A professora Maria Gabriela Souza e quatro ex-alunas da Escola Municipal de Ensino Fundamental Saint Hilaire, da Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre, viajaram neste sábado (3) para a Espanha. Elas participarão do South Summit Madrid, onde terão a oportunidade de compartilhar experiências sobre o projeto criado pelo coletivo Garotas de Vermelho, que busca mais conscientização sobre a pobreza menstrual.
A expressão utilizada para se referir à falta de estrutura de higiene, saneamento, recursos e informação para meninas e mulheres e atinge comunidades em vulnerabilidade social. Para abordar a temática e auxiliar quem passa por esse tipo de dificuldade, o grupo criou um kit educativo com itens como absorventes sustentáveis feitos de tecido, bolsinha térmica para cólicas e até um livro infantil escrito e ilustrado pelas meninas com uma história educativa, intitulado "De onde é esse sangue, Joana?".
O projeto foi premiado no Desafio Liga Jovem, do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em São Paulo, em março. Como premiação, terão a viagem para Madrid custeada pela instituição. Elas ficam na cidade até 11 de junho. As alunas, que cursaram o 9º ano da escola Saint Hilaire em 2022, são Gabriela Padilha dos Santos, Jullia Justo Bueno e Ketellem Gomes, de 15 anos, e Nathalia Dias Caminha, de 16.
Falta de apoio
A escola tinha a expectativa de enviar mais cinco meninas e um menino, também alunos, para a viagem, além da diretora. Segundo a professora Maria Gabriela, coordenadora do projeto, a possibilidade surgiu a partir de uma ideia da prefeitura de Porto Alegre, que teria se oferecido para arcar com as despesas. Porém, nesta semana, chegou o comunicado de que a Secretaria de Educação do município não apoiaria mais a viagem. Com isso, o grupo da viagem foi reduzido. O Garotas de Vermelho é composto, no total, por 20 meninas e seis meninos.
— Ficamos muito tristes com a notícia de que a prefeitura não iria mais apoiar, pois a comunidade escolar fez um esforço imenso para que as meninas fossem. Corremos para conseguir dinheiro para os passaportes, para a documentação, para conseguir organizar as famílias. Entretanto, tenho certeza que o grupo será bem representado e que será uma experiência maravilhosa — comenta a professora.
Ainda conforme Maria Gabriela, o dinheiro arrecadado na vaquinha criada para também apoiar os alunos que ficaram impossibilitados de viajar será utilizado para outras ações do projeto.
A prefeitura de Porto Alegre alega que não pode apoiar os alunos porque não teria como justificar legalmente a alta despesa. O custo, conforme a Secretaria de Educação, seria maior “que o orçamento anual de toda a escola”. Veja a nota completa na íntegra abaixo.
O projeto
O kit criado pelo coletivo Garotas de Vermelho é vendido a R$ 100. O preço ajuda a pagar a mão de obra das costureiras e o material. O valor é convertido em doação a meninas que não têm condições. O kit conta com dois absorventes de tecido, uma bolsa térmica de sementes para alívio das cólicas, uma necessaire, o livro escrito pelas próprias alunas do coletivo, um folheto informativo sobre menstruação, artesanato das mulheres empreendedoras da comunidade, um broche e uma fitinha do projeto.
Veja a nota da prefeitura de Porto Alegre
A Secretaria Municipal de Educação se orgulha muito do trabalho realizado pelo coletivo "Garotas de Vermelho", da Escola Municipal Saint Hilaire. Nossa gestão apoia a causa da Educação Menstrual e da criação de políticas de equidade e inclusão. Além disso, a visão de empreendedorismo social, torna o projeto ainda mais incrível. Justamente por apoiarmos, provemos o financiamento de todos os custos de logística para que o coletivo fosse duas vezes a São Paulo, somente neste primeiro semestre.
Em uma dessas experiências, quatro alunas, acompanhadas pela competente professora Maria Gabriela Pires, foram premiadas no Desafio Liga Jovem, do Sebrae. Por conta disso, elas foram convidadas para receber a premiação em Madri. Entretanto, o convite da organização é restrito ao grupo de quatro meninas com a professora. Os recursos são pagos pelo próprio Sebrae. Por mais que quiséssemos colaborar para atender o pedido da direção de escola de levar mais alunos, não teríamos como justificar esse custo elevado e estaríamos sujeitos a apontamentos jurídicos.
Não é possível estender o benefício para mais alunos, porque caracterizaria como um passeio internacional a um custo mais alto que o orçamento anual de toda a escola. Sem falar, que estaríamos privilegiando um grupo em detrimento de milhares de estudantes das outras 97 escolas da rede municipal de ensino. Recebemos a diretora da escola para prestar todos os esclarecimentos e alinhar as expectativas, para que não haja decepções. A viagem vai acontecer ao grupo premiado e devidamente convidado pela organização do evento. A SMED seguirá apoiando a causa e se esforçando para ampliar o tão necessário projeto com entusiasmo e responsabilidade.