O desempenho dos estudantes em Matemática e em Leitura nos países ricos durante a pandemia teve a maior queda da história no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês). Os resultados do exame, que avalia alunos de 15 anos, foram divulgados nesta terça-feira (5). Já com notas muito baixas ao longo de todas as edições do Pisa, o Brasil piorou o seu resultado, mas, ainda assim, conseguiu subir algumas posições no ranking.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), responsável pela prova, considerou a queda mundial como "sem precedentes" e "dramática". O diretor de Educação e Habilidades do Pisa, Andreas Schleicher, avaliou que o Brasil foi um dos países "sortudos", onde o desempenho não foi tão prejudicado na crise sanitária.
Segundo resultados, um em cada quatro adolescentes de 15 anos dos países mais ricos tem baixo desempenho nas áreas avaliadas. Isso significa que eles têm dificuldades para fazer tarefas como aplicar operações matemáticas básicas ou interpretar textos simples. Eles também não conseguem fazer contas com porcentagens ou distinguir fatos de opiniões.
Os dados revelam a demanda de estratégias de recomposição de aprendizagem e acompanhamento de alunos nos sistemas educacionais. Além de lacunas de conteúdo, especialistas alertam sobre desafios provenientes do uso da tecnologia. Pesam ainda questões socioemocionais para uma geração que teve parte de seu desenvolvimento na quarentena, com efeitos na saúde mental de crianças e jovens.
Em Matemática, a diferença entre a prova feita em 2018 e a do ano passado foi de 15 pontos a menos nos países ricos, o equivalente aos alunos terem perdido três quartos de um ano escolar. O desempenho foi pior entre os estudantes de todos os perfis socioeconômicos.
O Pisa não tem escala máxima ou mínima de pontos. As nações são divididas em uma média de aproximadamente 500 pontos, com desvio-padrão de 100 pontos.
Três áreas de avaliação
O Pisa tem questões de três áreas: Matemática, Leitura e Ciência. Apenas em Ciência as notas se mantiveram parecidas com as de 2018. Cada ano, o exame é focado em uma disciplina, o que significa ter mais questões e mais análises dessa área. Desta vez, o foco foi Matemática.
As médias dos países da OCDE foram 472 em Matemática, 476 em Leitura e 485, em Ciência. A Finlândia, que já esteve no topo do ranking do Pisa, teve queda de 23 pontos em Matemática, mas se manteve entre as 20 primeiras colocações. Alemanha, Noruega e Estados Unidos tiveram quedas de 25, 33 e 13 pontos nas notas.
O exame, que seria realizado em 2021, foi adiado por causa do fechamento das escolas na pandemia. Quase 700 mil alunos em 81 países participaram da avaliação, entre os que fazem parte da OCDE e nações convidadas.
Segundo a OCDE, o fechamento das escolas "impulsionou uma conversão global para a aprendizagem remota, aumentando os desafios a longo prazo que já haviam surgido, como o uso da tecnologia nas salas de aula". O Pisa discute também, por exemplo, efeitos no desempenho dos jovens causado pela distração com o uso do celular.
Resultados do Pisa no Brasil
Os estudantes brasileiros ficaram com nota 379 em Matemática, na 65º lugar do ranking, atrás de Colômbia e Cazaquistão. Em Leitura, foram 410 pontos e a 52º colocação, desta vez na frente dos mesmos dois países. Em Ciência, o Brasil aparece em 61º, abaixo da Argentina e do Peru, e com 403 pontos.
Em 2018, as notas tinham sido 384, 413 e 404, respectivamente, o que foi considerado como "estabilidade" para a OCDE. O fato de o Brasil ter a maioria de seus alunos nos níveis mais baixos de desempenho pode ter feito com que a nota geral não caísse tanto. Isso ocorreu mesmo depois de o Brasil ter mais dias com escolas fechadas por causa da covid.
Em média, os estudantes de países da OCDE encararam 101 dias com ensino remoto na pandemia. No Brasil, essa quarentena durou 253 dias.
Melhores notas
Apenas 1% dos estudantes brasileiros consegue chegar às notas mais altas em Matemática, o que significa que eles encontram as melhores estratégias para resolver problemas matemáticos usando um conhecimento não explícito na questão. Em Cingapura, 41% dos alunos estão nesses níveis; em Taiwan, 32%. A média em países da OCDE é de 9%.
As questões de Matemática do Pisa pedem atividades como cálculos aritméticos, resolver equações, deduções lógicas a partir de suposições matemáticas, extrair informações matemáticas de tabelas e gráficos, análise de dados. Muitas se referem a práticas do cotidiano como preparar comida, fazer compras, organizar finanças pessoais.