Uma pesquisa divulgada nesta terça-feira (11) aponta que o Ensino Médio Técnico aumenta a empregabilidade e a renda daqueles que o frequentaram, o que poderia culminar em uma ampliação de até 2,32% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. O estudo sobre os potenciais efeitos macroeconômicos com a expansão dessa modalidade foi elaborado por economistas ligados ao Itaú Educação e Trabalho.
A projeção feita pelos pesquisadores procurou verificar quais seriam os efeitos, caso o acesso ao Ensino Médio Técnico — o que abrange a modalidade integrada ou concomitante à etapa — triplicasse no Brasil. Entre as constatações, está a de que profissionais que frequentaram esse tipo de estudo ganham, em média, 32% a mais do que os que foram alunos do Ensino Médio tradicional. O desemprego entre esses egressos também é menor, de 7,2%, contra 10,2% no formato regular.
O estudo identificou, ainda, o potencial do investimento em Ensino Médio Técnico para diminuir a desigualdade salarial. Foi tomado como base o Índice de Gini, que aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. Triplicando o acesso da Educação Profissional e Tecnológica (EPT), o indicador, que vai de zero a um, poderia cair de 0,58 para 0,55. Quando mais próximo do zero, maior é a igualdade.
Luiza Guimarães, 19 anos, terminou o Ensino Médio sem certeza sobre o que gostaria de fazer na faculdade. Optou, então, por ingressar em um curso técnico em Publicidade na Escola Técnica Estadual Irmão Pedro, em Porto Alegre.
— O curso tinha duração de um ano, o que é muito mais rápido do que uma graduação. Quando uma amiga mandou a divulgação desse curso e eu vi que ele era, inclusive, gratuito, achei que era interessante e poderia me dar algumas noções, para eu saber se queria seguir nessa faculdade — conta a jovem.
Durante as aulas, sentiu que aprendeu muito sobre a prática da profissão de publicitária, e teve contato com o mercado de trabalho. Uma das atividades realizadas foi a organização de um festival com profissionais da área, muitos deles egressos da escola Irmão Pedro. Luiza conta que o evento terminou com um colega seu já contratado como estagiário de uma agência, e que ela própria, hoje, já faz estágio na área, que lhe deu a certeza de que quer seguir nesse campo de atuação.
— Já estou matriculada em uma faculdade de Publicidade e Propaganda, graças ao curso técnico. Amadureci muito nesse ano, pessoal e profissionalmente. Sempre me considerei criativa, gosto de arte e sinto que essa é uma área que envolve muito isso — observa Luiza.
Análise com modelos matemáticos
Segundo Vitor Fancio, um dos pesquisadores responsáveis, a projeção teve como base três pilares: o impacto no PIB, na desigualdade e o quanto os gastos com a ampliação das vagas renderiam um retorno econômico. Para isso, foram criados modelos matemáticos e analisados dados do Centro Paula Souza, de São Paulo, que oferece ensino profissionalizante e tem, hoje, uma média de cinco vezes candidatos por vaga, o que representaria uma chance de ingresso de 20%. A pesquisa verifica quais os desdobramentos caso essa chance subisse para 40% e para 60%.
— Quando a gente duplica a probabilidade de acesso, encontramos um aumento no PIB de 1,34%. Se triplicamos, o aumento é de 2,32%. Isso acontece porque, no Ensino Médio Técnico, os jovens aprendem novas habilidades relacionadas ao mercado de trabalho, então têm um ganho de produtividade que impacta no PIB — relata o economista.
Nesse modelo, os estudiosos constataram, ainda, uma expansão no percentual de pessoas com Ensino Superior, o que indicaria que o jovem que cursa a EPT tem um incentivo maior para ingressar em uma graduação depois da formação. A ampliação geraria, consequentemente, um aumento no nível educacional da força de trabalho média brasileira, o que estimularia a redução da desigualdade salarial.
Esse jovem, se você der oportunidade, vai se desenvolver, mas é preciso pensar numa política na qual o resultado desse desenvolvimento seja uma inclusão produtiva digna de qualidade no mundo do trabalho, num trabalho formal, com uma boa remuneração.
CARLA CHIAMARELI
Gerente de gestão do conhecimento do Itaú Educação e Trabalho
No cenário onde a oferta de vagas triplica, no entanto, o gasto público não é três vezes maior. Pelo contrário – o aumento no custo é pequeno, passando de 1,18%, em relação ao PIB, para 1,35%.
Realidade gaúcha
Carla Chiamareli, gerente de gestão do conhecimento do Itaú Educação e Trabalho, ressalta que, ao pensar uma política de expansão da EPT, é necessário entender como aquele aluno que está ingressando na modalidade chega.
— Quando o aluno vem do Ensino Fundamental, é preciso fazer um diagnóstico para ver como que ele está em relação ao português e a matemática, se é preciso fazer um nivelamento que ele consiga acompanhar o curso técnico da melhor forma e pensar qual é essa educação técnica, o que também vai requerer uma série de ações intersetoriais que extrapolam o campo da educação e se relacionam com a Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Econômico — pontua a gerente.
Os cursos oferecidos, no entendimento de Carla, devem estar alinhados aos potenciais econômicos da região e com o plano de desenvolvimento estadual. Por isso, é importante que ocorra uma aproximação com o setor produtivo.
— Esse jovem, se você der oportunidade, vai se desenvolver, mas é preciso pensar numa política na qual o resultado desse desenvolvimento seja uma inclusão produtiva digna de qualidade no mundo do trabalho, num trabalho formal, com uma boa remuneração — salienta a profissional.
Carla aponta que o Rio Grande do Sul tem número melhores do que os nacionais no que se refere à inclusão de jovens no mundo do trabalho, e que já está em um movimento de ampliação da EPT.
— A secretária estadual de Educação, Raquel Teixeira, criou um plano decenal (que abrange um período de dez anos) para a Educação Técnica, que está sendo implementado neste ano e já tem projeção de crescimento para os próximos 10 anos. Acho que é um ponto muito positivo para o Rio Grande do Sul, que permite monitorar o alcance e a qualidade do que você está projetando — afirma a gerente.
Hoje, a concentração maior de matrículas na EPT gaúcha é no modelo subsequente, ou seja, após a conclusão do Ensino Médio. Para Carla, há um potencial de ampliação da oferta da modalidade integrada ou concomitante à etapa, a fim de que ele se forme na Educação Básica mais preparado para seguir seus estudos ou acessar o mundo do trabalho em um patamar já mais alto.