A cabeça de crianças e jovens é um canhão de ideias e muitas podem ser conferidas na 37ª Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia (Mostratec), a maior do tipo na América Latina, que volta a acontecer presencialmente na Fenac, em Novo Hamburgo, após dois anos de pandemia. A visitação é gratuita e pode ser feita das 13h30min às 21h, até quinta-feira (27).
Quem percorrer os estandes da exposição destinada a projetos de estudantes dos ensinos Infantil, Fundamental, Médio e Técnico verá estudos com as mais variadas finalidades. Precisa ter curiosidade e disposição para se posicionar diante de cada banca para fazer perguntas e ouvir explicações. São cerca de 660 trabalhos.
Entre os mais jovens, há um estudo sobre a vida das formigas que foi além de apontar para a já conhecida existência de uma rainha dos insetos. O projeto é de autoria de estudantes de oito anos, de uma escola de Capela de Santana. Aos visitantes, os alunos fazem o seguinte questionamento:
— Sabia que existe um cemitério nos formigueiros? É para lá que as formigas levam a formiga que já morreu — explicou um deles, garantindo que o corpo de uma formiga leva, em média, três dias para se decompor.
Entre os pré-adolescentes, há um estudo destinado a entender o que se passa na cabeça de psicopatas como o americano Charles Manson. O projeto é de alunas de 13 anos de uma escola de Esteio, que explicam como outra psicopata, a também americana Nancy Hazle, matou os próprios familiares, incluindo os maridos — por isso levou o apelido de Viúva Negra.
Já entre os mais velhos é comum ver projetos com foco social, destinados a resolver problemas da comunidade. Como um protótipo de caminhão equipado com uma balança na caçamba e um GPS para medir a quantidade de lixo retirada de cada região. A autora é Geórgia Andrade, 18 anos, de Sapiranga, aluna do curso Técnico de Eletrônica da Fundação Liberato, em Novo Hamburgo.
— Com os dados armazenados no sistema, conseguimos fazer um monitoramento de como é a coleta de lixo em cada região de uma cidade — conta Geórgia, acrescentando que, assim, é possível otimizar a coleta dos resíduos.
Ela foi orientada pelo professor Marcos Sauer, que acredita que a proposta da jovem pode ter uso efetivo pelo poder público.
— Se há regiões em uma cidade com pouco descarte de lixo, ou é porque os moradores não produzem tanto lixo, ou porque estão descartando de forme incorreta — explica Sauer. — Isso permite a realização de campanhas de conscientização.
Também há pequenas soluções que podem trazer qualidade de vida às pessoas, como a garrafa de água elaborada pela estudante Leandra Vitória dos Santos Castro, 19 anos, de Viamão, que cursa Gestão e Recursos Humanos na escola QI. Ela criou um modelo que emite alarmes para lembrar a hora de se hidratar — para pessoas com deficiência visual, há sinais sonoros, enquanto para deficientes auditivos, o alerta é uma luz que pisca.
A garrafa de água também avalia o perfil da pessoa para calcular a quantidade de líquido que ela precisa ingerir. Além do mais, um termômetro externo consegue medir a temperatura ambiente para ajudar nesse cálculo — em dias quentes, por exemplo, é possível que sejam necessários bem mais do que os muito divulgados dois litros.
Além desse, Leandra quer criar muitos outros projetos com potencial de transformação.
— Quero seguir na Ciência e ajudar as pessoas. Quero criar produtos inclusivos e sustentáveis. Dá para fazer coisas grandiosas com tecnologia de baixo custo — diz a jovem, que estima que, no mercado, a garrafa de água com alarmes pode custar, em média, R$ 120.
Coordenador geral da Mostratec e professor de Física da Fundação Liberato, escola que organiza a feira desde sua fundação, em 1985, Jader Bernardes garante que uma feira como essa dá bases para os estudantes se posicionarem melhor no mundo.
— O aluno que participa de uma feira como a Mostrac não se sai melhor apenas em uma entrevista de emprego, ele se vira melhor em tudo na vida. Eles podem pensar criticamente sobre qualquer assunto, analisar cientificamente um problema social — garante. — Essa troca que temos aqui é muito importante. Esse barulho dos jovens conversando, esse burburinho, nós estávamos com saudade disso.
Em 2020 e 2021, a Mostrac ocorreu de forma virtual. Embora tenha retornado aos pavilhões da Fenac, onde acontece há mais de 10 anos, ainda é possível conferir alguns projetos no site da feira, que segue fazendo transmissões virtuais.