Diante de suspeitas de possíveis ataques a escolas após o atentado ocorrido a uma creche em Blumenau (SC), no dia 5 de abril, foi realizado nesta quinta-feira (20) o Painel RBS Segurança nas escolas: caminhos para a prevenção da violência. Mediado por Cristina Ranzolin, o evento é uma parceria do Grupo RBS com o Hospital Moinhos de Vento e reuniu especialistas para debater o assunto.
Os painelistas focaram suas falas na necessidade de pensar na função da escola na sociedade e na relação dos pais com seus filhos, a fim se evitar situações extremas.
— Uma série de razões fazem com que cheguemos à situação hedionda de alguém entrar em uma escola e cometer um crime contra crianças, mas pode ser uma oportunidade de olharmos para o que acontece dentro desses espaços — pontuou Cris Vieira, doutora em Educação pela PUCRS e criadora da escola de Inteligência Emocional, a Code Inteligência, que foi uma das painelistas.
Uma das mudanças que precisam acontecer nas escolas, para Claudia Rodrigues, doutora em Educação e especializada em Psicologia da Saúde, é a criação de uma cultura de comunicação assertiva.
— Se um professor fala para um aluno “Olha aqui, tirou nota baixa de novo” na frente dos outros, isso causa constrangimento. O professor não está se dando conta de que está sendo agressivo naquele momento. É diferente de ele chamar e dizer “Olha só, o que está acontecendo? Tu não conseguiu tirar a nota que tu pode tirar, que tu tem condições” — exemplifica Claudia.
Dentro da escola, Dagoberto da Costa, tenente-coronel da Brigada Militar com 30 anos de atuação no Policiamento da Capital e sociólogo especializado em Segurança Pública, cita quatro pontos a serem levados em consideração para a ampliação da segurança: a condição das instalações físicas, a existência de um profissional que faça o controle de entrada e saída do prédio, a instalação de vigilância eletrônica e controle das redes sociais dos estudantes.
— Geralmente, quem perpetra algum crime em escola deixa algum sinal, avisa um colega, um amigo, entra em algum grupo de internet e dá algum aviso. Precisamos capacitar as pessoas que estão no ambiente escolar, não só professores e pedagogos, mas porteiros, por exemplo, para detectarem esse tipo de ameaça — analisa o tenente-coronel.
As redes sociais, segundo Pedro Lima, médico psiquiatra do Hospital Moinhos de Vento, são uma peça-chave para entender as transformações sociais da atualidade, uma vez que é nelas que aumentou o discurso de ódio e o radicalismo.
— O nosso cérebro não nasce com os parâmetros sobre o que é aceitável ou não: esses parâmetros se formam através da cultura e da sociedade. As redes sociais potencializam um olhar para quem pensa parecido conosco, o que é terreno fértil para o radicalismo — alerta o psiquiatra.
Para Cris, o desenvolvimento da cultura de uso de aparelhos como celulares e tablets por crianças criou uma fantasia:
— Existe um mito muito comum nas famílias, que muitas vezes dizem “meu filho, que tem dois ou três anos, mexe no celular melhor do que eu”. A gente começa a imaginar que a criança tem tantas habilidades que não necessita mais do olhar e do acompanhamento dos pais, e isso não é verdade. É uma falsa sensação de autonomia, porque autonomia é uma coisa construída. Mais do que nunca se precisa do estar junto, e não simplesmente delegar às tecnologias o nosso papel.
Dagoberto da Costa recomenda que os pais monitorem as redes dos filhos.
— Temos pessoas capacitadas na polícia para monitorar as redes sociais, mas o ideal é que esse monitoramento seja feito pelos pais. As crianças e adolescentes se trancam no quarto para jogar e, enquanto isso, falam com pessoas — observa o tenente-coronel.
O evento foi transmitido ao vivo em vídeo em GZH e no G1 RS. Confira abaixo na integra.