há como a secretaria saber se há ou não demanda para aquela instituição. São abertas para opção apenas as escolas com vagas.
A diretora da Tuiuti ainda cita que o problema também se estende ao 9º ano e ao Ensino Médio, onde foram requisitadas mais turmas, mas a solicitação não foi atendida:
— Neste caso, seriam turmas adicionais que também tivemos pedidos da comunidade para matricular os estudantes.
Seduc nega demanda, mas vai avaliar situação
Em nota enviada a GZH, a Seduc diz que "após a reinauguração do espaço e a obra concluída, as turmas estão sendo reabertas gradualmente a partir do 1º e 2º ano". Ou seja, a ideia da pasta é abrir as turmas conforme os alunos já matriculados avancem.
A pasta segue dizendo que, "entretanto, apesar de não existir, até o momento, uma demanda de alunos nestas séries específicas", mas tendo em vista as transferências realizadas em razão dos problemas da escola e no decorrer da reforma, "será realizado um estudo técnico para verificar se há, na região, a necessidade da reabertura destas séries ainda em 2024".
Porém, a pasta não deu qualquer prazo para que isso ocorra. O período de pré-matrícula, quando os pais devem manifestar o interesse nas escolas através do site da Seduc, se estendia até 17 de janeiro.
O drama da Tuiuti
- A escalada de problemas da Tuiuti começou no final de 2018. O forro de uma sala de aula desabou e causou a interdição da sala. Logo, o prédio todo foi condenado.
- Depois da interdição do primeiro prédio, engenheiros do Estado vistoriaram a escola e determinaram que as aulas poderiam continuar somente se o forro fosse retirado.
- Feito isso, o problema passou a ser suportar o calor intenso nos locais, além da falta de isolamento acústico.
- Nos dias de chuva, o excesso de goteiras gerou situações como estudantes tendo de abrir guarda-chuvas dentro das salas de aula.
- A situação seguiu até 2019, quando pais ocuparam o local em razão da falta de obras no prédio interditado. Como resposta, o governo interditou todos os quatro locais com salas de aula em novembro.
- Com isso, o final daquele ano letivo teve aulas ministradas em locais como refeitório e a sala dos professores. Até os salões de um CTG e de uma igreja próxima foram cedidos para que as crianças pudessem estudar.
- As reformas chegaram a começar em 2022, mas foram paralisados. Em fevereiro de 2023, GZH mostrou que razão da paralisação foram pedidos de aditivos contratuais por parte da empresa responsável pela obra.
- Com a interdição dos prédios, o número de alunos da escola foi reduzindo ao longo dos anos, o que gerou incômodo para pais e responsáveis na região.
- A escola oferece turmas desde o Ensino Fundamental até o curso técnico em Logística no pós-Ensino Médio, em três turnos de funcionamento.
- Ela ocupa um terreno de 1,5 hectare e possui quatro prédios de salas de aula e um administrativo, além de refeitório, salão de festas, uma quadra coberta e duas descobertas.
- Com a reforma, entregue em agosto passado, a promessa era de que o número de vagas voltaria a ser ampliado.
- Em 2023, foi aberta uma nova turma de séries iniciais e o mesmo deveria ocorrer no Ensino Médio, que tem o maior público na instituição.