Este domingo, 15 de outubro, marca uma data especial quando o assunto é educação: o Dia do Professor. Para prestar uma homenagem aos docentes, GZH reuniu histórias e depoimentos inspiradores de professores cujas trajetórias foram atravessadas por um mesmo fio condutor: a vontade de transformar a vida dos alunos e da comunidade em que estão inseridos.
A professora Cristiane Pelisolli Cabral, de Porto Alegre, fez da robótica um instrumento pedagógico poderoso, trazendo oportunidades e prêmios internacionais para alunos da Vila Mapa desde 2007.
— Eu digo que sou uma apostadora. Eu sempre aposto em tudo na vida deles, que são capazes, que podem ir mais longe, eu acredito nisso. E me orgulho muito, é muito prazeroso ver a transformação dos alunos e até das próprias famílias, que precisam se adaptar a essa nova rotina. É a transformação da comunidade, como um todo. Quando começa, é utópico, mas depois a gente vê que é possível — diz a professora Cristiane Cabral.
É com isso em mente que ela coordena o projeto de robótica na Escola Municipal de Ensino Fundamental Heitor Villa Lobos, na Lomba do Pinheiro.
Ela lidera o grupo desde o surgimento da iniciativa na escola. A professora adotou a robótica para a vida, como instrumento pedagógico capaz de potencializar o processo de aprendizagem das crianças e abrir portas. Ela se apaixonou tanto pelo assunto que fez mestrado e doutorado na área, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E seu trabalho vem rendendo frutos.
Desde então, os jovens já conquistaram 40 medalhas e 30 troféus em competições dentro e fora do Brasil. Na escola, eles têm uma estante só para guardar os prêmios, além de murais com fotos de momentos marcantes e eventos que os alunos participaram. Uma das vitórias mais recentes foi em abril deste ano, em uma competição do First Lego League World Festival (FLL), em Houston.
Quando os pequenos retornaram da aventura nos Estados Unidos, com as malas e troféus, foram recebidos no bairro com muita festa, com direito a um caminhão do Corpo de Bombeiros. Comemorando, os moradores da comunidade buzinavam, aplaudiam e gritavam “a Mapa é rica”, referindo-se à Vila Mapa, que é um dos bairros de renda familiar mais baixa de Porto Alegre.
— O trabalho de robótica aqui na escola tem um papel introdutório, por estarmos neste contexto de periferia. E de mostrar novas possibilidades. O nosso trabalho é baseado em olhar para essa comunidade e pensar em soluções. Muitas vezes, a comunidade aparece nos meios de comunicação por conta de problema. Falta de água, falta de luz, falta de muita coisa. Então, uma comunidade poder se olhar e dizer que é rica é algo muito significativo — celebra Cristiane.
Pequenos entram para a equipe
Até o ano passado, a equipe de robótica já havia conquistado várias oportunidades e vencido torneios em âmbito nacional e internacional. Em 2023, o grupo cresceu ainda mais: agora, os pequenos também podem participar. A iniciativa foi expandida para os anos iniciais do Ensino Fundamental. Com isso, estudantes a partir do 1º ano também podem participar do projeto.
— Antes, a gente focava nos anos finais, a partir do 5º ano, mas vimos que é necessário iniciar o quanto antes. Chamamos de oficinas de robótica, mas, na verdade, eles aprendem sobre mecânica e física. Eles aprendem e brincam ao mesmo tempo, usando peças grandes, como rampas e engrenagens, para entender princípios básicos de movimento e aceleração, por exemplo. E assim vamos construindo o interesse deles — conta a professora.
Atualmente, são 120 alunos nas oficinas de robótica, sendo que a atividade não é obrigatória e acontece no contraturno. Já o grupo batizado de “Lobóticos”, que desenvolve os projetos para participar de mostras e desafios, conta com 15 estudantes – só entram para a equipe aqueles com melhor desempenho. Com a ampliação do time, Cristiane espera fomentar o interesse por ciência e tecnologia desde cedo.
Para Lara, 11 anos, os Lobóticos são como uma família.
— Eu mudei muito desde que entrei no grupo, aprendi a trabalhar melhor em equipe. Teve um campeonato que os mais velhos ganharam, até nem fui eu que ganhei, e mesmo assim, chorei de emoção e orgulho. A equipe é de todo mundo, não preciso ganhar para ficar feliz. E eu sou parte desse time e me sinto feliz por mais uma vitória. É muito bom estar com eles — conta.
Muito além da tecnologia
Em abril deste ano, os estudantes representaram o Brasil no evento nos EUA, sendo que a Heitor Villa Lobos foi a única escola pública do país a participar em 2023. O grupo formado por Nathállya Gonçalves, Sury da Silva, Gabrieli Welter, Lara Hoffmann, Matheus da Rocha e Vitor Machado venceu a categoria “Melhor Modelo de Solução” com uma maquete automatizada.
Eles construíram uma proposta de espaço de lazer e entretenimento para a comunidade da Vila Mapa, com direito a brinquedos movidos a energia renovável, temática deste ano do FLL. Edições da RoboCup na Holanda, no México e no Canadá estão entre as competições que os estudantes ganharam.
O projeto com as crianças é baseado na educação STEAM, que une estratégias pedagógicas da ciência, da tecnologia, da engenharia, das artes e da matemática. Mas, de acordo com a professora, o aprendizado e os impactos vão muito além disso.
— Quando eles entram para o grupo, todo mundo fica surpreso com a mudança de comportamento. Eles aprendem a se expressar melhor, a se organizarem. Eles são como diamantes brutos, o professor tem todo um trabalho por trás para lapidá-los, prepará-los. Mas quando chega a hora da apresentação, eu solto e deixo eles por conta própria. A gente trabalha com autonomia — explica Cristiane, orgulhosa.
Vidas dedicadas à Educação
Para prestar homenagem aos docentes, GZH reuniu depoimentos sobre o papel do professor na transformação da vida dos estudantes e das comunidades em que estão inseridos. Outra história compartilhada é a da professora Schana Andréia da Silva que passou a lecionar para despertar o interesse de adolescentes pela ciência.
Os leitores também conhecerão a trajetória do professor Miguel Fernando Schultze, de Canoas, que contribui amplamente para a integração de adultos na comunidade escolar, aliando esportes e acolhimento no processo de aprendizagem.