Depois de seis dias de ocupação, pais e alunos decidiram, na noite desta segunda-feira (24), deixar as dependências da Escola Estadual de Ensino Médio Tuiuti, localizada na Vila Bonsucesso, em Gravataí. Eles passaram quase uma semana na escola com objetivo de pressionar a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) a realizar a reforma do pavilhão onde o forro desabou no ano passado, mas receberam a informação de que os trabalhos iniciarão na terça (25). Caso o trabalho não inicie, eles retornarão para instituição, impedindo a entrada de professores e a continuação das aulas. O fechamento da biblioteca, na semana passada, foi a gota d'água para que pais e alunos tomassem a atitude.
— Estamos cansados de esperar, vemos a luta dos professores e da direção e a falta de respostas. Nos prometeram as obras no pavilhão 4, onde ocorriam as aulas do Ensino Fundamental e não tem mais forro, mas não incluíram no cronograma a situação da biblioteca e do bar, que também está fechado — relata a mãe Marília Silva dos Santos, 37 anos.
Desde fevereiro, a escola também vinha sofrendo com a falta de professores, outra pedido feito por pais e alunos. Os docentes solicitados para as disciplinas de sociologia e língua espanhola foram encaminhados na última sexta-feira (21) e já estão trabalhando. A Seduc informou que, em relação à biblioteca, o que acontece é o remanejamento dos professores para a regência em sala de aula, motivo pelo qual os professores foram efetivados em suas funções no Estado. "Importante esclarecer que na ampla maioria das Escolas há vice-diretores nos turnos de funcionamento das escolas, monitores que acompanham a movimentação dos alunos, além do próprio professor que pode acompanhar os alunos nas pesquisas à biblioteca".
O histórico do problema
Em 2016, a escola foi uma das contempladas com a verba de R$ 120 mil oriunda do financiamento do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD). O projeto foi encaminhado, mas a obra nunca saiu do papel. Em 2018, as condições estruturais do prédio pioraram. De acordo com a diretora Geovana Rosa Affeldt, 40 anos, chegando ao ponto de crianças e funcionários levarem choques nos interruptores das salas e das câmeras de segurança queimarem.
— No final daquele mesmo ano (2018), uma professora me chamou e mostrou o forro do nosso último prédio, estava abaloado. Imediatamente, pedi que retirassem as crianças e transferissem para outras salas. No dia seguinte, o forro desabou. Com o fato, a Seduc liberou uma verba para obra emergencial, mas, mais adiante, foi observado um erro no projeto e foi necessária uma readequação. É esta obra que estão prometendo iniciar amanhã (terça) — explicou a Geovana, à frente da direção há quatro anos.
Os organizadores do movimento ainda pedem que seja realizada uma avaliação completa na estrutura dos outros três pavilhões que abrigam as salas de aulas e, que atendem, diariamente, nos três turnos, pouco mais de 1,2 mil estudantes. Também solicitam reuniões semanais com a CRE/Seduc para acompanhamento das necessidades mais urgentes da instituição.
A Seduc disse que foram destinados R$ 155.911,30 para a realização dos reparos. O valor de R$ 45 mil já foi liberado. O prazo total da reforma, do início até a entrega, é de até 90 dias.
"Para os governos, educação é despesa e não investimento"
Durante quase uma semana, alunos e pais levaram colchões, lençóis, travesseiros, comida, panelas e passaram a morar dentro da escola. Professores ficaram no portão de entrada, desempenhando algumas tarefas. O casal Marilia Santos e Paulo Garcia, pais de cinco filhos, sendo três estudantes da Tuiuti, praticamente abriu mão do trabalho e da casa para abraçar a causa. Ao lado deles, ainda estiveram outras famílias.
— Tem a verba disponível e tem muita burocracia para uma obra que é emergencial — opina o aluno do 9º ano Henrique Julião, 15 anos, que esteve nestes dias acompanhado da mãe, a autônoma Dênia Fortes, de 53 anos.
— Nós temos que pensar nos pequenos, que são os mais prejudicados — completa Victor Melo, 17 anos, do 1º ano do Ensino Médio.
Professores com mais de duas décadas de atuação da Escola Tuiuti, Stela Maris de Oliveira, 49 anos, e Sérgio Cunha, 60 anos, lamentam a degradação do educandário e criticam o sistema de pouco apoio à educação.
— Minhas filhas se formaram aqui, é difícil ver a situação. Mesmo que o Estado não ajudasse, vínhamos tentando manter (a instituição). Sempre fomos uma referência escolar e, desta forma, além de não manter a qualidade, temos alunos desanimados, desmotivados com a situação — conta Stela.
— Estamos vivendo um tempo de ataque à educação, pois no entendimento dos governos estadual e federal educação é despesa, e não investimento. Vivemos um movimento inverso — declara Cunha.
Na manhã de terça, um grupo participa de reunião com a Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia, na Assembleia Legislativa.