Os quatro cursos de graduação que integram o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da UFRGS emitiram, nesta sexta-feira (17), uma nota criticando o governo Eduardo Leite por não incluir vagas para professores de História, Filosofia e Sociologia no concurso lançado nesta semana para o magistério. A nota, assinada pelos coordenadores dos cursos de graduação do IFCH, é referendada pela direção do Instituto.
No texto, os coordenadores do IFCH destacam que “essas disciplinas fornecem ferramentas para que se reflita criticamente sobre questões como justiça social, igualdade, diversidade, participação política, direitos humanos e cidadania”.
Os coordenadores dos cursos acrescentam que “não é de hoje que preocupa a situação das Ciências Humanas na educação básica do Rio Grande do Sul”.
— Neste momento, mais do que nunca, há essa demanda por professores. Se o governo do Estado tem mesmo o plano de aumentar o número de escolas em tempo integral, como apregoa em entrevistas, a quantidade de professores no Estado hoje não atende à demanda — aponta o coordenador da graduação em Filosofia da UFRGS, Ricardo Crissiuma.
O coordenador do curso de Filosofia também alerta para uma leitura equivocada de que o aprendizado de novas tecnologias exclui o conhecimento de Humanas.
— Se fala muito sobre aulas de tecnologia, e uso das tecnologias em sala de aula. Como vai se debater o impacto da tecnologia na vida em sociedade sem essas disciplinas? E as questões éticas com inteligência artificial? Isso tudo precisa das humanidades. É uma cegueira achar que mesmo o Ensino Técnico não precisa de um olhar das humanidades — avalia Crissiuma.
Na segunda-feira (14), o governo do Estado lançou o primeiro concurso para o magistério dos últimos dez anos, mas deixou de fora vagas para professores de oito disciplinas: História, Sociologia, Ensino Religioso, Filosofia, Arte, Educação Física, Língua Espanhola e Anos Iniciais do Ensino Fundamental (ministrados por pedagogos).
Em entrevista à GZH, o governador Eduardo Leite apontou que o concurso contempla as disciplinas com demanda mais imediatas na rede estadual, neste momento. O governador também disse ter intenção de abrir um segundo concurso público para professor ainda em 2023.
Veja abaixo a Íntegra da nota:
Nós, coordenadores de todos os cursos de Graduação (Políticas Públicas, Filosofia, História e Ciências Sociais) e do Mestrado Profissional em História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da UFRGS, fomos surpreendidos pelo edital da Secretaria Estadual de Educação do Rio Grande do Sul (Seduc) publicado em 14 de março de 2023, ao notarmos que não há previsão de vagas para professores formados em Filosofia, Sociologia e História.
Essas disciplinas fornecem ferramentas para que se reflita criticamente sobre questões como justiça social, igualdade, diversidade, participação política, direitos humanos e cidadania. Além disso, estimulam a capacidade de análise e interpretação de textos e fontes históricas, desenvolvendo habilidades essenciais para que o aluno se situe no mundo em que vive. E para que possa compreender também a dimensão dos seus direitos e responsabilidades compartilhadas socialmente.
Não é de hoje que nos preocupa a situação das Ciências Humanas na educação básica do Rio Grande do Sul. Por meio da criação de diversas disciplinas com práticas pedagógicas pelos nossos departamentos, de nossas sucessivas participações em programas de iniciação à docência (PIBID e Residência Pedagógica) e da instalação de nossos mestrados profissionais, atestamos, nos últimos 10 anos, nosso forte compromisso com a formação de professores para o ensino público do Estado. Um compromisso totalmente ignorado neste primeiro concurso depois de uma década.
Caso haja um interesse recíproco do governo do Estado, no sentido de intensificar a sua interlocução com a Universidade pública e ter alguma abertura para uma compreensão mais precisa da relevância das Ciências Humanas para a formação dos cidadãos gaúchos, colocamo-nos à disposição para um diálogo construtivo com a Seduc.