A integração de jovens e adultos na comunidade escolar é a meta de vida de Miguel Fernando Schultze. Aliando esportes e acolhimento, o educador de Canoas transforma o processo de aprendizagem e muda a realidade de centenas de pessoas. Essa é uma das histórias inspiradoras que GZH conta para celebrar o Dia dos Professores neste domingo, 15 de outubro, destacando homens e mulheres que fazem do conhecimento uma ferramenta de transformação social.
— Quando o aluno adulto busca a escola, é como se fosse uma brasa. Basta um carinho e um assopro para a chama se acender e voltar a ter vida. Esse estímulo é necessário — diz o professor de Educação Física sobre a Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Foi assim que ele se aproximou de Glaiton da Silva Ramos, 48 anos. Antes de entrar na escola em Canoas, o segurança morava na rua e não sabia ler nem escrever. Mas ele tinha o sonho de se especializar em conserto de computadores e abrir uma loja. Glaiton cumpria um papel importante na comunidade – ele era responsável por vigiar as pessoas em uma parada de ônibus ao saírem da igreja, no bairro Guajuviras.
Com a ajuda dos moradores, ele foi atrás de atendimento na prefeitura e foi encaminhado à Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Erna Würth. Na primeira vez, não deu certo. Glaiton vivia na rua, em condições precárias, e não conseguiu frequentar a escola com assiduidade. Na segunda vez, após ter sido acolhido por familiares e ganhar um lar, o estudante foi até o fim – ele concluiu o Ensino Fundamental em julho, depois de mais de dois anos de aulas, e ganhou não só o diploma, mas também uma medalha de “Aluno nota 10”.
Glaiton segue trabalhando como segurança, mas seu plano para o futuro é trabalhar com computadores:
— Agora, eu quero fazer o Ensino Médio e um curso técnico. Meu sonho é abrir uma eletrônica de computadores, para trabalhar consertando máquinas e depois poder ensinar os outros, como o professor Miguel me ensinou. Uma coisa que eu digo para quem é mais velho e está fora da escola é que venham estudar. Pode parecer difícil, mas vale muito a pena — relata.
Aulas, esporte e acolhimento
Além de ser um dos responsáveis pela alfabetização de Glaiton, que começou do zero, o professor Miguel ajudou o estudante a descobrir um talento: o basquete. O “aluno nota 10” também é bom de bola, mesmo tendo um problema de movimento na mão esquerda. Ele nunca tinha jogado basquete antes, mas a escola despertou seu interesse e ele descobriu que é muito bom nos arremessos com a mão direita e chegou a vencer várias partidas contra colegas e contra o professor.
Assim, o esporte serviu como motivação para levar os estudos adiante.
— A partir do momento em que o aluno passa pelo portão da escola, precisamos o acolher de todas as formas possíveis, fazer com que se sinta bem. Tem vezes que eles estão precisando de comida, tem vezes que o esporte pode fazer a diferença. Temos que fazer um trabalho de formiguinha, conquistá-los aos poucos — ressalta Miguel.
E deu certo: além de aprender, Glaiton ganhou um amigo.
— A escola mudou totalmente a minha vida. O pessoal aqui da escola me ajudou muito. O Miguel está de parabéns, ele teve confiança em mim. Ele virou mais do que um amigo. Pra mim ele é um irmão — conta.
Inspiração
Miguel trabalha na Emef Erna Würth há 16 anos, com uma longa trajetória na modalidade EJA e também na educação infantil. Além da escola em Canoas, ele também dá aulas em Porto Alegre na Emef Wenceslau Fontoura, no bairro Mario Quintana, e na Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) da Vila Max Geiss, no bairro Rubem Berta.
Depois de entrar no curso de Engenharia Mecânica na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ele percebeu que estava no lugar errado – sua verdadeira paixão era a educação. Com uma família de educadores servindo como inspiração, incluindo seu pai e sua irmã, Miguel decidiu cursar Licenciatura Plena em Educação Física na UFRGS. Não se arrepende da escolha.
Para o professor, para educar pessoas fora da idade regular, é preciso entender sua história e agregar o que elas já trazem em suas vivências.
— O principal é trabalharmos para extrair as aptidões e a bagagem que elas já trazem da vida e potencializar isso no ambiente escolar. Com o Glaiton, fomos muito nessa linha, vimos que ele tinha muita facilidade com a música, então exploramos isso para a alfabetização — explica.
Vidas dedicadas à educação
Para prestar homenagem aos docentes, GZH reuniu depoimentos sobre o papel do professor na transformação da vida dos estudantes e das comunidades em que estão inseridos. Outra história compartilhada é a da professora Schana Andréia da Silva que passou a lecionar para despertar o interesse de adolescentes pela ciência.
Os leitores também conhecerão a trajetória da professora Cristiane Pelisolli Cabral, de Porto Alegre, que fez da robótica um instrumento pedagógico poderoso na Vila Mapa.