Para facilitar o acesso a informações que possibilitem a criação de negócios de impacto social — ou seja, iniciativas que solucionem problemas e gerem trabalho e renda — a Fundação Gerações, de Porto Alegre, tem promovido as Caravanas DUXtec. Nos encontros, empreendedores de diferentes níveis de experiência participam de um workshop e podem aprender sobre como criar soluções para problemas que existem nos lugares onde moram.
— A oficina promove, dentre outras experiências, um exercício de escuta. Os participantes são convidados a refletir sobre "quais problemas podem ser identificados na comunidade?", "quais são as dores?", "onde enxergam possibilidades de negócio?". É um exercício de criatividade e de trabalho coletivo — explica a coordenadora-geral da Fundação Gerações, Karine Ruy.
Os encontros já foram realizados na Restinga, em parceria com a Associação Empreendedoras da Restinga, e no Morro da Cruz, em parceria com o Hub Formô. O próximo workshop ocorre na sexta-feira, 22 de setembro, das 9h às 12h, no Centro de Educação Ambiental da Bom Jesus (CEA - Rua T, 143, no bairro Bom Jesus, em Porto Alegre).
Desafios
A administradora Leila da Silveira Teixeira, 44 anos, moradora do Morro da Cruz, no bairro São José, é dona de casa e futura empreendedora. Ela foi uma das participantes do workshop realizado no Morro da Cruz. Leila conta que soube do evento através da divulgação do Hub Formô.
— Meu interesse em participar surgiu porque eu preciso ter uma renda mensal. Quero estar mais atuante no comércio da minha comunidade. Os exemplos práticos que a Caravana trouxe mostraram que é possível ter um serviço de qualidade no lugar em que vivemos — destaca a moradora.
Para a diarista e artesã Lisandra Santos, 43 anos, também moradora do Morro da Cruz, a participação no evento significou a possibilidade de ter um incentivo financeiro inicial. Para ela, o empreendedor tem, dentre outros desafios, o de concorrer com grandes empresas, que já atuam no mercado há bastante tempo:
— A população costuma julgar nosso produto como amador porque ele não está ligado a uma marca já consolidada no mercado. Não faz sentido. Porque há muita qualidade em tudo que é feito.
Exemplos práticos que inspiram
Aline Medeiros, moradora do bairro Itú Sabará, em Porto Alegre, é uma das palestrantes no workshop. Administradora, guia de turismo e mentora de empreendedorismo, ela trabalha na Vivendo de Trilha, empresa que promove experiências turísticas na Capital e no interior do RS. Para ela, é essencial que exista um programa que vá até as comunidades para inspirar e ajudar a resolver questões estruturais que existem há bastante tempo. Além disso, o empreendedorismo se apresenta como uma possibilidade de transformação de indivíduos, famílias e comunidades:
— A ausência de rede de apoio é uma barreira significativa. Porém, entendo que essa barreira pode ser superada com ampliações de acesso da população a movimentos como este que estamos fazendo aqui.
Articulador periférico e morador do Morro da Cruz, Michel Rafael Machado do Couto foi o facilitador para que a atividade ocorresse na comunidade do bairro São José. O articulador percebe que as caravanas cumprem o objetivo de descentralizar as qualificações. Para ele, é essencial que o empreendedor consiga ter acesso a informações de uma maneira clara e facilitada.
— A maior dificuldade de empreender é ter a orientação certa. Acabamos dando muitas voltas para trilhar um caminho curto — destaca.
O programa das Caravanas DUXtec é composto por mais três etapas além do workshop: conexão com o ecossistema de inovação da Capital, a partir de visitas guiadas; mentorias para os grupos de empreendedores lapidarem suas propostas; e seleção dos projetos/empreendedores para a próxima edição do DUXtec.
Negócio de impacto social: saiba como identificá-lo
Mas como saber diferenciar um negócio de impacto social de um negócio tradicional? De acordo com o professor Pedro de Almeida Costa, que atua no Núcleo de Estudos em Gestão Alternativa, da Escola de Administração da UFRGS, os negócios de impacto social (NIS) possuem como objetivo o enfrentamento de uma questão socioeconômica, ambiental, de gênero etc., assim como as organizações da sociedade civil (OSC) geralmente conhecidas como ONGs.
Porém, a principal diferença, afirma o professor, está na necessidade que esse tipo de negócio tem de gerar renda. Além disso, os negócios de impacto social são diferentes das empresas tradicionais, em que o objetivo central é econômico, de rentabilização do capital investido.
— Como o centro do negócio de impacto social é o enfrentamento a um problema, a sua dimensão financeira, de sustentabilidade econômica, é uma condição para existência, mas não a sua finalidade.
Ainda de acordo com o professor, esse tipo de negócio precisa ser mais incentivado, tanto financeiramente, quanto do ponto de vista da divulgação e da qualificação de possíveis iniciativas sociais que já existem.
PARTICIPE
- O quê: Workshop sobre empreendedorismo de impacto social
- Quando: 22 de setembro, das 9h às 12h
- Onde: Centro de Educação Ambiental da Bom Jesus (CEA). Rua T, 143, no bairro Bom Jesus, em Porto Alegre
- Mais informações e inscrições: coordenacao@fundacaogeracoes.org.br