Em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, merendeiras usam as próprias mãos para transformar alimentos em esculturas com formas divertidas, como brinquedos e animais. Assim, o que começou como uma brincadeira virou um instrumento poderoso para estimular as crianças a terem uma alimentação mais saudável. Frutas e verduras viram corujas, ursos, borboletas, carros e até super-heróis.
O trabalho das merendeiras também ganhou homenagem dos Correios. Marilea Terezinha Beck e Deisiane Bastos dos Santos foram convidadas pela empresa para o lançamento de um selo especial em homenagem à profissão, que ocorreu na Feira do Livro de Porto Alegre.
A iniciativa é de Marilea, que teve a ideia de esculpir os alimentos para tornar a merenda um momento lúdico para os pequenos. Ela utiliza somente duas ferramentas: uma faca, para cortar os legumes e frutas, e sua criatividade. As esculturas ficam ao lado das saladas no buffet onde os alunos servem as refeições, para estimular que comam alimentos variados.
— Trabalho com o que tem. Praticamente todos os dias invento alguma coisinha para chamar a atenção deles na hora em que vão se servir, para sair da rotina de sempre. São pequenos detalhes, mas fazem toda a diferença — diz a profissional, que conta com a ajuda de duas colegas na escola.
Batizado de “O amor é o tempero”, o projeto tem rendido bons resultados desde que começou, no início de 2023. Os mais de 500 estudantes da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) João Baptista Jaeger, no bairro Santo Afonso, estão ingerindo mais alimentos saudáveis, e contam com incentivos para experimentar novos sabores. Segundo a merendeira, não tem mais aquela história de “não provei e não quero provar”.
Marilea aprendeu a fazer as esculturas sozinha. O trabalho faz tanto sucesso entre os alunos que agora eles até cobram quando não tem "decoração" na comida. Para além da alimentação balanceada, a iniciativa proporcionou uma redução no desperdício de alimentos na instituição, segundo o diretor da escola, Marco Antônio Viana Filho:
— Além de ser um atrativo visual e um momento lúdico para as crianças, estamos reduzindo o desperdício. Notoriamente aumentamos o consumo de frutas e verduras e reduzimos o desperdício, e essa iniciativa certamente contribuiu com isso.
Escola vira referência para outras instituições
O projeto da Emef João Baptista Jaeger já virou exemplo para outras escolas. No mês passado, 36 merendeiras de diferentes instituições da rede municipal de Novo Hamburgo participaram de uma formação com Marilea, com orientação de nutricionistas do município, para que possam conduzir trabalhos semelhantes em suas escolas.
— Queremos dar visibilidade a todas as nossas merendeiras. Essa foi a primeira formação, mas queremos realizar outras no ano que vem. Tudo isso tem interação com o pedagógico, a alimentação faz parte do processo de aprendizagem na escola. Eles que servem o prato, cuidam para não desperdiçar comida, o respeito com o outro. A intencionalidade pedagógica está presente em todos os momentos — afirma a secretária de Educação de Novo Hamburgo, Maristela Guasselli.
Para valorizar o trabalho das merendeiras, a prefeitura do município também lançou um concurso. Ocorrerá neste mês a primeira edição do SuperChef da Alimentação Escolar. Uma comissão julgadora escolheu cinco receitas finalistas para a última etapa do certame, que será no dia 21 de novembro, quando os pratos serão preparados, ao vivo, de forma simultânea. Marilea é uma das finalistas na competição, que tem a proposta de fomentar novas receitas e cardápios com alimentos in natura para as escolas da rede municipal de Novo Hamburgo.